Por Gustavo Nicoletta
São Paulo – Uma ala de deputados do PSL protocolou ontem um pedido para destituir o atual líder do partido na Câmara, delegado Waldir (PSL-GO), e, no lugar dele, nomear o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente da República. A decisão é o desdobramento mais recente
da crise política dentro do partido do governo.
A turbulência no PSL veio à tona na semana passada, quando o presidente
Jair Bolsonaro apareceu em um vídeo sussurrando no ouvido de um de seus
apoiadores, na saída do Palácio do Alvorada, que ele deveria “esquecer esse
negócio de PSL”. O presidente acrescentou, no mesmo vídeo, que o presidente do partido, Luciano Bivar, estava “queimado”.
O comentário de Bolsonaro fazia referência a investigações de que o PSL
teria desviado dinheiro público que deveria ser empregado para finalidades específicas durante a campanha eleitoral – entre eles o financiamento de campanha de mulheres.
O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, também do PSL, foi acusado recentemente pelo Ministério Público de ter cometido o mesmo crime, mas num caso envolvendo candidaturas do estado de Minas Gerais. Bolsonaro, porém, disse que ainda não vê motivos para removê-lo do cargo.
Dias depois da acusação contra o ministro do Turismo, a Polícia Federal
órgão que está sob tutela do Poder Executivo – lançou uma operação que
tinha como alvo Bivar, para apurar o envolvimento do presidente do partido no caso de desvios de dinheiro público em Pernambuco.
A situação gerou constrangimento dentro do PSL e dividiu os deputados da
sigla, tendo efeitos inclusive sobre o andamento das votações no Congresso.
Na terça-feira, o deputado delegado Waldir, que está na ala pró-Bivar,
chegou a declarar que o PSL estava em obstrução à votação da Medida
Provisória 886, que fazia alterações adicionais na estrutura do governo
federal. A obstrução chegou a ser desmanchada por um dos vice-líderes do
partido e retomada por Waldir, que desautorizou o vice-líder.
Ontem, durante entrevista para anunciar o pedido de troca de liderança, o
líder do governo na Câmara dos Deputados, Vitor Hugo (PSL-GO), mencionou o episódio como uma das justificativas para a remoção de Waldir da liderança do PSL na Câmara.
“Foi uma decisão dos deputados do PSL, em função de todo o tensionamento
que tem acontecido, de posicionamentos do líder anterior do PSL que
contrariavam as orientações do governo, que colocavam em dúvida inclusive a transparência do partido, que atacava membros do partido de maneira desmedida e que, por exemplo, quase colocou em xeque a votação da Medida Provisória 886″, disse.
Segundo a Agência Câmara, Logo após o anúncio, foram apresentados outros dois requerimentos. Um pedindo a permanência de Waldir com 32 assinaturas e um terceiro reafirmando a indicação de Bolsonaro. Pelas regras da Câmara, vale o último requerimento protocolado, desde que as assinaturas de apoio da maioria da bancada sejam confirmadas.