São Paulo -O mau humor se instalou no mercado nesta sexta-feira. A Bolsa fechou em queda com o aumento da desconfiança do mercado com o cenário fiscal, depois de ruídos sobre a possibilidade de o Congresso criar resistência com o pacote de corte de gastos do governo. O recuo foi generalizado das ações. Na semana, o índice subiu 0,22%
O principal índice da B3 caiu 1,49%, aos 125.945,67 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro perdeu 1,75%, aos 126.055 pontos. O giro financeiro foi de R$ 23,3 bilhões. Nos Estados Unidos, os índices fecharam mistos.
Alexsandro Nishimura, economista da Nomos, afirmou que o cenário fiscal pesou mais um dia no Ibovespa.
“Especulações de que o Congresso tenha resistência ao projeto de corte de gastos refletiram no Ibovespa. Apesar da pressão exercida pela queda das ações ligadas às commodities, as baixas foram generalizadas dentro da composição do índice”.
Para Vicente Matheus Zuffo, fundador e CIO da Chess Capital, o mau humor é atribuído ao cenário local.
“Aqui, o mercado desistiu de acreditar no esforço fiscal do governo, [estão] precificando juros indo a 15,50%, não tem bolsa que aguente”.
Bruno Komura, analista da Potenza Capital compartilha da mesma opinião de Zuffo. “O mercado teme que o texto do pacote fiscal seja desidratado no Congresso. Há rumores de que a Câmara não deve mexer no Benefício de Prestação Continuada (BPC) e no seguro-desemprego”.
Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, disse que uma economia mais forte nos Estados Unidos e um fiscal aqui mais desafiador pressiona o índice.
“O Brasil descolou do restante do mundo, mas o que está pegando é que se os Estados Unidos mantiverem a economia um pouco mais forte, corte mais lento dos juros, pressiona aqui. O mercado de trabalho lá aquecido, Trump está para assumir a presidência, isso pode similar um cenário mais inflacionário, e ainda estamos em um momento que o mercado não está com muito apetite com o governo doméstico. Qualquer notícia ruim pega”.
Em relação às ações, Lourenço chamou a atenção para algumas ações que têm mostrado mais resiliência como os frigoríficos, algumas exportadoras e a Eletrobras.
“Elas estão conseguindo se manter forte; a Eletrobras (ELET3, +0,02%, mas chegou a subir bem) está se segurando hoje com o mercado mais pesado, depois desse acerto com o governo, o retrato de frigoríficos é mais recente. E, a B3 (B3SA3, +1,53%) está forte, tem correlação boa com o índice. A ação caiu muito, semana passada chegou próxima das mínimas vistas na pandemia”.
Em relação ao relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) de novembro, Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que o payroll não assusta e o Fed deve reduzir a taxa em 0,25 na reunião deste mês.
“Já era esperado um payroll um pouco acima porque no mês anterior teve furacão e greves. A parte mais importante que era crescimento de salários veio em linha. Os dados de outubro foram revisados pra cima, mas não é motivo de alarme para achar que [isso] vai atrapalhar os planos do banco central norte-americano. A abertura [dos dados] é parecida com o resto do ano. Na reunião do dia 18, o corte de juros será de 0,25pp, e em janeiro vai aguardar o começo do governo do Trump”.
Para Jason Vieira, economista do Portal Moneyou, o resultado do payroll “não altera os próximos movimentos de afrouxamento monetário por parte do Federal Reserve [banco central norte-americano, na reunião do dia 18], o qual se mantém cauteloso por conta da inflação]”.
Mais cedo, o payroll de novembro mostrou a abertura de 227 mil vagas, acima do esperado-200 mil vagas. A taxa de desemprego fica em 4,2% em novembro.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em alta de 1,11%, cotado a R$ 6,0758. A moeda refletiu, na segunda parte da sessão, o temor de que o texto do pacote fiscal sofra alterações significativas no Congresso, perdendo efetividade. Na semana, a divisa estadunidense teve valorização de 1,23%.
De acordo com o analista da Potenza Capital Bruno Komura, o movimento de hoje reflete o temor de que o texto do pacote de ajustes fiscais seja desidratado no Congresso: “Existem ruídos de que a Câmara não irá rever o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e o seguro-desemprego”, avalia.
O payroll, opina Komura, acima do esperado não deve alterar o ritmo da política monetária do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês), que deve cortar 0,25 ponto percentual (pp) na próxima semana.
Komura também observa que neste cenário o diferencial de juros brasileiros ficam ainda maiores, já que o Comitê de Política Monetária (Copom) deve elevar a Selic (taxa básica de juros) na próxima semana.
Da mesma forma que o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecham em firme alta, refletindo temor inflacionário do mercado diante do Payroll que foi divulgado nos Estados Unidos, acima do esperado.pelos agentes financeiros.
Por volta das 17h40 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,845% de 11,765% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 14,350%, de 14,190%, o DI para janeiro de 2027 ia a 14,690%, de 14,505%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 14,565% de 14,295% na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo misto, com o Nasdaq e o S&P 500 atingindo novos recordes,após os dados de emprego de novembro superarem ligeiramente as expectativas, mas sem serem tão fortes a ponto de impedir o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de cortar as taxas de juros novamente ainda este mês.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,28%, 44.642,52 pontos
Nasdaq 100: +0,81%, 19.859,8 pontos
S&P 500: +0,24%, 6.090,27 pontos
Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo