Inadimplência em empréstimos cai, mas risco de calote aumenta em 2021

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São Paulo – A retomada da economia no terceiro trimestre fez os índices de inadimplência em empréstimos concedidos pelos bancos caírem, levando as instituições a adiar as perspectivas de calotes para o próximo ano, devido à maior pressão no ambiente macroeconômico – fim de estímulos à economia e do auxílio emergencial, aumento do desemprego e incertezas relacionadas à pandemia de covid-19.

Uma pesquisa recente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) mostrou que a previsão do setor é de que a inadimplência em empréstimos da chamada carteira livre – empréstimos que não estão sujeitos a regras fixadas pelo governo – será de 3,9%, pouco acima da projeção de 3,6% observada na edição da pesquisa ocorrida em fevereiro – mês que antecedeu o início da crise da covid-19. Para 2021, porém, a previsão é de que a inadimplência atinja 4,3% – maior que a de 3,6% estimada no pré-crise.

Os números contrastam com a tendência observada nos últimos meses. Segundo dados do Banco Central (BC), a inadimplência na carteira de crédito livre dos bancos atingiu um pico de 4,0% em abril e maio – meses iniciais da crise da covid-19 – e depois diminuiu para 3,1% em setembro – a menor da série histórica iniciada em 2011.

Em relatório, os especialistas do Bank of America destacaram que os índices de inadimplência dos bancos brasileiros melhoraram 50 pontos-base no terceiro trimestre, artificialmente suportados pelos períodos de carência oferecidos pelos bancos, levando o índice de cobertura a um novo máximo histórico de 320%.

Com isso, os encargos de provisão aumentaram 36% no terceiro trimestre na comparação com o mesmo intervalo de 2019, mas desaceleraram de um crescimento de 97% no segundo trimestre.

BANCO DO BRASIL

O Banco do Brasil vê o pico de inadimplência na carteira de clientes pessoa física no primeiro semestre do ano que vem e na segunda metade do ano, na pessoa jurídica.

No terceiro trimestre, o índice de inadimplência recuou para 2,43% em setembro, ante 2,84% de junho e 3,47% em setembro de 2019. Segundo o banco, a diminuição no trimestre foi influenciada pela readequação dos compromissos financeiros dos clientes com a realização de prorrogações, em crédito consignado, por exemplo.

Em setembro, o índice de cobertura do BB foi de 260,8%, considerando compatibilidade com o perfil de risco de sua carteira. Ao desconsiderar o efeito de caso específico o índice seria de 330,4%, disse.

Com isso, preventivamente, o BB disse ter constituído provisões prudenciais, porém, em níveis aderentes aos riscos de crédito, que impactaram o lucro líquido do período. No terceiro trimestre, a instituição reportou alta de 40,5%nas despesas com provisões para créditos de liquidação duvidosa (PDD) no conceito ampliado em relação ao terceiro trimestre do ano passado, para R$ 5,508 bilhões, e queda de 6,8% na comparação com o trimestre imediatamente anterior.

No trimestre, o lucro líquido ajustado caiu 23,3%, para R$ 3,5 bilhões em relação ao terceiro trimestre de 2019, e de 22,9% em nove meses, totalizando R$ 10,2 bilhões, influenciado, principalmente pelo aumento da PDD ampliada em 47,9% neste período, disse o banco.

Já a redução em base trimestral ocorreu devido ao desempenho positivo das receitas com prestação de serviços que cresceram 4,5%, pelo controle de custos, com redução de 0,2% nas despesas administrativas, bem como a redução das despesas com risco legal.

Em teleconferência de resultados, os executivos do banco disseram que a companhia buscará melhorias nos resultados com redução de despesas no quarto trimestre.

ITAÚ UNIBANCO

O Itaú Unibanco reportou índice de inadimplência total acima de 90 dias atingiu 2,2% entre julho e setembro, ante 2,9% no mesmo intervalo de 2019 e 2,7% no segundo trimestre, atingindo o menor patamar desde a fusão entre Itaú e Unibanco, disse o banco.

No Brasil, os índices de todos os segmentos reduziram em relação ao trimestre anterior, principalmente devido às ações de flexibilização das condições de pagamento. Em pessoas físicas e em micro, pequenas e médias empresas os índices atingiram o menor patamar desde a fusão entre Itaú e Unibanco, contudo ainda não refletem os impactos da crise na qualidade do crédito.

O índice do segmento de grandes empresas reduziu em relação ao trimestre anterior, principalmente pela baixa para prejuízo de créditos de um cliente específico do segmento. Na América Latina, a redução ocorreu principalmente devido a pessoas físicas no Chile e a pessoas jurídicas na Colômbia.

O banco também destacou o impacto das provisões no resultado do terceiro trimestre.

O custo de crédito, valor reservado para cobrir perdas futuras do banco, alcançou R$ 24 bilhões em 2020, dos quais R$ 6,6 bilhões no terceiro trimestre – queda de 16,2% em relação ao segundo trimestre e aumento de 28,8% em base de comparação anual.

“A mudança do cenário macroeconômico, a partir da segunda quinzena de março, levou ao crescimento de 95,9% no custo do crédito, que atingiu R$ 24,2 bilhões. Essa mudança gerou maiores despesas de provisão para crédito, tanto em nossas operações no Brasil quanto no restante da América Latina”, disse o banco em seu balanço trimestral.

Já a queda trimestral foi devido à menor necessidade de constituição de provisão no banco de atacado, compensado parcialmente pelo aumento da despesa no banco de varejo em função das incertezas sobre o cenário macroeconômico.

Nos nove primeiros meses, o lucro líquido recorrente do Itaú atingiu R$ 13,1 bilhões, uma redução de 37,6% em relação ao mesmo período do ano passado.

BRADESCO

O Bradesco espera um aumento de inadimplência no primeiro trimestre do ano que vem devido a um possível aumento do desemprego e dificuldades do cenário de pandemia e reforçou as provisões e redução de custos no terceiro trimestre.

No terceiro trimestre, a taxa de inadimplência superior a 90 dias ficou em 2,3% no trimestre, uma redução de 0,7 ponto percentual na comparação com o segundo trimestre e de 1,3 ponto percentual em relação ao terceiro trimestre do ano passado.

No terceiro trimestre, o banco reportou alta de 67,5% das despesas com provisão para devedores duvidosos (PDD), em base anual, somando R$ 5,588 bilhões, mas 37,1% menor que o registrado nos três meses anteriores (R$ 8,89 bilhões).

A avaliação do banco é que a estratégia de ajuste de carteiras, redução de custos e expansão do crédito fará com que as provisões retornem aos níveis anteriores à pandemia.

No terceiro trimestre, o banco também apostou na redução de custos, por meio da adequação da estrutura operacional, com o fechamento de agências e demissão de funcionários. Só em Curitiba, o Bradesco entregou nove prédios administrativos, o que representou uma economia de R$ 400 milhões com o aluguel desses imóveis.

O Bradesco espera um crescimento da carteira de crédito de 10%, acima dos 8% esperados pelo mercado financeiro no quarto trimestre, ainda com a pressão do cenário econômico. Para isso, o banco está adequando o mix de serviços e os custos de operação do atual cenário às margens esperadas.

“Estamos fazendo ajuste de custos, mas temos expectativas mais positivas para 2021”, disse Octavio de Lazari, presidente do Bradesco.

Segundo Lazari, o banco está em processo de conclusão do orçamento de 2021 e, se não houver piora do cenário da pandemia, considerando as expectativas para 2021 e queda do PIB de 4,5% em 2020 e crescimento de 3,5% em 2021, a tendência é que as provisões retornem aos níveis anteriores à pandemia. Mas o banco espera um aumento de inadimplência no primeiro trimestre do ano que vem.

“Em 2021, os custos totais vão cair em relação a 2020, a carteira de crédito vai crescer e, esperamos que, acima do esperado pelo mercado e o cliente vai voltar a usar o cheque especial e o cartão de crédito, então, a tendência é a receita crescer e normalizar vamos buscar isso”, disse.

SANTANDER

No Santander, o índice de inadimplência acima de 90 dias ficou em 2,1% da carteira de crédito em setembro, queda de 0,9 pp em relação a um ano antes e de 0,3 pp em relação a junho.

“Tanto a cobertura de provisões que já fizemos esse ano e do ano passado, nos deixam confortáveis em relação à inadimplência”, disse o vice-presidente Financeiro e de Relações com Investidores do banco, Angel Santodomingo.

No acumulado de nove meses, a companhia provisionou R$ 9,674 bilhões em crédito, sendo R$ 2,916 bilhões entre julho e setembro, alta de 6,1% e queda de 12,5%, em relação aos mesmos intervalos de 2019, respectivamente.

Ao divulgar os resultados do terceiro trimestre, o banco espanhol disse que para cada real de cliente inadimplente, o banco já tinha provisionado três reais, ou seja, três vezes acima do nível de inadimplência atual. De setembro de 2019 a setembro deste ano, a cobertura em inadimplência passou de 181% para 307%.