Brasília – O ex-ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou que o presidente da República, Jair Bolsonaro, gostaria de controlar a superintendência da Polícia Federal (PF) do Rio de Janeiro. A declaração consta em depoimento concedido à PF no sábado e que se tornou público hoje.
De acordo com Moro, Bolsonaro pediu, por mensagem, apenas uma superintendência. Na mensagem, segundo o depoimento, constava o seguinte conteúdo: “Moro você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro”.
Moro afirmou ainda que a intenção de indicar Alexandre Ramagem para o comando da PF era “questão de confiança”. A indicação foi barrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, fato que, segundo Moro à PF, mostrou que a Corte “reconheceu o desvio de finalidade” do presidente da República.
O depoimento de Moro foi dado após coletiva do ministro no dia de sua saída, motivada pelo desgaste gerado pelo presidente ao insistir na troca do comando da PF.
ACUSAÇÕES
O ex-ministro negou ainda que tenha acusado Bolsonaro de crime, dizendo que esse juízo caberá às “instituições competentes”.
Moro também afirmou que o presidente não teria pedido relatórios de inteligência e de investigações sigilosas porque sabia que se os tivesse feito nem Moro nem o então diretor-geral da Polícia Federal, Mauricio Valexo, violariam o sigilo das investigações em curso.
Segundo o ex-ministro, em seu pronunciamento após o pedido de demissão, Bolsonaro teria confirmado que poderia substituir diretores e superintendentes da PF, mas não esclareceu os motivos para as substituições.
Além disso, afirmou que em reunião no dia 22 de abril com o Conselho de Ministros, o Bolsonaro já havia solicitado a troca dos superintendentes do Rio de Janeiro e do diretor-geral da PF e manifestado sua insatisfação com a falta de acesso a informações de relatórios da PF.
Moro alegou que o presidente já tinha acesso aos relatórios dentro do que era permitido em lei e que os protocolos de encaminhamento desse tipo de material de inteligência podem ser verificados com a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
Por fim, Moro disponibilizou seu telefone celular para averiguação, por parte da Polícia Federal, de mensagens trocadas entre ele e Bolsonaro e entre ele e a deputada Federal Carla Zambelli. Ele afirmou, entretanto, que mensagens mais antigas teriam sido apagadas por motivos de segurança, já que já teve seu celular hackeado.