São Paulo – Em um pregão volátil, o Ibovespa fechou em alta de 1,48%, aos 78.835,82 pontos, refletindo o bom desempenho de papéis ligados a commodities e mais expostos à economia chinesa, como os de siderúrgicas, mineradoras e frigoríficos. Essas ações fizeram a Bolsa brasileira se descolar da queda dos índices norte-americanos, que mostraram cautela antes do início da temporada de balanços, em meio a receio de impactos negativos do novo coronavírus. O volume total negociado foi de R$ 17,7 bilhões.
“Há um arrefecimento de novos casos de coronavírus em alguns países e ações de empresas mais expostas à China, como as da Vale, Suzano e JBS, estão indo melhor, já que a atividade está começando a voltar por lá”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.
Analistas destacaram um arrefecimento da doença em alguns países como Espanha e Itália, além de uma leve melhora no estado de Nova York, que concentra a maioria dos casos dos Estados Unidos. O governador de Nova York, Andrew Cuomo, afirmou hoje que “o pior já deve ter passado” e que o estado está “achatando a curva” de hospitalizações por covid-19.
No entanto, esse arrefecimento não foi suficiente para que Wall Street fechasse em alta, com a cautela prevalecendo no exterior. “Vai começar a temporada de resultados de empresas dos Estados Unidos e vamos conhecer uma série de dados importante esta semana, como dados da balança comercial chinesa, o IBC-Br, etc. Aí vamos ver a materialização de impactos do coronavírus na economia”, explicou o sócio-analista da Eleven Financial Research, Raphael Figueredo.
Figueredo também destacou que o dia foi mais fraco no exterior, com menor volume negociado hoje, já que mercados europeus ficaram fechados em função de feriado prolongado.
Entre as ações, as de papéis ligados a commodities puxaram o índice e ficaram entre as maiores altas. É o caso das ações de siderúrgicas e mineradoras, como Gerdau (GGBR4 4,95%) e Vale (VALE3 2,98%), e de frigoríficos, como JBS (JBSS3 4,00%) e Marfrig (MRFG3 5,98%). Ainda entre as maiores altas do índice ficaram as ações da Cogna (COGN3 6,33%) e da Via Varejo (VVAR3 5,43%), que ampliaram altas perto do fim do pregão.
Os papéis da Petrobras (PETR3 2,55%; PETR4 0,65%) também fecharam em alta, apesar de mostraram volatilidade acompanhando os preços do petróleo, depois que o presidente norte-americano, Donald Trump, disse que o corte de petróleo pode ser maior do que noticiado como acordado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep). As ações de bancos são outras de peso para o índice que encerraram com ganhos, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 2,12%) e do Bradesco (BBDC4 2,72%).
Na contramão, as maiores quedas do Ibovespa foram da Natura (NTCO3 -2,86%), do BTG Pactual (BPAC11 -4,21%), das Lojas Americanas (LAME4 -4,21%) e da Smiles (SMLS3 -4,89%).
Na agenda de indicadores, os destaques são a balança comercial da China, que será divulgada hoje à noite, e o IBC-Br. Investidores ainda ficarão atentos aos primeiros balanços que serão divulgados nos Estados Unidos, além de continuarem a acompanhar o número de casos de coronavírus em todo o mundo.
O dólar comercial fechou em forte alta de 1,78% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1830 para venda, interrompendo a sequência de quatro quedas seguidas, acompanhando o exterior mais negativo para moedas de países emergentes, além do viés de correção técnica após cair mais de 4% na semana passada. Aqui, investidores seguem atentos à cena política acompanhando o desconforto entre o presidente Jair Bolsonaro e o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
Em entrevista ontem ao “Fantástico”, da TV Globo, o ministro declarou que o desrespeito do presidente Bolsonaro às recomendações de distanciamento social feitas por ele e sua equipe geram “dubiedade” nas orientações à população a respeito de como combater a pandemia do novo coronavírus.
“Nesse turbilhão de incertezas está inserida também essa recorrente queda de braço entre o presidente e Mandetta”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Ele acrescenta que o Planalto viu as declarações do ministro da Saúde na entrevista como “uma afronta”.
Na quinta semana acima de R$ 5,00, Gomes reitera que a moeda norte-americana retoma o viés de alta apoiado ainda nos fatos que permeiam os mercados a partir do novo coronavírus, seus efeitos e consequências no âmbito global.
Hoje, o Banco Central (BC) voltou a atuar com a oferta de dólares no mercado futuro por meio da operação de swap cambial tradicional, no qual o valor aceito foi o ofertado de US$ 500,0 milhões. “Serviu apenas para suavizar o ímpeto da moeda estrangeira”, diz o diretor da corretora. A moeda chegou a subir mais de 2%, na máxima de R$ 5,21.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o consultor de câmbio da corretora Advanced, Alessandro Faganello, destaca que investidores deverão seguir atentos à política local e à pauta que poderá ser votada ainda hoje na Câmara dos Deputados no qual permite o repasse de recursos da União aos estados e municípios, conhecida como “Novo Plano Mansueto”. Porém, não descarta que novos números do coronavírus podem influenciar no preço.
“Começa a temporada de balanços do primeiro trimestre de empresas norte-americanas. Serão números importantes de observar já que traz um termômetro da economia nos três primeiros meses do ano e os impactos da pandemia”, diz o consultor.