Pessoa física puxa alta de mais de 75% no número de minicontratos

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São Paulo – O crescimento do número de investidores na Bolsa brasileira, principalmente de pessoas físicas, em meio ao cenário de taxa de juros baixa, está levando a um maior interesse no segmento de minicontratos. O volume de minicontratos de dólar negociados neste ano quase dobrou em relação ao ano passado e a demanda por esses produtos deve se manter forte. Segundo analistas ouvidos pela Agência CMA, há expectativas de que as negociações no segmento possam dar um novo salto, de até 50%, no ano que vem.

Evolução dos Minicontratos
Aumento no números de minicontratos negociados na B3

“Pelo número de investidores que vem crescendo na Bolsa, estimamos que esse volume tenha um crescimento de 40% a 50% em 2021. Os ‘traders’ também têm aumentado a movimentação desse produto e os minicontratos são uma forma de agregar renda visto que a renda fixa tem rendido menos”, aposta o fundador da Atom Participações, Joaquim Paifer.

CRESCIMENTO NAS NEGOCIAÇÕES

No acumulado do ano até setembro, foram negociados 492.533.194 contratos de “minidólar” segundo dados da B3, uma alta de 91,87% na comparação com o mesmo período de 2019 (256.698.653), superando todo o volume negociado no ano passado, de 340.261.685. O mesmo acontece com o número de minicontratos do índice Ibovespa, que cresceu 75,97% na mesma base de comparação.

Para o economista da Órama Investimentos e professor do Ibmec-RJ, Alexandre Espírito Santo, o segmento cresce conforme o investidor pessoa física aumenta a sua participação em renda variável. “Esses investidores começam a conhecer e buscar novas ferramentas e é bom que elas sejam acessíveis, já que os contratos padrão são muito caros. Mas é preciso entender bem o funcionamento do mercado futuro antes”, diz. Em setembro, o número de investidores pessoa física na Bolsa superou a marca histórica de 3 milhões de investidores, em um total de 3.065.775 CPFs.

Porém, na avaliação do economista, os minicontratos devem ser usados como “hedge” (proteção), uma alternativa para proteger sua carteira de ações, caso acredite que a Bolsa pode virar no futuro, por exemplo, ou ainda uma opção para se prevenir de oscilações do dólar, caso precise da moeda no futuro para uma viagem ou curso no exterior ou tenha dívidas na divisa norte-americana.

Mais baratos e acessíveis para investidores individuais, já que valem 20% de um contrato inteiro de dólar ou de Ibovespa, os minis são negociados no mercado futuro e além de serem opções de proteção, têm potencial para trazer grandes lucros. Porém, analistas alertam para os seus elevados riscos, já que são voláteis e permitem alavancagem, o que faz esses instrumentos também serem um dos preferidos dos “day traders”, outro perfil de investidor que avança no Brasil.

O analista de renda variável da Clear Corretora, Rafael Ribeiro, acredita que o “boom” de “day traders” – investidores profissionais, amadores ou simplesmente especuladores que visam lucro com a oscilação diária dos ativos – é o principal responsável por impulsionar o segmento. “Alguns investidores, como empresas e institucionais, que precisam de hedge, sempre atuaram no mercado futuro, mas esse crescimento nos minicontratos eu colocaria na conta do fenômeno do ‘day trade'”, diz.

Segundo o trader Márcio Quartaroli, a procura é alta entre esses investidores pelo fácil acesso e porque a operação desses contratos é barata em relação a outros ativos da Bolsa. “Você precisa de R$ 25 na corretora para operar ‘minidólar’ e esse valor vem caindo ano a ano”, disse.

Para comprar um minicontrato o investidor não precisa pagar todo o valor imediatamente, mas coloca na corretora uma fração desse valor, que funciona como uma “margem” de garantia que fica na sua conta. Há corretoras que exigem uma margem de cerca de R$ 20,00 por minicontrato e é aí que está o perigo.

O dinheiro investido inicialmente pode ser baixo e permite que se invista mais capital do que possui, a chamada alavancagem, mas a cotação tanto do dólar quanto do Ibovespa muda a cada dia, ajustando, portanto, o montante aplicado, com o investidor ganhando ou perdendo, o que pode fazer com que tenha que colocar mais dinheiro para cobrir a perda do dia.

“Por serem derivativos com vencimento mensal [minidólar] e que, em função da alavancagem, podem causar perdas e prejuízos bastante significativos, o cuidado no processo e no gerenciamento de risco é uma base muito importante para que investidores não percam dinheiro nesse mercado. É preciso ter prudência”, diz o profissional da Atom. Os minicontratos de dólar possuem vencimento mensal, já que o de Ibovespa é bimestral.

Quartaroli acrescenta que, pelas facilidades, o produto pode ser “perigoso” e o ‘trader’ precisa entender a dinâmica do mercado, que é volátil. “A operação dele é perigosa pela dinâmica do dólar. O profissional desse mercado tem que ficar atento ao noticiário, à agenda econômica. Como esses eventos interferem na volatilidade do dólar e do Ibovespa, o trader fica muito exposto. Operar minicontratos exige também estudo”, reforça.

Para seus alunos, em cursos oferecidos pela Clear, uma vez entendido o funcionamento e riscos do mercado futuro, Ribeiro recomenda começar operando em simuladores para depois iniciar com a compra de apenas um minicontrato de dólar, com uma estratégia que calcula a relação risco/retorno do investimento. “O dólar é um pouco menos volátil do que o Ibovespa, pode ajudar o ‘day trader’ a se machucar menos. Mas é preciso ganhar experiência antes e tomar cuidado principalmente, com a margem que fica na corretora”, reitera.

LIQUIDEZ E VOLATILIDADE

O alto volume de minicontratos de dólar negociado levou até algumas mesas de operação relacionaram esse crescimento à forte volatilidade da moeda norte-americana no mercado doméstico recentemente. O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, porém, negou que isso ocorra em evento do qual participou no fim do mês passado.

Para Paifer, da Atom, o que acontece é que com mais pessoas operando contratos fracionários e esse segmento ficando mais líquido, a negociação fica mais similar ao dos contratos cheios. No mercado brasileiro, o contrato futuro do dólar também é bastante líquido e influencia a cotação da moeda negociada no mercado à vista.  Quartaroli ressalta que, tanto os “minidólar” quanto os “mini-índices” acompanham a oscilação dos contratos cheios, normalmente, influenciados por fatores externos e internos, além de políticos e econômicos.