São Paulo, 19 de outubro de 2020 – As ferramentas de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) não se esgotaram e o banco está pronto para adotar novos estímulos se necessário, disse a presidente da instituição, Christine Lagarde.
“As opções em nossa caixa de ferramentas não se esgotaram. Se for preciso fazer mais, faremos mais”, disse Lagarde, em entrevista ao jornal “Le Monde”, publicada no site do BCE.
Segundo ela, as medidas adotadas pelo BCE entre março e junho elevaram o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) na eurozona em 1,3 ponto percentual (pp) e a taxa de inflação em 0,8 pp, além de salvar um milhão de empregos. “Agimos e nossa ação foi eficaz”, disse.
Lagarde disse que segunda onda da pandemia na Europa, especialmente na França, e as novas restrições resultantes estão aumentando a incerteza e pesando sobre a recuperação, que desde o verão local “tem sido desigual, incerta e incompleta e agora corre o risco de perder ímpeto”.
O cenário central do BCE prevê uma queda de 8% no PIB da eurozona em 2020 e pressupõe medidas de contenção parciais e localizadas. “Se a situação se agravar, nossas projeções, que revisaremos em dezembro, ficarão obviamente mais sombrias”, disse.
Ela alertou que “as perdas de empregos são as mais graves” cicatrizes de longo prazo que a pandemia deve deixar, e assim “é essencial que as redes de segurança fiscal que os governos implementaram durante esta crise não sejam retiradas tão cedo”.
A presidente do BCE disse ainda que o plano de recuperação de 750 bilhões de euros da União Europeia (UE) deve começar a chegar nos países no início de 2021. “O objetivo da Comissão é poder distribuir estes fundos no início de 2021, e este calendário deve ser respeitado”.
Segundo ela, são necessários progressos rápidos pelos governos e parlamentos dos países da UE. “A bola está do lado dos governos nacionais, que têm de apresentar os seus planos de recuperação – alguns dos quais já estão prontos – e da Comissão, que terá que os examinar atentamente mas rapidamente”, disse.
“É vital que este plano extraordinário, que quebrou tabus significativos em alguns países, seja um sucesso”, afirmou. A presidente do BCE disse que o plano deve ser direcionado, e alertou para os riscos de “se perder em um labirinto administrativo”.
Por fim, Lagarde disse que o euro é irreversível e o plano de recuperação da UE representa um “grande ponto de virada para a Europa”. Esta ferramenta de plano de recuperação é uma resposta a uma situação extraordinária. Devemos discutir a possibilidade de permanecer na caixa de ferramentas europeia para que possa ser usado novamente se surgirem circunstâncias semelhantes. Espero que haja também um debate sobre um instrumento orçamental comum para a zona do euro e que seja enriquecido pela nossa experiência atual”, concluiu.