Política também é campo de empresários, diz Emerson Kapaz

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Por Gustavo Nicoletta

São Paulo – Emerson Kapaz é um defensor notório da participação dos empresários na política. Ele próprio, que atualmente é diretor da GD Solar e já administrou diretamente a Elka – empresa de brinquedos fundada por seu pai, fez incursões neste universo, primeiro como secretário de Ciência do Estado de São Paulo e depois como deputado federal.

Kapaz também foi um dos puxadores do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE) e criou e presidiu por quase quatro anos o Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), que combate principalmente a pirataria.

Ele deixou o comando do instituto em meio a acusações de que teria participado da chamada “máfia das ambulâncias” – em que deputados foram indiciados por fazer emendas ao orçamento que eram usadas para a compra de ambulâncias superfaturadas. Foi inocentado pela Justiça no ano passado, por falta de provas.

Em entrevista à Agência CMA, ele defende a operação Lava Jato e diz que os empresários precisam participar da política em defesa de projetos amplos e não apenas de mudanças que beneficiem setores específicos.

Também defende que os empresários devem escolher um candidato em períodos eleitorais, mas por causa da agenda de governo, e não pelo candidato em si, e criticou aqueles que atenderam ao pedido do presidente Jair Bolsonaro e deixaram de anunciar nos jornais e redes de televisão que criticam o governo. Veja abaixo a entrevista completa.

AGÊNCIA CMA: Você considera que os empresários estão assumindo uma postura mais ativa na política?

Eu acho que sim, eu acredito que sim, sempre defendi isso. Na verdade nosso movimento no início do PNBE praticamente foi para defender uma postura mais ativa dos empresários na política, porque no fundo de nada adianta ter empresa de sucesso num país em crise. Todo empresário é um cidadão político, não tem jeito. Infelizmente ao longo dos anos a atitude empresarial, das entidades de classe como um todo, não vem correspondendo ao que a gente precisaria.

Você não vê hoje uma Fiesp, uma CNI, representantes do empresariado em geral. se preocupando com projeto de país. Só vê posicionamentos muito pontuais, luta por candidaturas às vezes de A, B, ou C. Quando que vimos empresariado colocar qual é o projeto do país? Não temos isso. A gente fica lutando por candidaturas, mas esquece de que mais do que uma candidatura, a sociedade – em especial os empresários – deveriam compor projeto de país. E qual fosse o candidato que ganhasse eleição, teria que ter esse projeto para executar. Muitas entidades ficam fazendo uma atuação de lobby, você não vê um pensamento por mais.

Não é que não tenha que ter atuação setorial, tem que ter. Mas teria que ter, além das atuações setoriais, uma preocupação estrutural. Por exemplo: discussão de projeto de reforma tributária, de reforma política, Agora foi aprovada a reforma da Previdência, e teve uma atuação empresarial mais ativa no Congresso, felizmente capitaneada ali pelo [presidente da Câmara dos Deputados] Rodrigo Maia.

Eu acho que nós precisamos voltar a olhar com mais carinho para entidades representativas. Temos falência de lideranças do empresariado. Infelizmente deixamos isso meio de lado e as entidades de classe empresarial não têm cumprido um papel nesta discussão de país.

Você olha na agricultura, tem entidades que têm defesa de interesse do agronegócio muito interessante – óbvio limitada ao agronegócio. No caso da indústria, varejo, comércio serviços, se tivéssemos uma união empresarial nacional que pudesse estar acima dos interesses setoriais. A gente tentou começar a fazer isso em 2017 com empresários independentes de entidade de classe e acabou não dando certo. É isso que falta hoje. União empresarial acima de segmentos. Falta união brasileira de empresários.

AGÊNCIA CMA: É saudável para o debate político que empresários se posicionem a favor ou contra alguns políticos específicos, como ocorreu nas eleições do ano passado?

Eu acho que o empresário pode se posicionar politicamente a favor de determinados candidatos, e eu acho que inclusive ele tem que defender abertamente isso sem receios. O problema é que, com medo de lá na frente se posicionar politicamente a favor de um determinado candidato, ele acaba apoiando um, outro e outro e abre-se esse apoio para muitos candidatos com medo de que a empresa dele possa ser prejudicada [caso vença o que o empresário decidiu não apoiar].

AGÊNCIA CMA: No caso do Luciano Hang, por exemplo, o apoio explicito dele ao presidente Jair Bolsonaro. Este é o tipo de apoio que o empresário tem que fazer?

Não sei se é esse. Esse tipo de apoio eu acho que ele não é produtivo porque é muito focado na pessoa. E obviamente que, por trás do apoio do Hang, você tem uma defesa de projeto liberal, combate à corrupção. Tem alguns pressupostos ali que também alguns candidatos defenderiam. É mais importante que as bandeiras sejam defendidas do que as figuras em si. Não é uma personalização. Tem que ser coisa acima de determinado candidato. É mais assim: o que é bom para o país hoje? Lava Jato, por exemplo, é uma tese que todos os empresários tem que estar apoiando.

Combate à corrupção é uma coisa que não, inclusive o Bolsonaro decepcionou nisso. Mesmo ele tendo o Sergio Moro ao lado dele, deixou certa decepção por se complicar com a questão do filho, ficar colocando questões que impediam o avanço da Lava Jato. Na prisão em segunda instância manteve cetra neutralidade.

AGÊNCIA CMA: Os empresários que atenderam ao pedido do presidente Jair Bolsonaro e deixaram de anunciar em determinados jornais contribuem para amadurecer o debate político?

Isso é péssimo. No fundo, o que o presidente está querendo é usar a força do poder econômico a favor dele, contra a imprensa – que tem obrigação de publicar o que ela bem entender. Os empresários têm a liberdade de colocarem recursos nos veículos que quiserem. Isso não tem nada a ver, isso é uma tentativa de boicote à imprensa muito prejudicial.

AGÊNCIA CMA: Você mencionou a Lava Jato. Ainda acha que empresários tem que apoiar a operação mesmo depois do vazamento do áudio das conversas entre procuradores e o então juiz Sergio Moro?

É um erro imaginar que eventualmente o Sergio Moro tenha em alguns motivos saído um pouco do que se imaginava que seria a postura dele como juiz. Imaginar que isso deva prejudicar a Lava Jato. Tínhamos o maior esquema de corrupção da história do país, talvez do mundo, instalado dentro do governo. Era um esquema de corrupção bilionário, estruturado, sistêmico. Como você acha que se poderia romper com essa barreira sem que tivesse alguma articulação, mínima que fosse – não defendendo nada ilegal – entre o posicionamento do juiz, dos procuradores? E no fundo nós acabamos recuperando bilhões de reais com essa operação. Não foram milhões, foram bilhões, comprovando que existia um esquema de corrupção estruturado.

Agora você imagina, que: ‘ah não, agora tenho que fazer tudo certinho, não tenho condição de fugir de nada porque senão… isso eu não posso’.

Não. Não havia jeito. Tem que apoiar sim, fortemente, e também colocar claramente que houve algum exagero em determinadas ações. Você jogar por água abaixo toda a Lava Jato? Pelo amor de Deus, isso ai é um erro estratégico.

AGÊNCIA CMA: Você recentemente tentou se tornar o candidato a prefeito de São Paulo pelo Partido Novo. Houve algum motivo específico para escolher este partido?

É o único partido que eu consigo me identificar hoje. Não recebe recursos públicos de campanha. Isso já o credencia para ser um partido muito mais isento do que qualquer outro e com capacidade de defesa dos seus valores de forma muito tranquila. Eu, desde 2017, através de uma primeira conversa com o [João] Amoêdo, tenho me aproximado muito do Novo e me filiei este ano porque achava inclusive que minha volta à política tinha que ser pelo Executivo.

Queria voltar depois de 15 anos afastado, queria voltar através do Partido Novo. Eu tinha me desencantado com muitos partidos políticos, não tinha vontade de voltar. E o Partido Novo acabou acendendo em mim uma luz de que era o momento de voltar para a atuação pública.

AGÊNCIA CMA: Pretende tentar se candidatar a outro cargo pelo Partido Novo?

Eu não tenho definido isso ainda porque neste momento eu queria me candidatar à prefeitura. Não deu certo, infelizmente. Agora vou esperar. Mais para frente vou ver o que vem. Vamos ver o que acontece em 2022.

AGÊNCIA CMA: Em uma entrevista concedida em 2017 você avaliou que o atual presidente Jair Bolsonaro não seria eleito porque as pessoas dariam mais valor à capacidade de gestão dos candidatos do que ao discurso de salvador da pátria. No entanto, a vitória dele foi baseada justamente na premissa de que ele salvaria o país da corrupção, do toma lá dá cá. Por que a mudança que você esperava não ocorreu?

No fundo eu acho que foi eleito porque acabou acontecendo uma quase tragédia. Se você não tivesse a facada, eu continuo achando que ele teria muita dificuldade em ser eleito. Você estava, no momento em que a facada aconteceu, que o candidato do PSDB Geraldo Alckmin vinha numa ascensão, com possibilidade alta de ter crescimento. Aí a facada inviabilizou qualquer outro candidato. Entre ele e Haddad não tinha muita alternativa e a sociedade acabou escolhendo ele.