Temor com impacto do coronavírus faz Bolsa cair e dólar subir

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,28%, aos 114.977,29 pontos, refletindo o aumento de temores sobre impactos do surto de coronavírus nos resultados de empresas, depois que a Apple afirmou que não deve cumprir sua previsão de receita em função da epidemia.

Perto do fechamento, porém, o índice reduziu fortemente as perdas diante de uma leve melhora das Bolsas norte-americanas e com alguns papéis de bancos e os da Petrobras passando a subir.

“A revisão dos números da Apple foi o gatilho para um movimento de correção. Acredito que investidores têm levado pouco em consideração o impacto do coronavírus até agora”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo. Para o diretor, investidores têm subestimado efeitos negativos nas empresas pelo mundo todo, já que muitas têm sua cadeia de produção ligada à China ou dependem da demanda chinesa.

A Apple informou que o coronavírus limitou a produção de iPhones da empresa e reduziu a demanda de seus produtos na China. A gigante da tecnologia havia projetado no mês passado uma receita recorde para o trimestre atual entre US$ 63 bilhões e US$ 67 bilhões, e ainda não forneceu uma estimativa de vendas atualizada. A empresa disse que forneceria mais informações na divulgação de resultados de abril.

Entre as ações, papéis como os da Vale (VALE3 -1,14%), que têm como seu principal consumidor a China, fecharam em queda. Por outro lado, as ações da Petrobras (PETR3 0,75%; PETR4 1,32%), que também têm grande peso no índice, passaram a subir ao longo do pregão ajudando o índice a reduzir perdas. Amanhã será divulgado o balanço trimestral da estatal, após o fechamento do pregão, enquanto o da Vale será divulgado na quinta-feira.

Os papéis do Banco do Brasil (BBAS3 0,95%) e do Itaú Unibanco (ITUB4 0,41% são outros que viraram para alta, com o setor de bancos se recuperando no fim do pregão.

Já as maiores perdas do Ibovespa ficaram com as ações do BTG Pactual (BPAC11 -3,04%), da Qualicorp (QUAL3 -3,09%) e da Hypera (HYPE -2,69%). Na contramão, as maiores altas do índice foram da Marfrig (MRFG3 7,33%) e da Eletrobras (ELET3 5,94%; ELET6 5,22%). Investidores têm se animado com os papéis da Marfrig na expectativa de que a companhia possa divulgar um balanço positivo amanhã após o fechamento do mercado.

Na agenda de amanhã, o destaque será a ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que será divulgada às 16h e pode citar risco trazidos pelo coronavírus. O analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila, afirma que os impactos do surto e suas consequências devem continuar sendo monitorado.

Já Zuffo lembra que investidores devem seguir atentos à temporada de balanços, mas, mais importante do que acompanhar os resultados das companhias, será avaliar os guidances para o primeiro trimestre.

O dólar comercial fechou em alta de 0,66% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3600 para venda, renovando a máxima histórica de fechamento de 12 de fevereiro quando alcançou R$ 4,3520, influenciado pelo forte movimento de aversão ao risco que prevaleceu nos mercados em meio à percepção de que a economia da China e global deverá mesmo ser afetada em função do coronavírus no primeiro trimestre do ano.

O gerente de mesa de câmbio, Guilherme Esquelbek, destaca o fortalecimento da moeda norte-americana frente as principais moedas pares e de países emergentes ao longo do pregão em meio ao aumento da preocupação do mercado com os efeitos do coronavírus nas cadeias produtivas, como as de tecnologia.

“Isso após a [companhia norte-americana] Apple cortar as perspectivas de vendas e comunicar que as fábricas estão retornando suas produções em ritmo mais lento que o esperado, e alertar que não vai conseguir cumprir as suas metas”, ressalta.

Esquelbek acrescenta que o real foi a moeda emergente que mais se desvalorizou na sessão reagindo ainda à fala do diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Fabio Kanczuk, de que “não há um nível para o câmbio”. Na reta final dos negócios, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, “não pediu para sair” e continuará no governo “até o último dia”.

A fala de Bolsonaro, durante a cerimônia de posse dos novos ministros da Casa Civil, Braga Netto, e da Cidadania, Onyx Lorenzoni, teve repercussão pontual no mercado no qual a moeda estrangeira acelerou os ganhos e renovou máximas sucessivas a R$ 4,3620 (+0,71%).

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, ressalta, porém, o fortalecimento do dólar no exterior também na reta final dos negócios, em meio aos desdobramentos do surto do coronavírus na China que leva companhias a falarem em revisão de números nos três primeiros meses do ano e o mercado a avaliar a atividade do país asiático e global.

“Se a Apple, uma gigante, reclamou, a questão não é apenas a demanda, mas também a produção reprimida na China e os efeitos disso”, diz a economista.

Para amanhã, Camila chama a atenção ainda para os efeitos do coronavírus, assunto no qual deverá constar na ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). O assunto não foi citado no comunicado de decisão de política monetária, porém, foi abordado na coletiva de imprensa do presidente Jerome Powell após da divulgação do documento, em 29 de janeiro. “A ata do Fed depende da ponderação que eles vão dar ao assunto”, diz.