São Paulo – Após cair mais de 2% na última sexta-feira e mostrar volatilidade pela manhã, o Ibovespa fechou em alta de 2,02%, aos 95.735,35 pontos, mostrando uma recuperação em linha com as Bolsas norte-americanas. Indicadores melhores do que o previsto e esperanças de que a economia se recupere, amparada por medidas de estímulos, deram sustentação aos índices, apesar do aumento de casos de coronavírus.
Mais cedo, foi divulgado que as vendas pendentes de imóveis residenciais nos Estados Unidos subiram 44,3% em maio ante abril, mais do que o dobro da alta prevista por analistas, que era de 15%, embora os dados de abril tenham sido fracos. Após os números, as Bolsas norte-americanas aceleraram ganhos e se firmaram em alta. Wall Street ainda refletiu notícias corporativas e altas de papéis como os da Boeing, Apple, entre outros.
Além de dados continuarem alimentando esperanças na recuperação econômica, o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo, afirma que apesar de casos de covid-19 crescerem, o número de mortes não cresce no mesmo ritmo e a percepção é que as novas medidas de isolamento social não devem ser tão duras como antes. “As medidas de isolamento vão ter impacto na economia sim, não é desprezível, mas vejo mais como um atraso na abertura, medidas mais pontuais e não de fechamento como vimos em abril”, disse.
Para o estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, os mercados também mostram resistência em meio a contínuas medidas de estímulo. “A explicação para isso é a resiliência da economia devido às medidas de estímulo orquestradas pelos principais bancos centrais. Com recursos abundantes e juros baixos é mais fácil sustentar os preços dos ativos”, afirmou, em relatório.
Hoje, o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) iniciou oficialmente um programa de financiamento de US$ 500 bilhões para apoiar a emissão de dívida por parte de grandes empresas, o mais recente de nove programas de emergência em execução para conter os efeitos da pandemia.
Já na hora do fechamento dos mercados o presidente de Fed, Jerome Powell, ainda afirmou que a autoridade monetária segue comprometida em usar todas as ferramentas para apoiar o funcionamento dos mercados e da economia, embora ainda haja muita incerteza.
Entre as ações, as maiores altas do índice foram das ações da Embraer (EMBR3 7,79%), da Via Varejo (VVAR3 7,76%) e da IRB Brasil (IRBR3 – 5,31%).
Na contramão, a maiores quedas foram da BRF (BRFS3 -2,37%), da TIM (TIMP3 -1,35%) e da CSN (CSNA3 -1,12%). Segundo Zuffo, o banco Barclays reduziu a recomendação para a BRF de “overweight” (equivalente à compra) para “equalweight” (equivalente à manutenção), além disso, os papéis de frigoríficos em geral estão inspirando mais cautela em meio a suspensão de exportações de algumas unidades em função do aumento de casos de coronavírus entre funcionários.
Na agenda de amanhã, investidores devem observar principalmente novos indicadores que serão divulgados nos Estados Unidos, como o índice de confiança do consumidor de junho e o índice de atividade das empresas de Chicago do mesmo mês. Powell ainda dará depoimento às 13h30 a um comitê da Câmara dos Deputados.
Analistas também alertam que o crescimento de casos de coronavírus seguirá no radar e trazendo volatilidade, conforme medidas de isolamento social voltem a ser tomadas.
O dólar comercial fechou em queda de 0,71% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4240 para venda, interrompendo uma sequência de três altas seguidas, em mais uma sessão de forte volatilidade em meio à correção local e notícias sobre o desenvolvimento de uma vacina contra o novo coronavírus, o que elevou o otimismo de investidores no mercado externo.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a “costumeira volatilidade” na moeda, no qual registrou mínimas de R$ 5,3950 e máximas de R$ 5,4730. “Acompanhou o exterior na queda após o dado de vendas pendentes de imóveis nos Estados Unidos e por relatos sobre uma potencial vacina chinesa para o coronavírus”, comenta. Ele acrescenta que à tarde, porém, o dólar teve um comportamento lateral.
Para o diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, a moeda firmou queda após os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) em maio, no qual os números vieram melhores do que o esperado, ao fechar 331.901 vagas, ante a criação de 703.921 postos de trabalho e fechamento de 1,035 milhão de vagas, no mês passado. No acumulado do ano, 1,144 milhão de postos já foram fechados.
Amanhã, último dia do trimestre e do semestre, o movimento poderá ter “alguma pressão”, diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. “Último dia do mês e tem a disputada pela [formação de preço da] taxa Ptax”, comenta. Ela acrescenta que, de qualquer forma, será uma sessão de volatilidade.