São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 0,91%, aos 96.746,55 pontos, em linha com a pausa vista na maioria das Bolsas no exterior, com investidores aproveitando para embolsar lucros depois de sete dias seguidos de alta, sequência que não acontecia desde fevereiro de 2018. O mercado também mostra um pouco de cautela antes da decisão do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre a taxa de juros, que será anunciada amanhã.
No entanto, após chegar a cair mais de 2% perto da abertura do pregão, o índice reduziu perdas acompanhando o movimento dos índices norte-americanos, com o Nasdaq voltando a subir e a bater recordes. Apesar da realização de hoje, a leitura é que os mercados acionários seguem resilientes e amparados pela ampla liquidez após estímulos monetários e fiscais, além de a reabertura de economias trazer melhores perspectivas. O volume total negociado foi de R$ 31,4 bilhões.
“A realização de lucros que observamos hoje é natural e saudável inclusive para a continuidade do movimento de alta que observamos”, disse o consultor de investimentos independente, Renan Sujii.
Para Sujii, embora hoje tenha ocorrido uma parada no rali, há fatores que podem levar a onda positiva a continuar, como a liquidez abundante no mercado global, o processo de reabertura das economias e redução da Selic, que segue levando investidores a saírem da renda fixa e buscarem maiores rendimentos em Bolsa.
“Vejo o mercado precificando mais o copo meio cheio, privilegiando os catalisadores positivos mais do que os riscos (como a incerteza sobre o real impacto da economia e a possibilidade de uma segunda onda de contaminações). O movimento tem sido capitaneado pelo fluxo e contra o fluxo não há argumento, como dizemos no mercado”, afirmou o consultor.
Entre as ações, as de bancos, que têm grande peso no Ibovespa, fecharam em queda, embora tenham reduzido perdas em relação à manhã, caso do Bradesco (BBDC4 -2,21%) e do Santander (SANB11 -1,14%). Já as maiores quedas do índice foram da da Gol (GOLL4 -6,62%) e da Azul (AZUL4 -5,66%), que mostraram volatilidade e estavam entre as maiores quedas ontem.
Na contramão, as maiores altas do Ibovespa foram do IRB Brasil (IRBR3 12,51%), da Multiplan (MULT3 4,72%) e do Iguatemi (IGTA3 4,86%). Os papéis de shoppings centers passaram a subir após uma notícia de que a Prefeitura de São Paulo deve liberar os estabelecimentos para reabrirem na próxima quinta-feira (11). Outras cidades também têm liberado reaberturas de shoppings gradualmente.
Na agenda de amanhã, o grande destaque é a decisão do Fed sobre a taxa de juros, às 15h. Embora a expectativa do mercado seja de manutenção da taxa, devem ser observadas sinalizações que podem ser dadas pelo comunicado e pelo presidente do Fed, Jerome Powell. Ainda nos Estados Unidos, será divulgado o índice de preços ao consumidor. Já no Brasil, será publicado o Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de maio. Na China, também serão esperados índices de preços ao consumidor a ao produtor.
O dólar comercial fechou em alta de 0,78% no mercado à vista, cotado a R$ 4,8940 para venda, no terceiro pregão seguido abaixo do patamar de R$ 5,00, em dia de realização de lucros no mercado externo e doméstico, o que levou a moeda norte-americana a se valorizar frente às principais moedas pares e de países emergentes após perdas recentes.
O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, reforça o movimento de realização de lucros após fortes quedas dos últimos dias, aqui e lá fora, onde o ajuste também foi observado no mercado acionário em um dia de “menor apetite” por risco.
“Investidores também estão no aguardo da decisão de política monetária do Federal Reserve [Fed, o banco central norte-americano] amanhã”, comenta. Ele acrescenta que, após operar nas máximas da sessão a R$ 4,94, a moeda arrefeceu os ganhos na segunda parte dos negócios em um comportamento “lateral” à espera do “evento mais importante da semana”.
Com a decisão do Fed no foco dos investidores amanhã, o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Rosa, destaca que investidores estão “ansiosos” pelo discurso do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, que deverá reforçar os esforços do Fed para sustentar a economia norte-americana. Também serão divulgadas as projeções econômicas para os próximos meses no país.
“Diante disso, minha expectativa é de que o dólar tende a continuar caindo, uma vez que o Fed deve reforçar a postura de seguir com mais estímulos para a economia. Além disso, na medida em que indicadores mostram que as economias estão se recuperando mais rápido do que o esperado na China, na Europa e nos Estados Unidos, somados a injeção de liquidez, isso tende a sustentar essa busca por risco observada nos últimos dias”, reforça.