Fed se concentrará em orientações futuras e controle de curva de juros

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São Paulo – O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) deve manter sua taxa básica de juros na faixa entre zero e 0,25% na reunião de política monetária que começou hoje e discutir orientações futuras mais explícitas quanto à inflação, enquanto debates sobre o controle da curva de juros devem ser aprofundados, segundo analistas consultados pela Agência CMA.

“No Comitê Federal de Mercado Aberto [Fomc, na sigla em inglês], nenhuma ação adicional é esperada neste momento, mas as comunicações sobre orientações futuras são essenciais”, disse o analista do Societé Générale, Klaus Baader.

O banco francês destaca, em relatório, as indicações do Fed de que os juros serão mantidos baixos por um longo período de tempo, e a evolução da taxa dependerá da economia. “A orientação futura é seu plano de jogo para a condução de políticas em meio a taxas baixas. Esperamos mais comunicação, mas compromissos mais fortes podem ter que esperar”.

O estrategista sênior do Rabobank, Philip Marey, disse que o Fomc provavelmente debaterá sobre como fornecer orientações futuras mais explícitas relacionadas à inflação. “Isso poderia permitir que a inflação ultrapassasse a meta de 2% do Fed para compensar os déficits passados e se encaixaria bem na revisão da estrutura da política monetária”, disse.

Marey destacou que, durante a reunião do Fomc de junho, “as orientações futuras com base em resultados receberam mais apoio do que as orientações futuras com base no calendário, com uma ligeira preferência por vinculá-la à inflação e não ao desemprego”.

Além disso, os defensores de orientações futuras com na inflação com base viram a possibilidade de uma superação temporária da meta de 2% do Fed, de acordo com a ata da reunião do Fomc de junho.

O Fed ainda teria uma meta simétrica de 2% para a inflação, de acordo com o economista da Capital Economics, Paul Ashworth, mas levar em consideração a média de inflação permitiria considerar explicitamente que a inflação ultrapassou a meta por quase uma década.

“Não achamos que o Fed revelará uma meta de inflação média explícita nesta próxima reunião, que inclui detalhes precisos sobre exatamente até que ponto acima de 2% o Fomc estaria disposto a permitir que a taxa de inflação acelere ou por quanto tempo. Mas, como primeiro passo para isso, ele pode introduzir uma nova linguagem em seu comunicado”, disse Ashworth.

CURVA DE JUROS

O comitê do Fed também deve se aprofundar nas discussões relacionadas ao controle da curva de juros, que envolve definir uma meta para a taxa que é aplicada em determinado ponto da curva. A ferramenta não é utilizada pelo banco central norte-americano desde a Segunda Guerra Mundial.

“O ressurgimento da covid-19, o aumento da agitação civil e as crescentes tensões com a China tornam provável que o Fed – por não querer reduzir a taxa de juros para território negativo – tenha que recorrer ao controle da curva em algum lugar mais adiante, apesar da hesitação atual”, afirmou Marey, do Rabobank.

“Um fracasso do governo federal em continuar com apoio político suficiente à economia real pode acelerar o processo de pensamento do Fed”, acrescentou ele.

A ata do Fomc de junho mostrou que os membros discutiram sobre uma possível estratégia para limitar os juros dos títulos do Tesouro, comprometendo-se a comprar os montantes necessários para mantê-los em determinados níveis, como forma de reforçar suas intenções de manter a taxa baixa.

“Nos últimos meses continuou a especulação de que o Federal Reserve poderia eventualmente adotar uma política de controle da curva de juros”, segundo analistas do Wells Fargo, em relatório.

“É provável que a discussão continue na próxima reunião, e a abordagem do banco central da Austrália [RBA, na sigla em inglês] nos impressiona como o mais provável de reunir mais discussões”, como sinalizado na ata do Fed, acrescentaram.

Em março deste ano, o RBA adotou sua política de controle de curva de juros, visando a juros de títulos do governo em três anos de 0,25%. O Fed também deve discutir a experiência do Japão, que adotou o controle em setembro de 2016, e a dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial.

BALANÇO DE ATIVOS

Por fim, os analistas consultados pela Agência CMA destacaram que o Fed deve continuar comprando ativos e aumentando seu balanço, depois de uma redução recente em seu tamanho.

“O crescimento do balanço desacelerou no final da primavera e início do verão [no Hemisfério Norte]. O Fed está muito disposto a continuar expandindo seu balanço por meio de compras de Treasuries e títulos lastreados em hipotecas. Além disso, muitos os mecanismos da covid-19 podem crescer”, segundo analistas do Société Génerale, em relatório.

No mês passado, o Fomc disse que manteria seu ritmo recente de compras de títulos do Tesouro e hipotecas, encerrando reduções semanais graduais. O Fed afirmou que compraria pelo menos US$ 80 bilhões em Treasuries e US$ 40 bilhões em títulos hipotecários, líquidos dos títulos vencidos, por mês.

Segundo Ashworth, com a demanda baixa pelos mecanismos de empréstimos emergenciais devido à pandemia, o Fed diminuiu drasticamente o ritmo de suas compras de Treasuries, e o balanço começou a encolher. O Tesouro tinha US$ 1,7 trilhão em depósitos no Fed na semana passada, ante menos de US$ 400 bilhões antes da pandemia ganhar força, disse.

“Não esperamos que o Fed mude de estratégia nesta próxima reunião. Mas as autoridades terão que considerar suas opções se o balanço continuar encolhendo. Eles poderiam comprar mais títulos de empresas no mercado secundário”, uma das formas previstas nos mecanismos de empréstimos emergenciais para controlar a demanda.

Além disso, o Fed pode optar por aumentar o ritmo das compras de títulos do Tesouro novamente, o que poderia “impedir uma contração mais problemática nos saldos de reservas e também poderia ajudar a fortalecer a credibilidade de qualquer mudança para uma meta de inflação média”.