Bolsa fecha em alta pelo segundo dia com IPCA e Lula no radar; dólar recua

76
Foto: Wagner Magni / freeimages.com

São Paulo -A Bolsa fechou em alta pelo segundo pregão consecutivo, conseguiu se segurar no patamar dos 128 mil pontos em dia em que a inflação do País mostrou desaceleração. Somado a isso, a saúde do presidente Lula fica no radar dos investidores.

Ontem, o presidente Lula passou mal e foi submetido, às pressas, a uma cirurgia para drenar um hematoma em razão de uma hemorragia intracraniana no cérebro, após dor de cabeça forte e mal-estar. De acordo com a equipe médica, o presidente está bem e deve ficar internado nos próximos dias.

O principal índice da B3 avançou 0,80%, aos 128.228,49 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em dezembro subiu 0,83%, aos 128.470 pontos. O giro financeiro foi de R$ 19 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam em queda.

Armstrong Hashimoto, sócio e operador de renda variável da Venice Investimentos, explicou sobre a saúde do Lula e a reação do mercado. “Se o Lula tiver menor chance de concorrer em 2026 [à presidência], alguns nomes da direita podem tender a ganhar força nas próximas eleições. Isso talvez pudesse indicar ajustes fiscais mais fortes lá na frente”.

Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, comentou que “o IPCA trouxe alívio, mas o mercado estava em níveis muito comprimidos. Na sexta-feira, não teve nenhuma notícia específica para explicar aquele piora”.

Para Lucas Almeida, especialista em mercado de capitais e sócio da AVG Capital, os fatores internos dão o tom positivo para o mercado na sessão de hoje.

“O IPCA de novembro desacelerou na comparação com o mês anterior, e trouxe um alívio momentâneo para o mercado, apesar do acumulado em 12 meses ficar acima da meta (+4,87%), reforçando medidas contracionistas. Embora as negociações fiscais sigam complicadas, acredito que a sinalização de avanços pontuais pode estar reduzindo parte do pessimismo. Durante sabatina [na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado], Nilton David [indicado para diretor de Política Monetária do BC] destacou a necessidade de medidas firmes para controlar a desencorajem das expectativas de inflação, algo que reforça a expectativa de uma postura mais rígida do Copom”.

Mais cedo, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou os dados do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de novembro, +0,39%, desacelerando frente aos +0,56% em outubro. Em 12 meses até novembro, acumula alta de 4,87%.

Em relação ao Copom, Almeida destacou que a elevação da Selic em 1 ponto porcentual (pp) “seria mais assertiva” na decisão de amanhã (12) porque “busca reancorar as expectativas inflacionárias”.

Daiane Gubert, head de assessoria de investimentos da Melver, disse que a inflação oficial do País ajuda a Bolsa operar no positivo.

“A nossa expectativa era +0,38% e veio +0,39%, mas não teve a pressão de outubro (+0,56%). A energia elétrica acabou aliviando essa conta, pressão de carne, serviços de alimentação e recreação. O núcleo de serviços é uma inflação mais difícil de ser controlada, então gera uma preocupação, no entanto ter vindo abaixo de outubro já fez a bolsa ficar verdinha e com altas interessantes”.

Em relação às ações, Daiane destacou o varejo alimentício -Pão de Açúcar e Assai sobem. “O IPCA aliviou um pouco, elas repassam o preço da inflação [com isso alivia a expectativa de consumo] e são mais resilientes que [as empresas de] varejo de roupa. A Petrobras sobe com uma composição de fatores ontem a Ceo [Magda Chambriard] divulgou que a plataforma em Sergipe [para Águas Profundas] pode começar a operar antes de 2030, a questão de exterior com peso do dólar e existe uma faixa apara o barril de petróleo entre US$ 70 a US$ 80 o barril, se ele estoura pra baixo ou pra cima deve ficar atentos, e amanhã é data com [último dia para se posicionar na ação para receber os dividendos]”.

A Petrobras (PETR 3 e PETR4) subiu 0,85% e 0379%. As ações do Pão de Açúcar (PCAR3) e Assaí (ASAI3) avançaram 7,55% e 4,62%. O destaque positivo ficou para Vamos (VAMO3) com alta de 12,07%.

Em relação ao Copom, a head de assessoria de investimentos da Melver disse que o mercado projeta um aumento entre 0,75 pp e 1pp na decisão de amanhã, mas o importante é a unanimidade.

“Se não houver unanimidade, aí o mercado devolve”.

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos informou que a desaceleração do IPCA de novembro ante outubro se deve à mudança na bandeira de energia elétrica e a Black Friday, mas ainda aposta um aumento de 1 ponto porcentual (pp) na Selic, que será divulgada amanhã (11).

“Apesar da desaceleração, os dados continuam sugerindo uma piora na qualidade dos números de inflação, o que seria consistente com uma aceleração da alta de juros do BCB para 0,75 ponto porcentual (pp). No entanto, a piora cambial e a ampliação na desancoragem das expectativas deve levar a uma alta de 1,00pp na Selic amanhã (11) e a um tom hawkish do BCB no comunicado. Por fim, não vejo motivos para alterar os números de inflação agora. Na realidade projetávamos uma alta de 0,39%. Portanto, de forma preliminar, seguimos com altas de 4,93% para o IPCA desse ano e 5,51% para o IPCA de 2025”.

No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,56%, cotado a R$ 6,0472. A tônica da sessão foi a saúde debilitada do presidente Lula, que pode fazer com que ele não concorra è reeleição em 2026. Na manhã desta terça, o chefe do executivo fez uma cirurgia craniana às pressas – o quadro do presidente é estável.

Para o sócio da Ethimos Investimentos Lucas Brigato, existe até mesmo o ruído de que Lula não termine o mandato, sendo então substituído por Geraldo Alckmin: “Vai depender de como isso pode travar a agenda dele”, opinou.

O economista André Perfeito mostra constrangimento: “O mercado reage com otimismo na manhã desta terça-feira com a notícia da operação do presidente Lula para a drenagem de uma hemorragia no cérebro decorrente do acidente que sofreu semanas atrás no Palácio do Alvorada. Fico até sem jeito de falar isso uma vez que se trata da vida de alguém, mas nitidamente a Faria Lima vê com bons olhos essa piora do quadro clínico do presidente”, avalia.

Assim como o dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) aceleram queda, especialmente nos vértices mais longos.

Por volta das 16h50 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 11,960% de 11,925% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 14,365%, de 13,590, o DI para janeiro de 2027 ia a 14,670%, de 15,020%, e o DI para janeiro de 2028 com taxa de 14,505% de 14,895% na mesma comparação.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, com os investidores digerindo o rally de fim de ano que levou os índices a níveis recordes e aguardando novos dados de inflação programados para amanhã.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,35%, 44.247,83 pontos
Nasdaq 100: -0,25%, 19.687,2 pontos
S&P 500: -0,29%, 6.034,91 pontos

Paulo Holland, Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News