Cenário atual exigiu R$ 4,5 bi em provisões extras, diz presidente do Itaú Unibanco

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São Paulo – O cenário econômico atual, afetado pela pandemia do novo coronavírus, exigiu que o Itaú Unibanco fizesse cerca de R$ 4,5 bilhões a mais de provisões contra perdas com empréstimos do que faria numa situação normal, afirmou o diretor-financeiro da companhia, Milton Maluhy Filho, durante teleconferência com jornalistas.

No primeiro trimestre deste ano, o saldo de provisões do Itaú Unibanco contra perdas com empréstimos somou R$ 47,1 bilhões, um aumento de 37,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

Deste total, R$ 13,0 bilhões referem-se a provisões obrigatórias, R$ 11,5 bilhões são para operações de crédito que ficaram mais arriscadas e R$ 22,6 bilhões são por perdas potenciais. Este último grupo foi o que registrou o aumento mais significativo em relação a 2019 – de 73,4%, ou R$ 9,6 bilhões.

O executivo-chefe do Itaú Unibanco, Candido Bracher, disse ser “pouco provável” que a instituição tenha acertado exatamente o volume de provisões necessárias para todo o período de crise, sugerindo que o saldo pode aumentar. “A gente está num cenário com muitas variáveis”, afirmou.

Maluhy Filho disse que o Itaú Unibanco terá “uma pressão muito grande sobre volume de provisões”, e que “a principal responsabilidade do banco numa crise é se manter sólido, líquido. Faremos as provisões que julguemos que possam ser necessárias para manter força do nosso balanço”, afirmou.

Ele acrescentou que as medidas anunciadas pelo Banco Central para afrouxar as remarcações no risco de crédito de operações repactuadas têm pouco efeito sobre as provisões do Itaú Unibanco justamente porque a maior parte da reserva feita pela instituição está fora dos requisitos regulatórios. “Para nós, diria que não tem um benefício objetivo”, disse Filho.

NÍVEL DE CAPITAL

O nível de capital do Itaú Unibanco diminuiu no primeiro trimestre, mas será recomposto gradualmente até o nível de 13,5% que foi estipulado como sendo o objetivo da companhia, afirmou Bracher.

“Nessa crise o nosso capital caiu para 12,0%, o que é absolutamente ainda confortável”, disse ele, referindo-se ao limite mínimo de capital, que varia entre 8,5% e 9,5% dos ativos do banco ponderados pelo risco.

“Daqui para frente esperamos não ter novamente todas as pressões sobre capital que tivemos neste primeiro trimestre”, disse Bracher, mencionando pagamento de dividendos, aumento no volume de ativos, entre outros itens que ajudaram a reduzir o índice de capital do Itaú Unibanco.

“A gente imagina impactos sobre capital daqui para frente muito menores. Devemos em algum momento tentar recompor capital a 13,5%, mas não temos pressa exagerada em fazer isso”, acrescentou.

HARMONIA NOS PODERES

A harmonia entre os Poderes da República é importante para que o mercado se convença de que, após terminada a crise da covid-19, o Brasil continuará adotando as reformas que vinham injetando confiança nos investidores até então, disse Bracher.

“É muito importante que haja harmonia entre os Poderes, entre o Executivo, Legislativo e Judiciário, mas especialmente entre Executivo e Legislativo. Em função deste quadro, vejo com preocupação quando há tensões políticas. Não precisaria acrescentar crise política a grande crise de saúde e econômica que estamos vivendo”, disse ele, respondendo a uma pergunta sobre o efeito das denúncias do ex-ministro Sergio Moro contra o presidente Jair Bolsonaro.

“Neste sentido, torço muito para que diferenças sejam superadas e todos os Poderes ajam de maneira alinhada de maneira a garantir caminho seguro para o Brasil pós-crise”, acrescentou Bracher.

“A gestão do Estado é sempre muito importante. Durante uma crise dessa, a gestão do Estado é fundamental. A gente está vendo todos os esforços feitos pelo governo durante a crise para atenuar os efeitos da crise, o coronavoucher, a linha de folhas de pagamento, essas negociações com o BNDES, a complementação de salário. Há um esforço muito grande para atenuar efeitos da crise”, disse o executivo-chefe do Itaú Unibanco.

Ele disse que o combate à crise exigirá o uso de muito dinheiro público e que é “importante” que esse dinheiro seja usado, ainda que isso signifique um aumento no endividamento do governo de 75% para talvez 90% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Terminaremos a fase aguda da crise com uma dívida muito elevada em relação ao PIB, num nível em que nós nunca tivemos”, afirmou, acrescentando que as condições em que o Brasil começou a crise eram “favoráveis”, com a menor taxa de juros da história.

“Isso não foi obra da sorte. Foi porque conseguimos confiança na gestão fiscal do Brasil. Teremos que ser capazes de infundir essa mesma confiança na saída da crise”, afirmou.