Trump diz que tomou hidroxicloroquina como prevenção mesmo sem comprovação científica

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São Paulo – Em uma declaração surpreendente, o presidente norte-americano, Donald Trump, confirmou que tomou um coquetel de zinco com hidroxicloroquina há uma semana e meia como uma forma de prevenção contra a covid-19 mesmo diante de ausência de estudos que comprovem que a eficácia e segurança do medicamento contra o novo coronavírus.

“Tomei um comprimido por dia há uma semana e meia. Deveria ter contado isso para a imprensa três ou quatro dias atrás, quero ser transparente sobre isso com o povo norte-americano”, disse Trump em declarações à imprensa durante uma mesa redonda com empresários do setor de restaurantes na Casa Branca.

Questionado sobre a eficácia da hidroxicloroquina – medicamento tradicionalmente usado para a malária -, Trump disse que há evidências seguras de que o remédio pode ser usado contra a covid-19.

“Recebi evidências por telefone de que os resultados são positivos e, por isso, tomei. Não morri, estou aqui falando com vocês, não estou?”, afirmou. “Muitos profissionais da linha de frente como médicos e enfermeiras estão tomando hidroxicloroquina e estão tendo bons resultados”, acrescentou.

Trump garantiu que nunca esteve doente e que a medida é para garantir a saúde do presidente dos Estados Unidos.

“Eu não tenho sintomas e faço testes para covid-19 quase todos os dias. Sempre testei positivo. Preciso cuidar de mim da melhor maneira, afinal, sou o presidente dos Estados Unidos”, completou.

Os comentários de Trump acontecem semanas depois que a Food and Drug Administration (FDA, o equivalente à Anvisa no Brasil) emitiu um aviso sobre o medicamento, dizendo que ficou ciente de relatos de “graves problemas de ritmo cardíaco” em pacientes com o novo coronavírus que foram tratados com a droga contra a malária, geralmente em combinação com o antibiótico azitromicina, vulgarmente conhecido como Z-Pak.

Muitos médicos alertam que a hidroxicloroquina pode ter efeitos colaterais sérios, incluindo fraqueza muscular e arritmia cardíaca. Um pequeno estudo no Brasil foi interrompido por razões de segurança depois que pacientes com o novo coronavírus em uso de cloroquina, da qual a hidroxicloroquina é derivada, desenvolveram arritmia, incluindo alguns que morreram.

Na semana passada, outro estudo publicado na Rede Jama descobriu que o medicamento não ajudava os pacientes com covid-19 e, em vez disso, os colocava em risco aumentado de parada cardíaca.

Nos Estados Unidos, mesmo que não tenha sido aprovado para tratar o novo coronavírus, os médicos podem dar o medicamento a pacientes em uma prática comum e legal conhecida como prescrição “off label”, ou fora do rótulo, que significa que o medicamento está sendo usado para uma doença ainda não aprovada pela FDA.