Bolsa despenca com expectativa de inflação e juros altos por mais tempo

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São Paulo, 12 de fevereiro de 2025 – O Ibovespa fechou o pregão desta quarta-feira em forte queda, renovando a mínima para o nível de 124 mil pontos, em dia marcado pela divulgação de indicadores divergentes das expectativas dos agentes do mercado financeiro. A bolsa brasileira foi pressionada por dados de inflação mais fortes do que o esperado nos Estados Unidos e dados do setor de serviços no Brasil abaixo do previsto em dezembro. A ação do Carrefour Brasil foi uma das poucas a subir (+2,67%), após a divulgação de mais detalhes da proposta do controlador de fechar o capital no Brasil.

Nesta quarta-feira, os investidores também acompanharam as falas do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, em evento ocorrido nesta manhã. Ele disse que a Selic (taxa básica de juros) elevada é uma reação preventiva da inflação, fenômeno que é global e não apenas doméstico. Galípolo também mostrou entendimento de que diversos setores da economia “desenvolveram vacinas” contra as taxas elevadas e pontuou que o nível de endividamento das famílias permanece elevado. O mandatário também destacou que o cenário global, em especial as medidas a serem tomadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ainda é muito incerto.

Outro evento que mais uma apresentação do presidente do Fed, Jerome Powell ao Congresso, desta vez na Câmara. O mercado não esperava grandes surpresas em seu discurso, mas manteve a atenção às falas, especialmente no contexto atual de incertezas sobre juros e inflação. O presidente do Fed evitou comentar políticas do governo e disse que ainda não dá para saber como a economia vai evoluir até que as políticas sejam definidas.

No tema das taxações às importações pelo presidente dos EUA, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, defendeu, nesta quarta-feira, o estabelecimento de cotas de isenção para o aço e alumínio enviados para os Estados Unidos. Dessa forma, o Brasil poderia exportar determinada quantidade de aço e alumínio sem pagar a íntegra da taxação.

Alckmin disse ainda que vai procurar as autoridades norte-americanas para negociar os termos da taxação de 25% sobre as importações impostas pelo presidente Donald Trump.

O principal índice da B3 caiu 1,83%, aos 124.197,00 pontos. O Ibovespa futuro com vencimento em fevereiro baixou 1,81%, aos 124.185 pontos. O volume financeiro foi de R$ 9,5 bilhões. Em Nova York, os índices de ações fecharam mistos.

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research destaca que o Indice preços ao Consumidor dos EUA, o CPI, registrou alta de 0,47% em janeiro, acima das expectativas do mercado – pesquisa Reuters esperava +0,30%. No acumulado dos últimos 12 meses, o índice voltou a subir de 2,9% para 3,0%. O núcleo do CPI apresentou uma alta mensal de 0,45% e, nos últimos 12 meses, passou de 3,2% em dezembro para 3,3% em janeiro. “Além dos dados acima do esperado, o qualitativo registrou uma piora. As médias móveis de três e seis meses com ajuste sazonal e anualizadas aceleraram tanto para o índice cheio quanto para o núcleo. Todos superar o patamar de 3,5% e se distanciaram da meta de 2,0%”, comentou o analista.

“Uma boa notícia foi a estabilidade dos preços de aluguéis imputados, conhecidos como OER (Owners Equivalent Rent), componente de maior peso do grupo Habitação – crescendo 0,3% em janeiro, a mesma variação de dezembro. E, no acumulado dos últimos 12 meses, desacelerou de 4,8% para 4,6%.”

Sung aponta que dois pontos importantes são que a revisão dos componentes sazonais não trouxe mudanças significativas até o momento. No entanto, o reajuste de preços foi expressivo no início deste ano, assim como em janeiro de 2024. “Diante dessa aceleração dos preços e incertezas quanto a nova política econômica, o banco central norte-americana deverá manter uma postura mais conservadora em relação à política monetária, esperando a evolução dos próximos dados. Caso não haja grandes choques, acreditamos que a inflação deve desacelerar este ano, possibilitando o Fed cortar juros em 2025”, analisa.

Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a inflação dos Estados Unidos veio acima do esperado: 0,5% contra a projeção de 0,3%, e 3% no acumulado contra os 2,9% projetados, afastando-se da meta de 2%. “O principal fator de pressão foi a inflação de moradias nos Estados Unidos, que subiu 0,4% no mês e está em 4,4% na comparação anual. Esse componente, sozinho, representou cerca de 30% da inflação mensal, o que justifica a preocupação dos formuladores de política monetária americana com os custos de habitação, aluguéis e a escassez de moradias no país.”

“Ainda há um desequilíbrio entre os itens de serviços, que seguem pressionados, e os bens, cujos preços já se estabilizaram após o impacto inicial da pandemia. No primeiro e segundo ano da crise sanitária, houve uma pressão sobre os bens, mas essa tendência arrefeceu com o tempo. Já a inflação de energia era amplamente antecipada, uma vez que os preços internacionais são rapidamente repassados ao consumidor. O petróleo, por exemplo, subiu ao longo do início de 2025, mas recentemente cedeu, o que pode trazer algum alívio em fevereiro”, acrescentou.

Na avaliação de Cruz, o maior desafio, no entanto, segue sendo a habitação. “Enquanto esse índice permanecer acima de 4% no acumulado de 12 meses, será difícil reduzir a inflação para a meta de 2%. Esse cenário deve levar o Banco Central americano a manter uma postura cautelosa, não apenas por questões políticas, mas também devido às pressões inflacionárias internas. O FedWatch indica que o mercado projeta o primeiro corte de juros apenas em julho, o que faz sentido diante do atual nível da inflação.”

O estrategista-chefe da RB Investimentos disse que alguns itens pontuais, como alimentos, chamam a atenção da população americana. “De modo geral, os preços desse segmento têm se mantido estáveis, variando entre 0,3% e 0,4% no mês, mas produtos específicos, como ovos, registraram alta de 1,9%, gerando preocupação. No entanto, os principais desafios inflacionários estão em fatores estruturais menos evidentes.”

“Outro ponto de incerteza para os formuladores de política monetária nos EUA é o impacto das novas diretrizes de imigração propostas por Trump. Nos últimos anos, grande parte dos empregos formais vinha sendo ocupada por imigrantes, e uma eventual redução na disponibilidade de mão de obra pode gerar novas pressões inflacionárias. Além disso, o mercado de trabalho segue aquecido, o que adiciona mais um elemento de preocupação para o controle da inflação”, concluiu Cruz.

Mais cedo, Gustavo Cruz comentou que os dados sobre serviços no Brasil ficaram abaixo da expectativa de crescimento, e a queda de 0,5% em dezembro reforça algumas preocupações no mercado, especialmente porque a produção industrial também mostrou uma desaceleração importante no final do ano. “Isso sugere que a atividade econômica já estaria sendo impactada pelas condições monetárias mais apertadas e que os estímulos dos últimos anos já estariam se esgotando. Isso pode levar mais analistas a revisar para baixo as projeções de crescimento de 2025.”

No entanto, ele acrescenta que, de qualquer forma, como se trata de um dado de dezembro e considerando o crescimento de 3,1% no ano, esse desempenho ficou dentro do esperado. “Afinal, tivemos 2020 com muitas restrições, em 2021 o consumo foi elevado, e em 2022 e 2023 houve um forte impulso no consumo de serviços com as reaberturas. Assim, 2024 era o ano esperado para o reequilíbrio, e de fato foi o que aconteceu. As pessoas voltaram a consumir mais bens, após um foco maior em serviços em 2022 e 2023. O setor de serviços, por sua vez, acabou sentindo um pouco dessa normalização, mas não porque houve uma queda drástica no consumo, apenas porque o crescimento foi desacelerando.”

O analista espera que o setor de serviços como um todo não deve ter um grande desempenho em 2025. “A tendência é que o crescimento siga o padrão de 2024, que, como mencionei, foi um ano de reequilíbrio.”

Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, comenta que os dados da PMS se somam aos da PIM e mostram que a perda de ímpeto da economia no fim de 2024 foi além de uma mera correção do forte desempenho até outubro. “A alta dos serviços às famílias contrabalanceia um pouco a fraqueza da PMS, mas, de maneira geral, os números foram bem fracos. Projetávamos expansão de 0,5% (3,9% a/a) no PIB do 4T24, mas, os dados de dezembro já divulgados sugerem um viés de baixa à projeção. Além disso, o desempenho ruim do PMI de serviços e da confiança dos serviços da FGV em jan/25 sugerem continuidade do momentum da atividade do setor no curto prazo.”

O analista também destaca que o volume de serviços decepcionou (exp. 0,2%), caindo 0,5% (2,4% a/a) em dez/24, com o número de novembro sendo revisado de -0,9% para -1,4% e com outros meses anteriores revistos para baixo. “Apesar disso, os serviços às famílias expandiram 0,8% (2,2% a/a), com a performance negativa sendo puxada por serviços de informação e profissionais. Além disso, a difusão recuou para 53,6 (2,4% a/a). Com isso, o carrego do 4T24 caiu para 0,8% (1,1% no 3T24).”

Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, comenta em boletim matinal que hoje (12), o grande destaque da agenda internacional é a divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI) de janeiro nos EUA, um dos dados econômicos mais relevantes da semana. “O Federal Reserve acompanhará atentamente os números de hoje (12), assim como o índice de preços ao produtor (PPI) que será divulgado amanhã (13), para avaliar a trajetória mais adequada da política monetária nos próximos meses. Entre os componentes do CPI, os preços dos alimentos merecem especial atenção, tanto nos EUA quanto no Brasil, pois representam uma das categorias de maior impacto para o consumidor final”, disse o analista.

Em relação ao Brasil, o analista aponta que o governo tem entre os desafios a guerra comercial iniciada por Donald Trump, com a percepção de que as negociações podem minimizar as perdas para o Brasil, como ocorreu em 2018, e a batalha do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, pela aprovação da lista de 25 projetos prioritários do governo, com avaliação de que “quem tem 25 prioridades, não tem nenhuma”. “Mesmo sem tarifas recíprocas o Brasil impõe mais restrições aos produtos americanos do que o contrário , o déficit na balança comercial com os EUA dá espaço para negociação.”

Em relação às pautas econômicas, ele pontua que “a viabilidade dessas pautas dependerá, em grande parte, de uma reforma ministerial, como indicou o líder do governo no Senado, Jaques Wagner. A necessidade de cortes de gastos se impõe e o governo não pode se contentar com o aumento da economia de R$ 15 bilhões para R$ 20 bilhões no orçamento de 2025. O ajuste fiscal precisará ser mais profundo, o que coloca Lula em uma encruzilhada: aceitar medidas impopulares ou arriscar uma deterioração adicional de credibilidade”, opina.

O dólar comercial fechou em queda de 0,07%, cotado a R$ 5,7627. Na falta de um driver específico, a moeda refletiu o fluxo estrangeiro e a fala do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.

De acordo com o analista da Potenza Capital Bruno Komura, o movimento de hoje é reflexo direto do fluxo estrangeiro.

Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, a fala do presidente do Banco Central (BC) Galípolo foi hawkish (severa, propensa ao aumento dos juros), mostrando preocupação com a escalada da inflação.

Borsoi acredita que nem mesmo o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês), que subiu 0,5% em janeiro (projeção de +0,3%) e 3,0% no acumulado de 12 meses (projeção de +2,9%), foi suficiente para enfraquecer o real.

As taxas dos contratos futuros de Depósitos Interfinanceiros (DIs) fecharam mistas. A sessão foi marcada majoritariamente pelas falas do presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo.

Por volta das 16h39 (horário de Brasília), o DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 14,890% de 14,920% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 15,055%, de 15,040%, o DI para janeiro de 2028 ia a 14,935%, de 14,850%, e o DI para janeiro de 2029 com taxa de 14,900% de 14,815% na mesma comparação. O dólar opera em queda de 0,12%, cotado a R$ 5,7602 para venda.

Os principais índices de ações do mercado dos Estados Unidos fecharam o pregão mistos, depois que os preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) subiram mais do que o esperado em janeiro, aumentando os temores de que a inflação possa reacelerar.

“O CPI mais forte do que o esperado confirma a preocupação dos investidores com uma inflação persistente, que manterá o Fed fora do jogo (sem cortes de juros)”, disse Sameer Samana, estrategista-chefe do Wells Fargo. “Embora os mercados de risco possam continuar subindo, a trajetória será mais volátil do que nos últimos dois anos.”

Confira abaixo a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -0,50%, 44.368,56 pontos

Nasdaq 100: +0,03%, 19.650,0 pontos

S&P 500: -0,27%, 6.051,97 pontos

Paulo Holland e Darlan de Azevedo / Safras News

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