BCE não prevê riscos deflação na zona do euro nos próximos anos

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São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) não prevê deflação na zona do euro nos próximos anos, e os riscos de deflação foram reduzidos desde junho, disse a presidente da instituição, Christine Lagarde, em coletiva de imprensa.

O BCE prevê taxa de inflação em 0,3% na eurozona em 2020, em 1% em 2021 e
em 1,3% em 2020. “As projeções econômicas do BCE não veem riscos de deflação”, disse ela, acrescentando que os riscos de deflação estavam altos em junho, e desde então foram reduzidos.

Segundo ela, os dados de preços ao consumidor de agosto foram motivo de atenção para alguns. “Não vemos dessa forma”. O índice de preços ao consumidor da zona do euro caiu 0,2% em agosto em base anual após a alta de 0,4% de julho. O núcleo do índice subiu 0,4%, após subir 1,2% em julho.

Lagarde reconheceu, porém, que a eurozona deve continuar em deflação nos próximos meses, antes de voltar à inflação no início de 2021, “com base nos preços atuais e futuros do petróleo e tendo em conta a redução temporária da taxa de imposto sobre valor agregado alemã”.

A presidente do BCE disse ainda que, no curto prazo, as pressões sobre os preços permanecerão moderadas devido à fraca demanda, menores pressões salariais e apreciação da taxa de câmbio do euro, apesar de algumas pressões de alta sobre os preços relacionadas com restrições da oferta.

“No médio prazo, a recuperação da demanda, apoiada por políticas monetárias e fiscais acomodatícias, exercerá pressão de alta” sobre os preços, afirmou. “Os indicadores baseados no mercado das expectativas de inflação a mais longo prazo voltaram aos seus níveis anteriores à pandemia, mas ainda permanecem muito moderados, enquanto as medidas baseadas em pesquisas permanecem em níveis baixos”.

TAXA DE CÂMBIO

Lagarde disse também que o BCE vai avaliar com cuidados a evolução da taxa de câmbio do euro, uma vez que isso afeta a taxa de inflação na eurozona, mas a meta da política monetária é a estabilidade de preços.

“No atual ambiente de elevada incerteza, o Conselho do BCE vai analisar cuidadosamente as informações recebidas, incluindo acontecimentos na taxa de câmbio, em relação a suas implicações para as perspectivas de inflação de médio prazo”, segundo Lagarde, após o BCE manter sua política monetária inalterada.

Ela destacou que o Conselho do BCE discutiu a apreciação do euro na reunião de hoje, pois isso afeta os preços no bloco monetário. “Precisamos acompanhar o assunto”, disse, acrescentado que o BCE “monitora cuidadosamente” a questão, ainda que não seja o foco da política monetária. “Não visamos a taxa de câmbio, nossa meta é estabilidade de preços”, disse ela.

PROGRAMA DE COMPRA DE ATIVOS

A presidente do BCE disse ainda que o banco deve usar todo o envelope de seu programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês) de US$ 1,350 trilhão de euros. “Sob atual circunstância, é provável que todo envelope será usado”, disse.

Ela afirmou também que “a flexibilidade está no DNA do PEPP”, que tem dupla função e visa a evitar riscos de dispersão e fragmentação. “O PEPP continua a funcionar para estabilização das condições financeiras e para reduzir rissos de fragmentação”, disse, mas também para fortalecer a posição de política monetária e “garantir que a taxa de inflação no médio prazo vai alcançar a meta que buscamos”.

Ela explicou que o tamanho do PEPP foi elevado em junho pois as condições de então exigiam isso. “Nossa política monetária como está calibrada tem funcionado bem”, afirmou. “Não hesitaremos em usar todas as ferramentas disponíveis.

REVISÃO ESTRATÉGICA

Por fim, Lagarde afirmou o que o Conselho do BCE tomou nota da revisão adotada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), que anunciou a flexibilização de sua meta de inflação, e disse que a revisão estratégica do BCE deve caminhar no mesmo sentido.

“Não posso prever como serão as nossas deliberações”, disse. “Mas claramente haverá foco na definição de estabilidade de preços”.

Segundo ela, assim como o Fed o BCE “pressionou o botão de pausa” na revisão estratégica que já havia começado para concentrar-se em respostas à pandemia do novo coronavírus, mas que o processo será retomado no final deste mês, com o retorno dos seminários.