Bolsa cai com possível pedido de demissão de Sergio Moro

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São Paulo – O Ibovespa não se recuperou dos rumores de um possível pedido de demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, e acabou encerrando a sessão em queda de 1,25% aos 79.673,30 pontos. Pelo lado positivo, evitou uma retração ainda maior do índice o bom desempenho de ações de empresas ligadas às commodities.

Mais cedo, o Ibovespa chegou a cair mais de 2% após passar a manhã e início da tarde em alta, com a notícia de que Moro teria pedido demissão ao presidente Jair Bolsonaro. Isso teria acontecido por causa de uma possível troca no comando da Polícia Federal (PF), onde o atual presidente, Mauricio Valeixo, é amigo e braço direito de Moro. Com isso, o ministro não teria aceitado a troca e consequentemente pediu demissão.

“Hoje o mercado foi volátil. Pela manhã subiu após notícias de que teriam vazado testes para a cura do novo coronavírus de uma empresa norte-americana. Mas depois surgiu esse ruído sobre a possibilidade de saída de Moro, aí o índice passou a cair”, explicou Rafael Weber, sócio RJI Gestão e Investimentos.

Weber disse ainda que o Ibovespa foi ajudado pelas empresas do setor de commodities, evitando uma queda ainda mais profunda do índice. “O que ajudou a não ter um dia ainda pior foram empresas de commodities, como as siderúrgicas, Vale e Petrobras”, explicou o especialista. Por outro lado, empresas do setor de varejo e bancos puxaram a queda.

“É preciso ficar de olho e acompanhar a abertura gradual de algumas lojas do varejo, como é o caso da Renner. Isso pode trazer algum resultado para os papéis das empresas do setor. Mas isso é algo que deve ir acontecendo aos poucos”, afirmou Weber.

O dólar comercial fechou em forte alta de 2,05% no mercado à vista, cotado a R$ 5,5230 para venda, pela primeira vez acima deste patamar, em sessão de forte volatilidade reagindo às notícias do mercado doméstico. Após as apostas de mais corte de juros e de preocupações com a situação fiscal do país, um ruído político elevou a tensão do mercado na segunda parte dos negócios.

No início da tarde, o jornal Folha de São Paulo noticiou que o ministro da Justiça, Sérgio Moro, pediu demissão após ser informado pelo presidente Jair Bolsonaro sobre a troca do diretor-geral da Polícia Federal (PF), Maurício Valeixo, nos próximos dias. Valeixo foi indicado ao cargo pelo ministro e é seu homem de confiança. Moro, porém, não confirmou o fato.

Para o economista da Tendências Consultoria, Sílvio Campos, o movimento do câmbio foi uma “continuidade” de uma semana bastante difícil para a moeda. “Recentemente, eram apenas questões globais. Nesta semana, a possibilidade de corte de juros e esses ruídos políticos pioraram ainda mais o cenário cambial se descolando de outras moedas”, avalia.

O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca também as perspectivas da piora do quadro fiscal do governo brasileiro, além da atuação do Banco Central (BC) no mercado cambial. “Nem mesmo dois leilões de swap cambial [venda de dólares no mercado futuro] no valor de US$ 1,0 bilhão foram suficientes para segurar o ímpeto da moeda”, diz.

Para Campos, com a agenda de indicadores esvaziada, o contexto do cenário local deverá pesar na precificação da moeda. “Esse aumento de gastos do governo para enfrentar os efeitos do novo coronavírus que parece temporário, gera um grande temor de aprofundamento do déficit fiscal no longo prazo. Não vejo um cenário de melhora para amanhã”, reforça.