No último pregão do mês, mercados têm forte volatilidade

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São Paulo – No último dia do mês e do primeiro semestre, o Ibovespa mostrou instabilidade e acelerou a queda na reta final do pregão pressionado pelas ações de bancos, fechando com perdas de 0,70%, aos 95.055,82 pontos. Dessa forma, o índice se descolou das Bolsas norte-americanas, que conseguiram se recuperar apesar do avanço de novos casos de coronavírus. O volume total negociado foi de R$ 27,6 bilhões.

Apesar da queda de hoje, o Ibovespa fechou em alta pelo terceiro mês seguido, com ganhos de 8,76% em junho e de 30,18% no segundo trimestre, reduzindo as perdas depois de ter despencado em março (-29,90%) em função do pânico causado pela pandemia. Na primeira metade do ano, a queda do índice ainda é de 17,80%.

O head da mesa de derivativos da Genial Investimentos, Roberto Motta, destaca que em finais de mês, e ainda de trimestre e semestre, como hoje, ocorrem “ajustes pontuais em carteiras domésticas e globais”, o que aumenta a volatilidade devido a fluxos.

Foi o caso de ações de bancos, que já pesavam negativamente, mas aceleraram perdas no fim do dia, como o Itaú Unibanco (ITUB4 -3,88%), o Banco do Brasil (BBAS3 -3,85%) e do Santander (SANB11 -3,61%), que ficaram entre as maiores quedas do Ibovespa. Ainda entre as maiores perdas ficaram as ações da Embraer (EMBR3 -3,80%) e do IRB Brasil (IRBR3 -11,71%).

No exterior, as Bolsas norte-americanas também tiveram um dia de volatilidade, acelerando ganhos apenas perto do fechamento. Os casos de covid-19 seguem crescendo no país, com avanços contínuos nos estados da Flórida, Arizona e na Califórnia, o que faz alguns governadores voltarem a adotar medidas de estímulo e traz incertezas sobre o ritmo da retomada econômica. Ontem, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a disseminação da coronavírus acelerou apesar de progressos, e que teme uma piora.

Por outro lado, a liquidez segue elevada nos mercados e o secretário do Tesouro norte-americano, Steve Mnuchin, reiterou que há mais de US$ 250 bilhões disponíveis para completar programas de estímulos já existentes ou lançar uma nova rodada. O secretário fez as afirmações em depoimento em comitê da Câmara dos Deputados ao lado do presidente do Fed, Jerome Powell, que por sua vez, mostrou certa cautela ao afirmar que uma segunda onda de covid-19 nos Estados Unidos provocaria deterioração na confiança da população.

Na agenda de amanhã, investidores devem acompanhar uma série de indicadores que serão divulgados e podem dar mais sinais sobre a retomada econômica. Nos Estados Unidos, o destaque são os dados de criação de empregos no setor privado em junho, além do PMI sobre a atividade industrial do mesmo mês e da ata da última reunião do Fed. Na China e em alguns países europeus, como a Alemanha, também serão divulgados PMIs sobre a atividade industrial.

Para o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, em alguns dias a preocupação com a pandemia tem pesado mais para os ativos, embora os sinais sejam de que bancos centrais vão continuar a prover ampla liquidez, o que acredita que pode inflacionar ativos, que correm o risco de ficarem cada vez mais descolados de fundamentos.

Depois de um semestre turbulento com a eclosão da pandemia, ele ainda destaca será preciso acompanhar os indicadores fechados do trimestre, a temporada de balanços corporativos e as eleições presidenciais norte-americanas na próxima metade do ano, sendo que a única certeza é que “a volatilidade veio para ficar”.

O dólar comercial fechou em alta de 0,22% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4360 para venda, em sessão volátil em meio à formação de preço da taxa Ptax de fim de mês, na primeira parte dos negócios, em ajustes no último pregão do semestre e com o exterior reagindo as declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) sobre a recuperação da economia no país.

Com isso, a moeda fecha o mês em alta de 1,85%, enquanto no trimestre, se valorizou em 4,5%, engatando o segundo trimestre de alta. No acumulado de seis meses, a moeda teve forte valorização de 35,5%, com o real tendo um dos piores desempenhos entre as moedas globais no ano.

“Termina o semestre mais conturbado da história do mercado financeiro e provavelmente, da humanidade no século 21. De um início em que uma série de países iniciava um ciclo de crescimento mais modesto e outros, como o Brasil, emitiam sinais positivos de adentrar um contraciclo, todos foram igualmente inseridos em um dos piores cenários recessivos globais”, avalia o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, sobre a crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.

Vieira ressalta que a liquidez injetada pelas autoridades monetárias do mundo nos últimos meses “foi grande o suficiente” para que boa parte das bolsas de valores quase retomasse o recorde numérico atingido em diversos mercados até março deste ano.

“Porém, o mesmo não ocorre com a economia real, ainda influenciada por idas e vindas da pandemia”, diz. Aqui, o índice Ibovespa fechou o semestre com queda de 17,2%, enquanto se valorizou em 31,2% entre abril e junho.

A agenda de indicadores amanhã estará mais pesada com os dados do mercado de trabalho dos Estados Unidos no setor privado (ADP), o índice da atividade industrial – no qual é a expectativa é atingir 49,5 pontos -, além da leitura revisada dos índices dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da atividade industrial, todos números de junho.

Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, os números podem pesar na precificação dos ativos amanhã, no qual podem trazer uma leitura da velocidade de recuperação da economia dos Estados Unidos. Porém, o viés para a primeira sessão do segundo semestre do ano e para os próximos dias segue de volatilidade na moeda.