São Paulo – A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e seus aliados – grupo conhecido como Opep+ – podem voltar a apoiar o mercado com novos limites à produção diante da persistente derrocada dos preços do petróleo provocada pelo excesso de oferta e pelo enfraquecimento da demanda, após as medidas adotadas por governos ao redor do mundo para conter a disseminação do novo coronavírus.
Segundo especialistas consultados pela Agência CMA, no entanto, a aposta não é por um aumento dos cortes de produção que entraram em vigor na última sexta-feira, dia 1, mas sim pela extensão dos mesmos limites até o final do ano.
“As chances de a Opep+ cortar ainda mais a produção são pequenas e, no momento, não vejo apetite para que haja uma redução ainda maior. O mais provável é que estendam os cortes previstos para maio e junho até o final do ano em uma tentativa de oferecer apoio extra ao mercado”, disse o estrategista chefe de commodities da ING, Warren Patterson.
Em 12 de abril, a Opep+ assim como os produtores de petróleo de um grupo mais amplo de países do G-20 (que reúne economias mais industrializadas e países emergentes) como Estados Unidos, Brasil e Canadá, alcançaram o que muitos chamam de acordo histórico.
Na ocasião, o plano de corte de oferta foi firmado em três fases. A primeira prevê uma redução de 9,7 milhões de barris por dia (bpd) entre 1 de maio e 30 de junho; a segunda determina um corte de 7,7 milhões de bpd entre 1 de julho e 31 de dezembro deste ano; e a última retira 5,8 milhões de bpd no período de 1 de janeiro de 2021 a 30 de abril de 2022.
Os membros da Opep+ farão esses cortes com base na produção de outubro de 2018, com exceção da Arábia Saudita e da Rússia, que usarão o nível de 11 milhões de bpd como referência.
“O grupo está usando como base a produção de outubro de 2008, com exceção de sauditas e russos, o que não corresponde à realidade da oferta de petróleo atual”, acrescenta Patterson.
Para o estrategista da ING, outro erro da Opep+ foi não implementar os limites à oferta imediatamente. “A derrocada de preços que vimos recentemente, com o WTI negociado em campo negativo, é o mercado dizendo que a Opep+ não fez o suficiente para enxugar o excesso de produção do mercado internacional”, disse.
A mesma opinião é compartilhada pelo analista chefe de mercado da CMC Markets, Michael Hewson. “Não apenas a demanda parou, o impacto dos cortes da Opep+ também não começou em tempo de conter a sangria atual [de preços]”, afirmou.
Hewson lembra ainda que, embora a Opep+ já tenha concordado com um corte de 9,7 milhões de bpd, o colapso global na demanda é estimado em mais de 20 milhões de bpd.
“Os níveis atuais dos preços do petróleo forçarão os produtores a (continuar a) reduzir a oferta, mas à medida que a demanda se recuperar – pelo menos parcialmente – quando os bloqueios forem amenizados, os estoques devem diminuir”, disse a analista chefe do Danske Bank, Christin Tuxen.
No cenário base do Danske Bank, de uma recessão global acentuada, mas não prolongada, os preços do petróleo devem ser recuperar a partir do segundo semestre deste. Com isso, a projeção é do Brent – usado com referência internacional – cotado a U$ 35 o barril este ano e a US$ 44 o barril em 2021.