Pânico generalizado deve levar Fed a cortar juros em 0,50 pp na próxima semana

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São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve realizar mais um corte da taxa de juros da ordem de 0,50 ponto percentual (pp), passando-a para a faixa entre 0,50% e 0,75% ao ano, em meio ao pânico que tomou conta dos mercados de ações por conta dos potenciais efeitos do surto do novo coronavírus, segundo especialistas consultados pela Agência CMA.

Na semana passada, em uma ação emergencial que não era vista desde a crise financeira de 2008, o Fed anunciou um corte de 0,50 pp na taxa de juros, passando para o patamar atual de 1,00% a 1,25% ao ano. Na ocasião, o presidente do banco central norte-americano, Jerome Powell, disse que os fundamentos da economia dos Estados Unidos eram sólidos, mas o novo coronavírus representava um risco para a atividade.

“Os mercados já estão precificando um corte na próxima reunião que deve ser maior que 0,25 pp, mas menor que 0,75 pp e precificando também um retorno para zero na reunião de julho”, disse o vice-presidente da Scotiabank Economics, Derek Holt.

Segundo ele, no entanto, seria melhor que o Fed usasse outras ferramentas para conter qualquer desaceleração na economia.

“O Fed deveria permanecer no modo de espera, impedindo um choque grave no sistema financeiro. Talvez seja melhor gastar o tempo pensando em outras ferramentas menos convencionais que poderia empregar, uma vez que a paralisia de Washington geralmente coloca todo o ônus sobre uma resposta do banco central”, acrescentou Holt.

Os membros do Fed estão em período de silêncio por conta da reunião de política monetária que começa no próximo dia 17. Na semana passada, no entanto, vários chefes regionais defenderam a redução emergencial da taxa de juros, afirmando que a ação é uma garantia para o cumprimento das metas de pleno emprego e estabilidade de preços.

“Com o período de silêncio em andamento, nenhum membro do Fed deve falar antes da reunião de 17 e 18 de março. Após o corte de 0,50 pp na semana passada, atualizamos nossas perspectivas e agora esperamos outro corte de 0,50 pp na reunião de março”, disse o economista chefe do Wells Fargo para os Estados Unidos, Sam Bullard.

Para o economista sênior do Deutsche Bank, Brett Ryan, uma política monetária mais acomodatícia deve mitigar os efeitos da desaceleração econômica provocada pelo surto do novo coronavírus nos Estados Unidos.

Projeções do banco alemão mostram que o Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos deve ficar estável no primeiro trimestre e contrair para 0,6% no segundo trimestre em taxa anualizada. A partir daí, deve haver uma recuperação rumo ao final do ano.

“Esperamos um crescimento de 1,6% nos últimos três meses de 2020, que é 0,6 pp menor do que nossa estimativa inicial”, disse Ryan. “A política monetária mais frouxa do Fed deve contribuir com a estabilização do crescimento e, em 2021, devemos ter uma expansão de 2,5%”, acrescentou.

As previsões são publicadas em um momento no qual os investidores entraram em pânico, fazendo com que o mercado de ações ativasse o circuit breaker após o S&P 500 caminhar para uma queda de 7%, momento no qual as negociações são interrompidas em Nova York.

“Movimentos abruptos do mercado representam o risco de revelar o que venho chamando de ‘esqueletos no armário’. Medidas amplas de apetite ao risco estão indicando, até o momento, que um evento de risco altamente significativo está em andamento”, afirmou Holt, da Scotibank Economics.