São Paulo – O Ibovespa fechou em alta de 4,24%, aos 85.663,48 pontos, reagindo à reabertura de economias de países no exterior, à valorização de bancos e ao alívio trazido após a divulgação do vídeo da reunião ministerial do governo, na última sexta-feira. Com isso, o índice encerrou no maior patamar de fechamento desde o dia 10 de março (92.214,47 pontos), período marcado por pânico no mercado e circuit breakers em função do novo coronavírus.
O volume total negociado hoje foi de R$ 21,2 bilhões, mostrando uma leve redução devido à ausência de parte de investidores estrangeiros, em função de feriado nos Estados Unidos.
“Na semana passada, o mercado estava acreditando que o vídeo da reunião poderia ser devastador, como a leitura é de que ele não foi, houve uma reprecificação dos ativos. As ações no Brasil também ainda estão reprimidas, principalmente se compararmos Ibovespa com o SP500 [índice norte-americano]”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.
O analista da Necton Corretora, Gabriel Machado, concorda com a avaliação de que o vídeo da reunião ministerial indicado pelo ex-ministro Sergio Moro como prova de que o presidente Jair Bolsonaro interferiu na Polícia Federal (PF) não chegou a ser uma “bomba” e não deve aumentar o risco de um impeachment, apesar de mostrar diversas declarações polêmicas.
Além disso, Machado destaca que nos últimos dois meses o desempenho da Bolsa brasileira foi pior do que de outras Bolsas no exterior, principalmente, se comparada às norte-americanas, que caem pouco mais de 8% no ano, enquanto o Ibovespa caía mais de 30%. Por isso, vê o alívio na cena política dando espaço para a redução dessa diferença.
No exterior, por sua vez, a volta de atividades em diversos países e notícias positivas sobre vacinas contra o novo coronavírus seguem dando sustentação aos mercados acionários, que ignoram, por enquanto, a tensão sino-americana. Na sexta-feira, Pequim anunciou ter intenções de aplicar novas leis de segurança sobre Hong Kong, o que levou a uma reação da população e aumento da escalada da tensão com os Estados Unidos.
O índice ainda foi impulsionado por ações de bancos, com destaque para as do Banco do Brasil (BBAS3 10,31%) que disparam refletindo as declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que disse durante a reunião gravada que o banco está pronto para ser privatizado. O fato de a pauta do Senado para a semana não trazer projetos de lei que limitam juros ou aumentam impostos dos bancos também ajuda na alta do setor.
Entre as maiores altas do Ibovespa ficaram as ações da Via Varejo (VVAR3 15,97%), da CVC (CVCB3 13,07%) e da Sabesp (SBSP3 12,83%). Na contramão, as maiores queda do Ibovespa foram das ações de papel e celulose e de frigoríficos, que sentem a queda do dólar por serem exportadoras. É o caso da Suzano (SUZB3 -2,04%), da Klabin (KLBN11 -1,35%) e da Marfrig (MRFG3 -2,37%).
Na agenda de amanhã, no Brasil, será divulgado o IPCA-15, já nos Estados Unidos, serão divulgados indicadores como o índice de confiança do consumidor e o índice de atividade nacional do Federal Reserve de Chicago.
O analista da Necton vê o Ibovespa mantendo o tom positivo e podendo retornar aos 90 mil pontos, caso não ocorram novidades na cena política. “Mas sabemos que esse governo dificilmente fica muito tempo numa calmaria. Sexta-feira também temos o PIB do primeiro trimestre, que também pode ser um divisor importante a depender do resultado”, disse.
O dólar comercial fechou em forte queda de 2,11% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4570 para venda, no menor valor de fechamento no mês, refletindo o bom humor local após investidores digerirem o tão aguardado vídeo da reunião ministerial em abril e concluírem que os riscos políticos foram diluídos já que o conteúdo não “tinha novidade”.
“Além de acompanhar o exterior, com a reabertura de algumas economias europeias, o que enfraquece a moeda norte-americana frente a outras divisas, aqui também ajudou a trazer um certo alívio já que o vídeo da reunião ministerial [na sexta-feira] diminuiu os ruídos políticos”, comenta o gerente de mesa da Correparti, Guilherme Esquelbek.
Ele acrescenta que, com os feriados no estado de São Paulo, Reino Unido e nos Estados Unidos, a liquidez foi fraca e um movimento de desmonte de posições cambiais por parte de tesourarias de bancos e investidores estrangeiros corroborou para a moeda renovar mínimas sucessivas, chegando a operar abaixo de R$ 5,45.
Amanhã, com a volta do mercado norte-americano aos negócios, o diretor de câmbio do grupo Ouromimas, Mauriciano Cavalcante, diz que não vê espaço para uma correção da moeda e projeta novas mínimas.
“O viés mudou e agora está de baixa. Eu acho que ele vai buscar os R$ 5,40, e depois patamares para baixo. E se não tivermos notícias que elevem as tensões entre Estados Unidos e China, eu não vejo espaço para correção”, avalia.