Bolsa descola do exterior e cai; dólar sobe e bate recorde histórico

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São Paulo – O Ibovespa encerrou a sessão de hoje em queda de 1,19% aos 78.118,57 pontos, sem um motivo específico para o recuo, apenas com movimentos pontuais do dia-a-dia, como ações subindo por causa da alta do dólar e outras caindo por causa da temporada de balanços ou simplesmente por um momento de realização, como no setor bancário.

“Não tem muito o que dizer de hoje. Empresas do setor de carnes e exportadoras subiram com o avanço do dólar. Por outro lado, bancos com forte peso no índice seguiram em queda. Inicialmente a visão era de que o mercado ia pra cima com o corte na Selic, já que deixa a renda fixa menos atrativa e traz mais investidores pra Bolsa, porém, não foi o que vimos ao longo do dia”, explicou Ari Santos, operador de renda variável da Commcor.

“Toda notícia teve seu impacto hoje no Ibovevspa. Tivemos o Bolsonaro indo ao STF pra pedir o fim do isolamento social, tivemos o governo mostrando uma preocupação com as contas públicas, tivemos o anúncio de restrição maior de veículos em São Paulo a partir de segunda-feira. No resumo, o volume financeiro acabou sendo muito bom”, acrescentou Santos.

Entre as ações destacadas por Santos, nas maiores altas e beneficiadas pelo dólar estão a unit da Klabin (KLBN11), com avanço de 11,41% sendo a maior alta do índice, enquanto as ações ordinárias da Marfrig (MRFG3) valorizaram 7,88%.

Por outro lado, estão as ações de empresas prejudicadas pela elevação na restrição de veículos em São Paulo e o aumento do isolamento em outros estados brasileiros, como as ações ordinárias da Localiza (RENT3), que teve a maior queda do Ibovespa, com queda de 8,40%, e as ações ordinárias da Ecorodovias (ECOR3), com recuo de 6,69%.

O dólar comercial fechou em forte alta de 2,31% no mercado à vista, cotado a R$ 5,8360 para venda, engatando o segundo recorde seguido e a quinta alta consecutiva, em reação à saída de investimentos estrangeiros após o Banco Central (BC) cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual (pp), acima do esperado, e sinalizar que deverá realizar mais cortes na próxima reunião.

O gerente de câmbio de uma corretora nacional reforça que a moeda operou descolada do cenário externo, refletindo o corte agressivo na Selic, além do quadro político e fiscal local. “A promessa de veto do presidente Jair Bolsonaro quanto ao aumento dos servidores que poderá trazer R$ 130,0 bilhões de economia para os cofres do governo levaram a moeda a recuar”, diz.

O BC tentou conter o avanço da moeda colocando no mercado US$ 1,0 bilhão em duas operações de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólares no mercado futuro, no fim da manhã e no fim dos negócios. Ainda assim, a moeda renovou a máxima histórica intraday a R$ 5,8750.

Em meio à forte desvalorização da moeda ao longo da semana e a expectativa de mais um corte da taxa Selic na próxima reunião, em junho, a próxima parada deve ser o nível psicológico dos R$ 6,00, diz o operador da corretora Renascença, Luís Felipe Laudísio. “Tanto a decisão como o tom mais suave [“dovish”] do Banco Central no comunicado levam o real a mais um dia de forte desvalorização”, acrescenta.

Amanhã, na agenda de indicadores, além da inflação no Brasil em abril, tem o relatório de empregos dos Estados Unidos, o payroll.

“Deverá trazer o pior dado da série histórica, com uma destruição de vagas que deve ficar acima de 20 milhões e levar a taxa de desemprego acima de 16%. A expectativa de deterioração do mercado de trabalho norte-americano já entrou no preço, se vier acima, pode esperar um estresse maior para o dólar”, reforça o economista da Guide Investimentos, Victor Beyruti.