BCE está pronto para usar ferramentas para apoiar preços e expansão

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Por Carolina Gama

São Paulo – A política monetária pode responder efetivamente mesmo quando o crescimento econômico está sendo atenuado por fatores externos, disse a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde. Segundo ela, isso é possível pela garantia de condições favoráveis de financiamento para todos os setores e via visibilidade sobre essas condições no futuro.

“Apoiados por um fluxo constante de crédito em termos acessíveis, as famílias e as empresas podem consumir e investir mais. Esse apoio à demanda interna reforça, em particular, o setor de serviços, que é a parte da economia com mais mão de obra. Isso ajuda a proteger empregos e rendas e, assim, sustenta o consumo – compensando parcialmente o choque externo”, afirmou.

Falando ao Parlamento Europeu, Lagarde defendeu as medidas adotadas pelo BCE em setembro, quando o conselho da instituição reduziu a taxa de juros da linha de depósito para -0,5%, reiniciou as compras líquidas de ativos, fortaleceu as orientações futuras sobre essas duas ferramentas, tornou as condições das operações de refinanciamento de prazo mais longo (TLTROs) mais atraentes e introduziu um novo regime de remuneração por reservas excedentes detidas pelos bancos.

“Essas medidas trabalham juntas para manter as taxas de juros em todos os vencimentos em torno de níveis consistentes com condições de financiamento muito acomodatícias”, afirmou. “Ao mesmo tempo, as decisões do Conselho do BCE em setembro mostraram que estamos alertas aos possíveis efeitos colaterais da política monetária”, acrescentou.

Para Lagarde, a postura política acomodatícia do BCE tem sido um fator essencial da demanda doméstica durante a recuperação, e essa postura permanece em vigor. “Conforme estabelecido nas orientações futuras do BCE, a política monetária continuará apoiando a economia e respondendo a riscos futuros, de acordo com nosso mandato de estabilidade de preços. E monitoraremos continuamente os efeitos colaterais de nossas políticas”, disse.

A chefe do BCE lembrou ainda que a revisão das estratégias do BCE deve começar em um futuro próximo. “Tais análises estratégicas são relativamente comuns para os bancos centrais, embora seu escopo e objetivos variem frequentemente. O Federal Reserve, dos Estados Unidos, está atualmente realizando essa revisão; o Banco do Canadá tem um a cada cinco anos. No caso do BCE, a última revisão da estratégia foi concluída em 2003. Muita coisa mudou nos últimos 16 anos”, afirmou.

Entre as mudanças, Lagarde citou a demografia, a tecnologia disruptiva e as mudanças climáticas. “A sabedoria convencional foi contestada e a política monetária globalmente explorou territórios desconhecidos. Isso exige que revisemos nossa estratégia e consideremos como nossa política monetária pode cumprir melhor nosso mandato”, disse.

Segundo ela, “todos estão tentando entender melhor como as tendências de longo prazo podem afetar as variáveis que monitoramos regularmente e buscamos, em certa medida, controlar”.

“Dito isto, é prematuro se aventurar aqui em debates sobre o alcance preciso, a direção e o cronograma de nossa revisão, pois o assunto ainda não foi discutido exaustivamente pelo Conselho do BCE. O que posso confirmar, no entanto, é que a revisão da estratégia será guiada por dois princípios: análise completa e uma mente aberta. Isso exigirá tempo para reflexão e ampla consulta”, completou.