Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira
São Paulo – A rápida disseminação do coronavírus atemorizou investidores em todo o mundo hoje e aumentou receios sobre impactos na economia chinesa, o que fez o Ibovespa acelerar perdas no fim do pregão e fechar perto da mínima do dia, com em queda de 3,28%, aos 114.481,84 pontos.
Trata-se da maior queda percentual em exatamente dez meses, já que no dia 27 de março do ano passado o índice recuou 3,57% (91.903,40 pontos), e do menor patamar de encerramento em mais de um mês, desde do dia 18 de dezembro de 2019 (114.314,65 pontos). Na mínima do dia, o Ibovespa chegou a 114.375,58 pontos. O volume total negociado foi de R$ 23,6 bilhões.
“No fim de semana, as coisas ficaram mais exponenciais, aumentou o número de mortos e infectados. Chamam a atenção notícias como as que a China está construindo um hospital de 2 mil leitos, o que faz pensar que os casos ainda podem aumentar bastante”, destacou o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.
Para o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, também preocupa a possibilidade de o vírus poder ter uma letalidade maior do que se achava inicialmente, além de ter grande potencial de impacto na economia global, já que se originou na China e já está afetando preços de commodities.
Para ele, será preciso seguir acompanhando o noticiário em torno do vírus nos próximos dias, para saber o seu real tamanho e se é, de fato, motivo para maiores correções. “Acredito que só vamos ter maiores condições de avaliação daqui a 15, 20 dias, para saber se vai continuar se alastrando”, afirmou. Na avaliação do economista, o dia de amanhã também pode ser de correção, dependendo das notícias, e não descarta que o Ibovespa possa cair para perto de 113 mil pontos, embora recomende que investidores adotem cautela e não façam grandes movimento por enquanto.
Mais cedo, notícias apontaram que a Organização Mundial de Saúde (OMS) se corrigiu em relação ao posicionamento da semana passada e passou a ver um risco mundial mais elevado em relação ao vírus. De acordo com autoridades chinesas, o coronavírus infectou mais de 2,8 mil pessoas e matou pelo menos 81, mesmo com o país tomando medidas como o isolamento de cidades, suspensão de viagens e após ter estendido o feriado do Ano Novo até 2 de fevereiro. Ao todo, 13 países já registraram casos da doença.
Entre as ações, os destaques de quedas ficaram com ações ligadas a commodities, já que a China é maior consumidora mundial dos produtos. É o caso da Vale (VALE3 -6,11%) e da Petrobras (PETR4 -4,33%).
Já as maiores quedas do Ibovespa foram da CSN (CSNA3 -8,12%), da MRV (MRVE3 -7,44%), da JBS (JBSS3 -7,17%), da Gerdau (GGBR4 -7,34%) e da Usiminas (USIM5 -7,12%).
Na contramão, as maiores altas e exceções do pregão hoje foram as ações do setor de telefonia, como as da Telefônica Brasil (VIVT4 1,30%) e da Tim (TIMP3 0,98%), que refletiram notícias de que a Oi está acelerando a venda da sua área móvel, que pode ser comprada pelas suas concorrentes. Ainda entre as maiores altas ficaram as ações da Cielo (CIEL3 0,71%) e da RD (RADL3 0,56%).
O dólar comercial fechou em alta de 0,54% no mercado à vista, cotado a R$ 4,2100 para venda, no maior valor desde 2 de dezembro – quando encerrou em R$ 4,2180 – influenciado pelo temor global com o avanço do coronavírus na China e em outros países. Até o momento, há mais de 80 mortes confirmadas no país asiático e quase 3 mil casos confirmados em 12 países, entre eles os Estados Unidos.
“A enfermidade atingiu em cheio os mercados financeiros resultando em fortes perdas nas bolsas e pela busca de ativos mais seguros como o dólar”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho.
A sessão foi bastante negativa para as moedas globais, principalmente, de países emergentes exibindo a forte aversão ao risco global, o que refletiu em forte queda dos títulos de dívidas norte-americanos, as treasuries, no qual os papéis com vencimentos para cinco e dez anos chegaram a cair mais de 5%. “A demanda por esses papéis foi bem alta hoje. Por isso caiu tanto”, diz Alejandro Ortiz, da equipe econômica da Guide Investimentos.
Ele comenta que o movimento de aversão ao risco tende a seguir amanhã com os desdobramentos da doença ao passo que o número de infectados, mortes e países com casos confirmados cresce a cada nova atualização das autoridades chinesas. Mais cedo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou como “elevado” o risco internacional de contaminação da doença.
Com a agenda de indicadores mais fraca, fica no radar dos investidores globais a reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) entre amanhã e quarta-feira no qual o mercado aguarda a manutenção da taxa de juros na faixa entre 1,50% e 1,75%. “Mas todo mundo fica de olho no que o Fed pode adiantar ou sinalizar no comunicado”, diz.