O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista hoje mais cedo para o canal ICL Notícias, falou sobre inflação, programas sociais, Reforma Tributária, Orçamento, Selic, e cenário eleitoral de 2026.
Sobre a inflação dos alimentos, Haddad afirmou que o governo planeja fazer planos Safra mais robustos e melhores, para aumentar a produção de alimentos. Já para 2025, ele prevê que a safra deste ano será a maior que o país já teve. “A safra de 2025 será a maior ou uma das maiores que já tivemos”.
Além disso, segundo ele, o ministério da Agricultura vem recuperando áreas degradadas para usar para plantio. “Há áreas degradadas que vêm sendo recuperadas pelo ministério da Agricultura. Tais áreas vão ser destinadas para a produção de alimentos”. Outro detalhe foi a diversificação das áreas de cultivo no país. “Houve mudanças significativas de diversificar as culturas no Brasil. Temos que diversificar as culturas por conta das mudanças climáticas”.
Ele citou que há mais problemas a serem contornados, no quesito inflação de alimentos. “Temos problemas a serem contornados, como secas e manutenção dos juros nos EUA. Com isso, dólar fica mais forte e impacta os preços no Brasil. Com a queda do dólar nos últimos dias, e com a safra no final do mês, preços vão se estabilizar”.
Orçamento
Um dos desafios enfrentados pelo governo é a não aprovação do Orçamento 2025 pelo Congresso Nacional, o que impede a cessão de linhas de crédito para a agricultura mais cedo, o ministrou encaminhou ofício ao Tribunal de Contas da União em busca de respaldo técnico e legal para a imediata retomada das linhas de crédito com recursos equalizados do Plano Safra 24/25.
“O problema é que ainda não foi aprovado o Orçamento 2025. Não queremos que haja descontinuidade na produção de alimentos”. Mas ele elogiou o trabalho do Parlamento. “O Congresso aprovou muitas leis em 2024 que equilibraram as contas públicas. Governo retomou programas sociais, mas temos compromisso com a questão fiscal. O Orçamento pode ser aprovado com equilíbrio nas contas e garantir sustentabilidade na economia e hoje está em condições de ser votado com equilíbrio. Aprovando o Orçamento, vamos ter juros menores com sustentabilidade e sem penalizar a população”.
Questões fiscais
Haddad falou dos seguidos déficits fiscais que o país teve ao longo dos últimos dez anos. “Acredito que há consenso que os 10 anos de déficit fiscal não fizeram bem para a economia brasileira. Os ministros da Fazenda anteriores tiveram déficits históricos e não tiveram pressão para ajustar contas”.
Ele citou a privatização da Eletrobras, em 2022. “Você não consegue vender uma Eletrobras por ano para ‘agradar os amigos’. Se fosse um projeto de privatização para usar recurso para comprar ativos seria diferente”.
Sobre as contas de 2024, Haddad disse que o governo conseguiu fechar o ano anterior com déficit de 0,09%. “Quem imaginava que conseguiríamos fechar o déficit de 2024 com 0,09%? ‘Ah, mas e não fosse o Rio Grande do Sul?’ Lula não deixaria o Rio Grande do Sul embaixo d’água e por isso mandou recursos”.
Ele disse que as críticas sobre gastos de governos progressistas são maiores do que as feitas para governos conservadores. “Há estudos que mostram que se é muito mais rigoroso com governos progressistas do que com conservadores. Existem dois pesos e duas medidas, mas precisamos mostrar que somos capazes de entregar resultados”.
Reforma Tributária
Sobre a Reforma Tributária, ele afirmou que é a ‘mais ambiciosa do Brasil’ e que é transparente, que vai dividir o ônus para todos e manter a arrecadação. “Vamos reequilibrar o jogo em favor da população de baixa renda. O desafio não vai ser isentar do Imposto de Renda [para quem ganha até R$ 5 mil], mas compensar com quem não paga, e vamos chegar no andar de cima”.
Ele continuou a falar sobre a isenção de IR. “Por que buscar justiça tributária é pecado no país mais injusto do mundo em distribuição de renda? Fico perplexo de ver que quem grita mais no Brasil é quem tem mais e que menos contribui. Quem mais paga não grita e não fazendo valer seus direitos. Maior trunfo do terceiro mandato de Lula é buscar justiça tributária. Essa mudança não está sendo valorizada nem no nosso campo, que deveria estar pedindo para a agenda andar”.
Haddad ainda falou sobre o impacto da Reforma Tributária. “Quando a Reforma Tributária entrar em vigor, vamos ter choque de produtividade na economia brasileira. Teremos condições de apresentar padrão de desenvolvimento para o mundo”.
Benefícios sociais
Já sobre os benefícios sociais, como o BPC, o ministro falou que eles têm o objetivo não só de distribuir renda, mas ter prognósticos sociais que levem o dinheiro para quem precisa. “Vamos ter o foco de programas sociais para saber se estão chegando nas pessoas certas. Fazer o recurso chegar a quem precisa, o BPC é o maior programa social da história. Os cadastros do BPC foram desorganizados em 2022 por governo que queria se manter no poder a qualquer custo, com objetivos eleitorais. Se não zelarmos por estes programas, chegará alguém populista para começar a cortá-los. A boa gestão é a garantia da sustentabilidade do programa, e não tem nada a ver com cortes”.
Consignado privado
Haddad falou sobre o projeto de ceder empréstimos consignados para os trabalhadores da iniciativa privada. “Poderemos ter algo inédito no país. Com Selic a 13%, empréstimo tem juro de 5% ao mês, população já está endividada e com risco de inadimplência. Com consignado, juro cai para a metade e vamos dar 90 dias para as pessoas migrarem seus empréstimos para opções mais baratas Independentemente da Selic, vamos fazer bem para a família brasileira com consignados com juros menores”.
Ele defendeu o trabalho do Banco Central e da Selic mais alta, para controlar a inflação, mas que é necessário oferecer mais opções de crédito. “Estamos completando ciclo que começou com consignado do INSS, que também surgiu no governo Lula. Estamos saindo de 10 anos com desorganização e estamos fazendo reformas criativas para dar condições de desenvolvimento”.
Cenários para 2026
Haddad descartou concorrer a cargos públicos em 2026, e vê Lula competitivo para a disputa das eleições presidenciais. “Acredito que Lula vai chegar muito competitivo em 2026 e tem todas as condições de concorrer. Não tenho pretensão em 2026 de concorrer a nenhum cargo”.
A respeito de uma reunião ministerial feita enquanto Haddad estava em viagem pelo Oriente Médio, na qual ministros o teriam criticado para o presidente Lula, Haddad disse não acreditar que isso tenha ocorrido. “Não seria razoável que colega de ministério fizesse isso. Se a crítica a mim foi sobre o Pix, estou bem na foto, foi fake News de um moleque [se referindo a publicações do deputado Nikolas Ferreira sobre o Pix]”
O ministro disse ter pedido para sua assessoria fazer uma avaliação do tempo dispensado, em audiências presenciais no seu gabinete em São Paulo, com o setor financeiro e o produtivo. Ele afirmou ter passado 19% desse tempo com atores do mercado, e 81% com o setor produtivo. “Entendo que precisamos do setor produtivo para a economia se desenvolver. Mas preciso falar com o setor financeiro sobre o consignado privado, o projeto Desenrola e o Plano Safra. Imaginar que vamos prescindir do setor privado é um equívoco, precisamos de mais investimento privado. Isso não significa disputar com o Estado”.
Democracia no mundo sob risco
Por fim, Haddad falou sobre a apresentação da denúncia da Procuradoria Geral da República sobre a investigação da Polícia Federal a respeito da participação do ex-presidente Jair Bolsonaro em um golpe de estado. “Quando se demonstra que as instituições são robustas, isso melhora a percepção dos investidores no mundo. Estamos vivendo riscos democráticos. Desse ponto de vista, o Brasil hoje é um alento; Lula é procurado por chefes de estado para solução de conflitos. Estamos em uma década na qual estão sabotando instituições que levaram séculos para se desenvolver”, concluiu.