São Paulo – O Ibovespa encerrou em alta pelo terceiro pregão consecutivo, com ganhos de 0,60%, aos 96.125,24 pontos, amparado principalmente pelas ações do Itaú Unibanco e pela queda da Selic anunciada ontem pelo Comitê de Política Monetária (Copom).
No entanto, o índice reduziu ganhos perto do fim do pregão refletindo a piora das Bolsas norte-americanas e a cautela diante da cena política local, depois da prisão do ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz. O volume total negociado foi de R$ 27,7 bilhões.
“A expectativa de novos cortes da Selic é motivo de novas compras na Bolsa. Com o IBC-Br e os últimos dados da economia real tão enfraquecidos, os agentes de mercado ainda enxergam essa necessidade de queda na taxa de juros e estímulos na economia brasileira”, disse o analista da Terra Investimentos, Régis Chinchila.
Ontem, o Copom cortou a Selic em 0,75 ponto percentual (pp) para 2,25% ao ano como o esperado pelo mercado, mas sinalizou que pode ser necessário mais algum ajuste residual na taxa. Já hoje o índice de atividade do Banco Central, o IBC-Br, mostrou queda de 9,73% em abril ante março e de 15,09% na base anual.
O diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, também acredita que o efeito de juros baixos prevalece e deve continuar impulsionando a Bolsa, já que faz com que investidores migrem de aplicações em renda fixa, cada vez menos rentáveis, para a renda variável. Além disso, explica que investidores têm embutido riscos, como o político, principalmente no dólar, que subiu pelo sétimo dia seguido, enquanto continuam comprando Bolsa.
Entre as ações, as do Itaú Unibanco (ITUB4 3,92%) se destacaram e ficaram entre as maiores altas. Para Zuffo, além de bancos em geral “estarem tirando o atraso” depois de terem caído com a pandemia, o Itaú sobe mais que seus pares em função de um desempenho favorável das ações da XP Inc, da qual é detentor de quase 50%. Um relatório do BTG Pactual também destacou hoje que a performance dos papéis da XP deveria levar a uma melhor avaliação do Itaú.
Ao lado do Itaú, ficaram entre as maiores altas as ações da Cielo (CIEL3 8,88%), do BTG Pactual (BPAC11 8,33%) e da SulAmerica (SULA11 5,09%). Na contramão, as maiores perdas foram da Cemig (CMIG4 -3,15%), da Multiplan (MULT3 -2,96%) e da Energisa (ENG11 -3,23%).
No exterior, as Bolsas norte-americanas fecharam mistas e mostraram volatilidade diante do aumento de casos de coronavírus em vários estados do país, além de indicadores piores do que o esperado, como os pedidos de seguro-desemprego.
Amanhã, o dia será de poucos indicadores, mas investidores devem ficar atentos ao discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, às 14h. Além disso, os desdobramentos da prisão de Queiroz continuarão no radar.
Para o analista político da Levante Investimentos, Felipe Berenguer, a prisão de Queiroz tem potencial para elevar novamente as preocupações do mercado com o cenário político. “Queiroz deve prestar depoimentos ainda hoje para o Ministério Público do Rio de Janeiro e as investigações devem avançar, levando eventualmente ao envolvimento de Flávio Bolsonaro. Caso isso ocorra, será negativa a repercussão para o governo, dada a proximidade dos filhos”, afirmou, em relatório.
O dólar comercial fechou em forte alta de 2,13% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3700 para venda, engatando a sétima alta seguida e no maior valor de fechamento desde 1 de junho, influenciado pela reagindo à sinalização do Banco Central (BC) que poderá seguir com o afrouxamento monetário na próxima reunião. Ainda no cenário doméstico, a prisão de Flávio Queiroz, ex-assessor do senador e filho do presidente Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, eleva o risco político, o que levou investidores à proteção.
“A prisão, de caráter preventivo, não tem prazo para ser relaxada, o que implica necessariamente na manutenção da cautela de parte dos investidores, por suspeitar que em algum momento, o presidente [Jair] Bolsonaro, de temperamento explosivo, poderá aprofundar a interminável crise entre os poderes”, avalia o diretor da Correparti, Ricardo Gomes.
Perto do fim do pregão, a moeda acelerou os ganhos, renovando máximas sucessivas ao redor de R$ 5,39, após o avanço da divisa no exterior e com a confirmação da saída do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub do governo Bolsonaro. “Pontuando a segunda derrota do governo em um único dia”, acrescenta Gomes.
Ontem, após o fim dos negócios, o Copom, além de promover o oitavo corte seguido da taxa básica de juros (Selic), saindo de 3,00% para 25,25% ao ano, sinalizou no comunicado que deverá fazer um ajuste “residual” na taxa, o que dá a entender, segundo o diretor da corretora Mirae, Pablo Spyer, que o BC deverá “arredondar a Selic” em 2,00%. Ou seja, promovendo um corte de 0,25 ponto percentual (pp), possivelmente, na próxima reunião, em agosto.
Amanhã, com a agenda de indicadores mais fraca, o destaque é a participação do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, em um evento da autoridade monetária. Para Spyer, as declarações de Powell não devem trazer novidades, uma vez que ele participou de duas audiências nesta semana no Senado e na Câmara dos Estados Unidos.