São Paulo – A Bolsa fechou em queda, perdeu o patamar dos 124 mil pontos, após a decisão de política monetária do banco central dos Estados Unidos, que apesar de ter vindo em linha com o esperado, o tom foi visto como mais duro por alguns analistas. Os investidores esperam pelo Comitê de Política Monetária (Copom), após o fechamento do mercado.
O Fed manteve a taxa das Fed Funds no intervalo de 4,25% e 4,50% ao ano, com votação unânime, mas mudou a informação em relação à inflação no comunicado, mas na coletiva Jerome Powell foi mais brando ao dizer que não existe pressa em ajustar a política e a meta de inflação de 2% será mantida.
As ações da Vale (VALE3) subiram 0,28% e as da Petrobras (PETR3 e PETR4) perderam 1,00% e 0,61%.
O principal índice da B3 caiu 0,50%, aos 123.432,12 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro operava em queda de 0,68%, aos 123.870 pontos. O giro financeiro foi de R$ 14,8 bilhões. Em Nova York, os índices fecharam no negativo.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, disse que a decisão do Fed “foi bem neutra. Ele [Jerome Powell] tentou não mudar muito as expectativas, até porque o Trump [Donald Trump] começou de forma bem mais lenta do que imaginavam. O mercado vai ficar frustrado se não tiver nenhum corte no semestre. Vamos esperar o Copom”.
Para Bruno Komura, analista da Potenza Capital, o comunicado do Fed foi hawkish, “apesar de não ser surpresa. Já estamos vendo a atividade forte e as medidas do Trump [Donald Trump] tendem a ser inflacionárias, por isso, não acho que teve reação tão negativa do mercado. O Powell também disse que novos cortes não estão condicionados à inflação; ele adotou um tom hawkish no começo, mas logo amenizou”.
Nicolas Borsoi, economista da Nova Futura Investimentos, disse que “o Fed [veio] com tom mais hawkish que o esperado, afirmando que a inflação parou de progredir em direção à meta e que o mercado de trabalho segue apertado. De concreto, o Fed deve pausar o ciclo de juros até o 2T25, pelo menos. Outro ponto relevante, o Fed afirma que a taxa de desemprego estabilizou em nível baixo e que o mercado de trabalho segue sólido”.
Mais cedo, Ubirajara Silva, gestor de renda variável independente, disse que os movimentos do mercado estão estranhos.
“Na parte da manhã estava super forte e agora voltou para o zero a zero. O volume [financeiro] está fraco. A super quarta traz um pouco a mais de emoção, mas acho que o grande medo do mercado é o primeiro Copom do Galípolo [Gabriel Galípolo, presidente do BC]. O Fed está praticamente dado. O mercado está muito short em Brasil, e os ativos estão em níveis técnicos muito perigosos. Se não tiver notícias ruins novas, mercado deve continuar a recuperação”.
Felipe Moura, sócio e analista da Finacap, fez uma análise de cenário para Brasil.
“Estamos em um ponto de inflexão. Ou governo arruma a casa, faz as pazes com o mercado e o empresariado, começa a adotar um discurso mais voltado pra responsabilidade fiscal, com corte de gastos. Com essa postura, poderia acalmar o mercado e dar sobrevida na popularidade com chances para as eleições no que vem ou senão continua nessa toada de deterioração. Nesse cenário, a inflação sobe, juros ficam altos e a popularidade vai corroendo cada vez mais e o mercado precifica a vitória da direita. Isso poderia ter boa performance da bolsa”.
No mercado de câmbio, o dólar comercial fechou em queda de 0,01%, estável, cotado a R$ 5,8671. O dia foi marcado por volatilidade, mas a divisa não ultrapassou a marca dos R$ 5,90.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) manteve inalteradas as taxas entre 4,25% e 4,5% ao ano, mas surpreendeu na referência à inflação, o que fez a moeda subir um pouco. Entretanto, com a coletiva do presidente do Fed, Jerome Powell, se acomodou.
Marcos Weigt, head de tesouraria da Travelex Brasil, disse que “o comunicado [do Fed] foi mais hawkish, mas o Powell desfez isso na conferência. Ele foi na média neutro. A maioria das moedas está operando próximo do zero com pequenas oscilações. O Powell disse que o 4,25% [a txa foi mantida entre a banda de 4,25% e 4,5%] está bem adequado. Eles não têm pressa pra fazer qualquer movimento, e que (como sempre) estão dependentes dos dados, o que vai tornar as divulgações dos números importantes em eventos de volatilidade”.
Mais cedo, o Banco Central fez leilão de linha em que vendeu US$2 bilhões. A operação teve taxa de corte de 5,401000 com data de recompra em 5 de janeiro de 2026.
Para Leonardo Santana, analista da Top Gain, o dia vai ser de volatilidade.
“A gente acreditava na continuidade da queda do dólar no início da manhã, até por conta do leilão de linha do Banco Central porque tem uma enxurrada de dólar na mesa. Mas, observando, a virada que teve foi macro, lá fora também mudou de sinal, o peso mexicano virou. O dólar a R$ 5,880 sempre caracterizava uma boa reversão, pode ser que venha a subir um pouco pela expectativa do Fed, do Copom, mas hoje o movimento é de volatilidade. O mercado fica à espera das falas do Powell [Jerome Powell, presidente do BC]”.
Diferentemente do dólar, as taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam em alta depois do anúncio de o Fed de manter os juros inalterados.
Por volta das 16h45 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 15,175 de 15,135% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,360%, de 15,310%, o DI para janeiro de 2028 ia a 15,220%, de 15,150%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 15,120% de 15,065% na mesma comparação.
No mercado externo, os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão em queda, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve as taxas de juros inalteradas em sua primeira decisão de política monetária do ano. Em contrapartida, a Nvidia recuou após uma sessão forte.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:
Dow Jones: -0,31%, 44.713,52 pontos
Nasdaq 100: -0,51%, 19.632,3 pontos
S&P 500: -0,46%, 6.039,31 pontos
Camila Brunelli e Darlan de Azevedo / Agência Safras News