São Paulo, 13 de novembro de 2020 – A forma como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu comunicar a suspensão dos estudos da CoronaVac – vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Sinovac e pelo Instituto Butantan – foi “negativa” e vai afetar a percepção da população sobre a vacina, disse o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas.
Durante audiência numa comissão do Congresso, Covas retomou o assunto das falhas de comunicação entre a Anvisa e o Butantan nos momentos que antecederam o anúncio da suspensão dos estudos e criticou o modo de operação da agência.
O presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, insistiu que o Butantan foi comunicado oficialmente sobre a decisão de suspender os estudos com a vacina na segunda-feira à noite, enquanto Covas disse que foi surpreendido pela decisão, que foi publicada menos de uma hora depois no site da agência.
Mais à frente na discussão, Covas disse: “o almirante está correto”, referindo-se a Torres. “Às 21h04 da noite foi postado na caixa postal do estudo um ofício. A caixa postal do estudo no sistema da Anvisa. Foi postado. Só que eu pergunto: quem é que vai acessar caixa postal do estudo ás 9h04 da noite? Obviamente isso só seria acessado na manhã do dia seguinte. Não existe funcionário de plantão para acessar caixa do estudo”, disse Covas.
“Obviamente que ofício só seria recebido no outro dia de manhã”, disse o diretor do Butantan, acrescentando que comunicar isso diretamente ao instituto
numa reunião que estava agendada para as 10h30 do dia seguinte seria o recomendável.
“Na manhã seguinte, quando oficialmente foi aberta a caixa postal observou-se o ofício e determinou-se a parada do estudo. O estudo foi efetivamente parado na manhã do dia 10. Mas aí já havia toda a comunicação de imprensa, a politização, toda a manifestação, e isso aí obviamente não é positivo. É negativo e tem implicações sim, inclusive na compreensão da importância da vacina”, afirmou.
Os estudos da CoronaVac foram suspensos pela Anvisa na segunda-feira à noite por causa de um “evento adverso grave” com um dos voluntários do estudo
da vacina no Brasil – óbito, neste caso específico. A morte não estava relacionada à vacina e os estudos foram retomados ontem.
A suspensão dos estudos, porém, adquiriu contornos políticos depois de o presidente Jair Bolsonaro ter comemorado o anúncio da Anvisa. Isto porque a iniciativa da CoronaVac está sendo patrocinada pelo governo paulista, comandado
por João Doria, adversário do presidente.
Além disso, houve falhas na comunicação entre a Anvisa e o Butantan. A agência recebeu quase três dias depois o aviso do Butantan sobre o óbito do voluntário, e de forma incompleta – o que, segundo a Anvisa, deixou pouco espaço para qualquer decisão que não fosse a suspensão do estudo. Além disso, o Butantan disse que recebeu a informação sobre a suspensão do estudo pela imprensa – algo que foi esclarecido hoje com o comentário de Covas.