Por Olívia Bulla
São Paulo – O mercado financeiro enxergou uma “porta aberta” deixada pelo Comitê de Política Monetária (Copom), após a divulgação ontem da ata da reunião deste mês, dando a sensação de que a Selic pode voltar a cair ainda neste ano, apesar de o Banco Central ver como “adequada” a interrupção do ciclo de cortes. A retomada desse processo pode ocorrer se a economia doméstica não reagir e os dados fracos de atividade apontam para essa possibilidade.
Apesar de a ata não ter trazido novidades, reafirmando a mensagem no comunicado, especialistas observam que o BC não deu nenhuma pista sobre a condução do juro básico, o que deixa em aberto a chance de novas quedas. “O Copom transpareceu que o momento é de incerteza e que é preciso ter maior clareza desse cenário para definir os próximos passos, deixando, assim, a porta aberta para novas alterações na Selic”, avalia o economista da Renascença Corretora, Marcos Pessoa.
Na mesma linha, o economista da Guide Investimentos, Victor Guglielmi, avalia que o Copom deixou a porta aberta para novos estímulos em reuniões posteriores. “E só vemos o Copom voltando a agir se houver uma deterioração relevante dos indicadores domésticos de atividade e/ou do cenário externo. Caso contrário, a Selic deve ser mantida nos níveis atuais”, observa.
Nesse sentido, a inesperada queda das vendas no varejo durante o mês do Natal (-0,1% em dezembro ante novembro), contrariando a previsão de alta de 0,3%, reacendeu de vez no mercado a discussão sobre novos cortes no juro básico. “A queda mensal decepciona e realimenta a discussão de que o BC deve cortar mais uma vez a Selic, já que a atividade não engata e a inflação permanece sob controle”, comenta o economista-chefe da Necton Corretora, André Perfeito, referindo-se ao indicador divulgado hoje.
Cálculos de profissionais das mesas de operação indicam que a curva a termo local já precifica a chance de uma nova queda da Selic na reunião de junho. “Com a leitura majoritária de que o Copom deixou uma fresta aberta para novos cortes à frente e a divulgação das vendas no varejo corroborando essa visão, os investidores tiram os prêmios dos DIs, principalmente nos vértices até janeiro de 2022”, observa o operador de renda fixa da Renascença Corretora, Luís Felipe Laudísio.
SE NÃO CORTAR, NÃO SOBE
Ainda que o Copom não retome a trajetória de queda dos juros básicos neste ano, é grande a perspectiva de que a Selic ficará estável por um período prolongado. “A ata da última reunião do Copom indica que a perspectiva de manutenção dos juros básicos no Brasil é extensa”, observa o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira. Na mesma linha, o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, avalia que “está claro” que o Copom vai manter a Selic em 4,25% por um bom período. “Vai demorar [para voltar a mexer nos juros]”, conclui.