São Paulo – Se as pesquisas de opinião se provarem certas, uma ‘onda azul’ – cenário no qual Joe Biden assume a Casa Branca e seu Partido Democrata passa a ter o controle do Senado norte-americano será a nova cor dos Estados Unidos, traduzindo-se no avanço do mercado de ações, em um dólar mais fraco devido às expectativas de um pacote de estímulos maior e na posterior confirmação de taxas de juros baixas por mais tempo, segundo analistas consultados pela Agência CMA.
“O mercado parece estar posicionado para o cenário da onda azul, que beneficiaria o câmbio cíclico diante da possibilidade de estímulos adicionais, a confirmação das baixas taxas reais por mais tempo – já que o Fed ficaria atrás da curva – bem como o retorno antecipado ao sistema baseado em regras para as relações internacionais, beneficiando menos o dólar porto-seguro”, disse o estrategista de câmbio da ING, Petr Krpata.
Na média das pesquisas de intenção de voto, Biden apresenta uma vantagem de 7,4 pontos sobre o presidente norte-americano, Donald Trump, de acordo com dados da Real Politics. O democrata liderou as sondagens durante praticamente todo o ano, em muitos momentos, com uma vantagem de dois dígitos.
“Há claramente o risco de as pesquisas voltarem a estar erradas. A opção mais óbvia é que Biden ganhe a presidência, mas os republicanos mantenham o controle do Senado. Nesse cenário, as perspectivas de maior apoio fiscal seriam drasticamente reduzidas”, afirmou o economista sênior da Capital Economics para os Estados Unidos, Andrew Hunter.
Atualmente, os republicanos detêm o controle do Senado com uma maioria de 53 a 47, o que significa que se mantiverem essa margem, poderão bloquear qualquer projeto que Biden apresentar se for eleito presidente dos Estados Unidos.
“Se os republicanos mantiverem o Senado, os mercados provavelmente verão chances reduzidas de estímulo e Wall Street deve despencar, com o dólar se firmando junto com a volatilidade crescente”, disse o economista sênior da Mizuho, Colin Asher.
O controle democrata do Senado e a manutenção da maioria na Câmara dos Deputados daria ao partido de Biden o domínio completo das alavancas políticas da economia norte-americana, segundo os economistas.
“Com o controle das duas casas, os democratas devem achar muito mais fácil forçar as novas medidas de estímulo fiscal necessárias para ajudar a economia dos Estados Unidos se Joe Biden sair vitorioso”, disse o economista sênior de mercado da CMC Markets, Michael Hewson.
No entanto, a falta de maioria no Senado colocará os democratas em xeque mesmo que assumam a Casa Branca.
“A falta de uma maioria à prova de obstrução no Senado significa que os democratas teriam que escolher entre aprovar um projeto de estímulo rápido ou incorporar algumas das prioridades de mais longo prazo de Biden, com o projeto de lei resultante demorando muito mais para ser aprovado”, afirmou Hunter, da Capital Economics.
A ESPERA PODE SER LONGA
A definição do novo cenário político nos Estados Unidos, no entanto, pode demorar para ser conhecida. Isso porque a pandemia do novo coronavírus fez com que muitos norte-americanos optassem pelo voto pelo correio e também porque Trump já ameaçou levar os resultados para a Suprema Corte caso o desfecho do pleito aponte para uma vitória do rival.
“Além da contagem lenta nos estados indecisos, a principal razão para um anúncio tardio [do resultado] reside no fato de que quase metade dos estados apenas exige que as cédulas de correio sejam postadas, em vez de recebidas, até o dia da eleição”, disse o analista sênior do Danske, Mikael Olai Milhj.
O aumento nas votações antecipadas já fez com que quase 100 milhões de norte-americanos votassem.
“Vários estados como a Pensilvânia, que é amplamente visto como o ponto de inflexão na corrida para o Colégio Eleitoral, não permitem que as votações antecipadas sejam processadas até o dia da eleição, o que significa que os resultados podem demorar dias”, afirmou Hunter, da Capital Economics.
Dadas as repetidas alegações de Trump de que está sujeito a fraudes generalizadas, o voto pelo correio – popular entre os eleitores democratas desempenha um papel importante, podendo fazer com que o resultado da corrida presidencial chegue à Suprema Corte, pesando nas bolsas de valores por semanas, ainda de acordo com os economistas.
“Isso só se tornaria uma possibilidade séria se os resultados gerais se provassem suficientemente próximos. Apesar de todo o foco em outra vitória no estilo de 2016 para Trump, também é possível que as pesquisas em estados decisivos estejam subestimando a liderança de Biden”, completou Hewson, da CMC.