São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,13%, aos 86.949,09 pontos, voltando a acelerar perdas no fim do pregão diante da virada das Bolsas norte-americanas, que passaram a cair após anúncio de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fará uma coletiva de imprensa amanhã para falar da China. O índice também refletiu o sentimento de cautela em relação à cena política local, com destaque para o embate entre o governo de Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).
“Bolsas viraram feio lá fora com esse anúncio da coletiva do Trump para falar sobre a China na sexta-feira. Ele deverá também assinar medidas contra as empresas de mídias sociais daqui a pouco”, disse o analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, por meio de sua página no Twitter.
O horário da coletiva de imprensa não foi indicado pela Casa Branca até o momento. Espera-se, no entanto, que ele anuncie sanções contra Pequim. No meio da semana, Trump disse que daria “uma resposta forte” caso a China adotasse uma lei de segurança sobre Hong Kong, que foi aprovada hoje. A lei de segurança nacional tem o apoio de altos funcionários de Hong Kong, mas foi recebida com uma onda de protestos na cidade, já que amplia o domínio da China sobre a região.
O presidente também anuncia agora um decreto que tem como alvo mídias sociais, uma reação após ele ter tuítes marcados pelo Twitter. Mais cedo, Wall Street subia depois que indicadores, como os pedidos de seguro-desemprego, desaceleraram nesta semana, indicando que o pior da crise causada pelo novo coronavírus já pode ter passado.
Já no Brasil, o ambiente político segue conturbado, com conflitos entre o Planalto e o STF deixando investidores menos seguros. A operação da Polícia Federal (PF) deflagrada ontem – que investiga um esquema de divulgação de “fake news” e teve como alvo bolsonaristas declarados – provocou fortes reações do governo e do presidente Jair Bolsonaro. O presidente alega que a liberdade de expressão foi atacada pelo o ministro do STF, Alexandre de Moraes, que ordenou os mandados de busca e apreensão.
Moraes também ordenou que a PF colha o depoimento do ministro da Educação, Abraham Weintraub, contendo explicações sobre as declarações feitas por ele na reunião ministerial de 22 de abril. Na ocasião, ele disse ser a favor de botar “esses vagabundos todos na cadeia. Começando no STF”. No entanto, o governo tenta impedir o depoimento na Justiça.
“Há uma falta de consenso político e o estilo desse governo já sabemos como é, é esse, de conflito”, observa o analista de investimentos do banco Daycoval, Enrico Cozzolino.
Entre as ações, as maiores quedas do Ibovespa foram do Iguatemi (IGTA3 -6,22%), da Yduqs (YDUQ3 -5,24%) e da Multiplan (MULT3 -5,50%). Já as maiores altas foram do IRB Brasil (IRBR3 5,841%), da Braskem (BRKM5 5,07%) e da Usiminas (USIM5 5,08%).
Amanhã, o último pregão do mês, pode trazer volatilidade, já que além da esperada coletiva do Trump, investidores devem ficar atentos ao discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, às 12h, e a dados como os de renda e gastos pessoas de abril. Já no Brasil, o destaque será a divulgação do PIB do primeiro trimestre.
O dólar comercial fechou em forte alta de 1,96% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3860 para venda, interrompendo uma sequência de seis quedas seguidas, refletindo uma piora no exterior após declarações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o que fez a moeda disparar perto do fim da sessão que, apesar da alta firme, exibiu forte volatilidade.
“Essa piora de última hora aqui no câmbio e em outros mercados, possivelmente, foi por conta de uma declaração do Trump de que dará uma entrevista amanhã para falar sobre a questão dos Estados Unidos com a China”, comenta a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, Cristiane Quartaroli.
É esperado que ele anuncie sanções contra o país asiático, já que no meio da semana, Trump disse que daria “uma resposta forte” caso a China adotasse uma lei de segurança sobre Hong Kong. Após a notícia, o dólar futuro também disparou, renovando máximas sucessivas em busca do patamar de R$ 5,40.
O analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho, destaca que o comportamento mais “fraco” do dólar no exterior “não serviu” de referência para o cenário local. “Lá fora, o contentamento diante do retorno gradual das economias e os últimos estímulos financeiros de grupos econômicos em combate à covid-19 apagou o negativismo frente à divulgação de uma contração maior do que a esperada do PIB [Produto Interno Bruto] norte-americano”, avalia.
O analista acrescenta que, aqui, ruídos entre os poderes executivo e judiciário e a véspera da formação de preço da taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês levaram investidores à recomposição de “posições compradas” após a forte queda nos últimos dias.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais forte, os destaques ficam para os dados sobre renda e gastos pessoas nos Estados Unidos, em abril, além de declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, e a entrevista de Trump.
Na agenda doméstica, tem os números do PIB no primeiro trimestre, no qual a expectativa é de queda de 1,5% na comparação com o último trimestre de 2019, conforme levantamento do Termômetro CMA.
“O PIB não deve pegar um grande efeito da crise do novo coronavírus na economia, mas já é esperado um resultado mais fraco”, diz a estrategista do Ourinvest, já que as medidas de isolamento social foram adotadas em parte do país, como São Paulo e Rio de Janeiro, em meados de março.