Em ata, Fed avalia impacto das tarifas de Trump sobre inflação

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Foto: Shutterstock

São Paulo – Na reunião de 28 e 29 de janeiro de 2025, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) decidiu, por unanimidade, manter a taxa de juros entre 4,25% e 4,50%. A decisão ocorreu em um contexto de crescente incerteza econômica, impulsionada pelas políticas iniciais da administração do presidente Donald Trump, especialmente em relação às tarifas de importação e à redução de impostos e regulamentações.

Segundo a ata da reunião, divulgada nesta quarta-feira, essas medidas geraram preocupações no banco central dos Estados Unidos, que teme um aumento da inflação devido ao impacto dessas mudanças nas cadeias de suprimentos e no comportamento das empresas.

Os formuladores de políticas monetárias do Fed indicaram que as propostas de Trump poderiam pressionar os preços ao consumidor. De acordo com o comitê, representantes empresariais alertaram que, com a imposição de tarifas de importação, muitas empresas planejam repassar os custos adicionais aos consumidores. Em uma reunião realizada logo após a posse de Trump, no dia 20 de janeiro, os formuladores de políticas já haviam discutido como esse cenário poderia gerar aumentos nos preços e afetar negativamente a inflação.

A ata da reunião de janeiro detalha que, embora o Fed ainda espere uma diminuição nas pressões inflacionárias ao longo do ano, uma série de fatores pode dificultar esse processo. Entre esses fatores, destaca-se a possibilidade de as empresas aumentarem os preços para compensar os custos mais elevados com insumos, decorrentes de tarifas impostas sobre produtos importados. “Contatos comerciais em vários distritos do Fed indicaram que as empresas estão se preparando para repassar aos consumidores os custos mais altos de insumos devido a tarifas potenciais”, afirmou o documento.

Além dos efeitos diretos das tarifas, os membros do Fed também discutiram os riscos de alta para as perspectivas de inflação, que podem ser exacerbados por eventos geopolíticos e mudanças nas políticas comerciais e de imigração de Trump. O comitê expressou preocupação sobre como essas questões poderiam afetar negativamente as cadeias de suprimentos globais e, possivelmente, gerar um aumento nos preços. A expectativa de um consumo doméstico mais forte do que o inicialmente previsto também foi apontada como um fator que poderia pressionar a inflação.

Embora o Fed continue a acreditar que as pressões sobre os preços irão diminuir no médio prazo, os participantes reconheceram que o cenário atual oferece novos desafios. Entre as dificuldades identificadas, estão as expectativas de inflação mais altas, que surgiram em alguns indicadores, o que preocupa ainda mais os formuladores de políticas. As expectativas de inflação são uma preocupação central para o Fed, uma vez que a confiança nas previsões de inflação pode influenciar as decisões de consumo e investimento, impactando diretamente a estabilidade econômica.

Diante desse cenário, o Fomc concluiu que manter a taxa de juros inalterada era a melhor abordagem. O comitê ressaltou que a política monetária atual está “significativamente menos restritiva” do que era antes dos cortes nas taxas de juros, proporcionando tempo suficiente para avaliar as condições econômicas e a evolução da inflação. A maioria dos membros apontou que, embora a política monetária ainda seja considerada restritiva, eles precisariam de mais evidências de progresso no controle da inflação antes de tomar quaisquer medidas adicionais.

A decisão de manter as taxas de juros também reflete uma avaliação cuidadosa da situação do mercado de trabalho. O Fed enfatizou que, desde que a economia se mantenha perto do pleno emprego, o foco deve ser alcançar um progresso adicional na redução da inflação. O banco central reforçou que a meta de inflação de 2% continua sendo um objetivo central e que a política monetária deverá ser ajustada de acordo com a evolução das condições econômicas.

Embora a taxa de juros tenha sido mantida inalterada, o comitê do Fed demonstrou uma postura vigilante, pronta para ajustar a política monetária caso a inflação não mostre sinais claros de queda em direção à meta de 2%. A reunião de janeiro também destacou o risco de uma inflação mais persistente, com a presença de vários fatores internos e externos que podem afetar o equilíbrio entre oferta e demanda, incluindo a incerteza política e econômica resultante das políticas de Trump.

Além disso, os participantes notaram que, embora o cenário atual ainda aponte para uma desaceleração da inflação, o processo de desinflação pode ser mais difícil do que o inicialmente esperado. O comitê também destacou que as expectativas de inflação – um indicador chave para as decisões de política monetária – aumentaram recentemente, o que exigirá maior atenção para evitar pressões adicionais sobre os preços.

Em resumo, o Fed continua a adotar uma abordagem cautelosa, mantendo as taxas de juros inalteradas enquanto observa os efeitos das políticas econômicas do governo Trump sobre a inflação. Embora a expectativa seja de uma desaceleração da inflação, fatores como tarifas comerciais, mudanças nas políticas de imigração e a instabilidade geopolítica apresentam riscos significativos para a economia dos Estados Unidos. O banco central, por enquanto, prioriza a avaliação contínua das condições econômicas antes de realizar qualquer ajuste adicional nas taxas de juros, mantendo o foco na meta de inflação de 2%. Segundo a ata, a abordagem do Fed reflete uma busca por um equilíbrio entre o controle da inflação e o estímulo à recuperação econômica.