BCE vai recalibrar instrumentos em dezembro com nova onda de covid-19, diz Lagarde

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São Paulo, 29 de outubro de 2020 – A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, sugeriu que novos estímulos monetários devem vir em dezembro, afirmando que já estão em andamento trabalhos para recalibrar diversos instrumentos.

“O Conselho está de acordo em avaliar a situação atual e que os riscos estão claramente inclinados para o lado negativo”, disse ela, em coletiva de imprensa, após o BCE manter sua política monetária inalterada. “Reconhecemos a necessidade de recalibrar”, disse.

“Os comitês já estão trabalhando para fazer esse exercício de recalibragem. Vamos tocar em todos os instrumentos, não em um ou em outro”, afirmou. “Não assuma que será um instrumento, vamos olhar para todos eles”.

Segundo ela, o BCE não vai ficar parado enquanto isso, até que novas avaliações da economia sejam divulgas em dezembro, e vai usar da flexibilidade de seus instrumentos para lidera com a situação. “É claro que eu estou falando do programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês) “, disse.

“Fizemos isso no passado, respondemos muito prontamente, apropriadamente e, segundo alguns, pesadamente à primeira onda. Vamos fazer de novo na segunda onda”, concluiu.

SEGUNDA ONDA

Para a presidente do BCE, a segunda onda de casos do novo coronavírus e a intensificação das medidas restritivas ameaçam as perspectivas econômicas na zona do euro, e a recuperação está perdendo força na região.

Os dados indicam que “a recuperação económica da zona do euro está perdendo impulso mais rapidamente do que o esperado”, depois de uma recuperação forte, ainda que desigual, em meados do ano. No terceiro trimestre, a recuperação da economia deve responder por cerca de metade da contração no primeiro semestre do ano, disse.

Por outro lado, “o aumento dos casos de covid-19 e a consequente intensificação das medidas de contenção pesam sobre a atividade, constituindo uma clara deterioração das perspectivas de curto prazo”. Lagarde destacou que dados apontam para “uma desaceleração significativa da atividade econômica no último trimestre do ano”.

Além disso, a evolução econômica continua desigual entre os setores. “Em particular, a atividade no setor dos serviços voltou a abrandar, visto ser o setor mais afetado pelas novas restrições”, enquanto o setor industrial continua seu caminho de recuperação.

Assim, “o Conselho do BCE avaliará cuidadosamente as informações recebidas,
incluindo a dinâmica da pandemia, as perspectivas de implantação de vacinas e
a evolução da taxa de câmbio”.

INFLAÇÃO

Com relação aos preços, Lagarde disse que “a taxa de inflação geral deverá permanecer negativa até o início de 2021”, com base na dinâmica do preço do petróleo e tendo em conta a redução temporária do imposto sobre valor agregado (IVA) alemão.

Além disso, ela ressaltou que as pressões sobre os preços no curto prazo permanecerão moderadas refletindo a demanda fraca, em especial nos setores ligados a turismo e viagens, “bem como a redução das pressões salariais e a apreciação da taxa de câmbio do euro”.

“Assim que o impacto da pandemia diminuir, a recuperação da demanda, apoiada por políticas fiscais e monetárias acomodatícias, pressionará a inflação no médio prazo”, disse, acrescentando que as expectativas de inflação a mais longo prazo permanecem em níveis baixos.

Ela disse ainda considerar prematuro falar em mudança na meta de inflação com a revisão estratégica da instituição em andamento, e que acompanha de perto os eventos envolvendo o câmbio. “No momento, não enxergamos o câmbio como um elemento de pressão sobre os preços”.

MEDIDAS FISCAIS

Por fim, Lagarde reiterou que “uma orientação fiscal ambiciosa e coordenada continua a ser crítica”, levando em consideração a forte contração da economia da zona do euro e a redução da demanda. As medidas fiscais devem ser direcionadas e temporárias, disse.

Ela destacou ainda a importância de reformas estruturais para uma recuperação mais rápida, forte e uniforme da pandemia, o que é possibilitado pelo pacote de estímulos da União Europeia (UE), denominado “Próxima Geração da UE”.

“O Conselho do BCE reconhece o papel fundamental do pacote da Próxima Geração da UE e salienta a importância de se tornar operacional sem demora”, concluiu.