São Paulo – Após dois dias seguidos de altas expressivas, o Ibovespa fechou em queda de 1,21%, aos 100.553,27 pontos, caindo mais do que outras Bolsas no exterior, com investidores embolsando lucros em meio a dúvidas sobre o ritmo da retomada econômica e ruídos sobre a reforma tributária. O volume total negociado foi de R$ 23,9 bilhões.
Para o sócio e head de produtos da Monte Bravo Investimentos, Rodrigo Franchini, é natural um ajuste de preços, sendo que a subida recente da Bolsa também não teve tantos fundamentos e os movimentos têm sido mais fortes em meio a liquidez elevada dos mercados. “É natural ter uma correção, as Bolsas não vão conseguir subir o tempo todo, além disso, o mercado está muito líquido, os fluxos ficam mais exagerados, seja para cima ou para baixo”, disse.
O operador de renda variável da Commcor Corretora, Ari Santos, também viu “uma realização de lucros saudável”. “O Ibovespa já está subindo mais de 6% em julho e não adianta ir direto de 99 mil para 105 mil pontos que não haverá sustentação”, disse.
No cenário externo, as Bolsas norte-americanas fecharam em leve queda com perdas de ações do setor de tecnologia, receio sobre o aumento de casos de coronavírus e após uma série de indicadores. Os dados norte-americanos divulgados hoje, como vendas no varejo, vieram, em geral, melhores do que o esperado, apesar dos pedidos de seguro-desemprego terem caído um pouco menos que o previsto.
Na China, por sua vez, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu mais do que o estimado por analistas no segundo trimestre e a produção industrial também subiu, porém, as vendas no varejo decepcionaram e recuaram em junho, mostrando a falta confiança do consumidor e que a retomada não será fácil.
Além dos indicadores mistos e de investidores preferirem dar uma pausa no rali recente, Franchini cita algumas incertezas em torno da reforma tributária, embora as conversas entre o Congresso e o governo estejam evoluindo. “Primeiro, o Guedes falou sobre a criação de um imposto sobre comércio eletrônico, mas depois o Maia fala que qualquer alta de imposto é difícil de ser aprovada”, disse.
A proposta do Planalto para a reforma tributária ainda não foi formalizada, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, já indicou alguns pontos, como um novo imposto sobre transações no comércio eletrônico, que poderia ser uma espécie de substituto à volta da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), e estudos para desonerar a folha de pagamentos. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, também disse que quer debater a reforma em comissão mista, mas ainda aguarda a proposta do governo.
Na agenda de amanhã, há pouco indicadores, com destaque para o índice de confiança do consumidor de junho nos Estados Unidos. Investidores ainda devem acompanhar a evolução da pandemia e a discussão em torno da reforma tributária.
Para o sócio da Monte Bravo, apesar de a queda mais expressiva de hoje provavelmente ser pontual, pode ser difícil o Ibovespa se manter acima de 100 mil pontos no curto prazo, com alguma volatilidade podendo se manter e com a temporada de balanços começando no fim de julho. “Eu vejo esse patamar de 100 mil esticado, não me surpreenderia se o índice voltasse para 95 mil pontos”, disse.
O dólar comercial fechou em queda de 1,02% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3290 para venda, descolado do exterior, em dia de correção no mercado doméstico e alívio local acompanhando o movimento iniciado com indicadores melhores do que o esperado na China e nos Estados Unidos.
“O bom humor dos investidores com dados melhores em relação às previsões ajudou a inverter o sinal negativo na abertura dos negócios”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Ele acrescenta o movimento descolado do exterior, em viés de correção após a alta exibida ontem, no qual colocou o real com o melhor desempenho entre as moedas de países emergentes.
“Aqui, o lado negativo ficou por conta da piora do risco-país [medido pelos swaps de default de crédito -CDS] reforçando a manutenção do cenário de incertezas e desconfianças em relação à capacidade do governo em avançar com as reformas estruturais”, reforça.
Amanhã, com a agenda de indicadores esvaziada, o analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho, aposta que pode haver uma correção na moeda local após fechar com mais de 1% de queda na contramão do exterior.
“Na véspera do fim de semana sempre pode haver cautela, além de investidores acompanharem o fluxo de notícias no exterior e aqui. Mas deve ser um dia mais morno, com poucos negócios”, diz.