São Paulo – O Ibovespa subiu 2,24%, aos 109.786,30 pontos, acompanhando o otimismo global após a decisão do governo de Donald Trump de iniciar o processo de transição com a equipe do democrata Joe Biden, vencedor das eleições nos Estados Unidos. Investidores ainda seguem animados com a possível formação da equipe de Biden e com os avanços de vacinas contra o contra o coronavírus.
Com um cenário mais positivo no horizonte, ações que caíram mais durante a pandemia também voltaram a se tornar mais atrativas, caso da Petrobras, bancos e shopping centers. Diante desse movimento de busca por risco, o índice encerrou no maior nível de fechamento desde 21 de fevereiro (113.681,42 pontos), antes da sequência de circuit breakers vistos na Bolsa em função da crise causada pela pandemia. O volume total negociado foi de R$ 36,9 bilhões.
“O mundo está apostando nas vacinas e com a transição dos Estados Unidos mais destravada a aversão ao risco reduziu, com investidores voltando às compras e buscando mais risco”, disse o economista-chefe do banco digital Modalmais, Alvaro Bandeira. Mesmo sem reconhecer formalmente a vitória do democrata Joe Biden na corrida à Casa Branca, a administração do governo Trump anunciou ontem à noite que vai cooperar com a transição.
Bandeira lembra que os investidores estrangeiros que vinham retirando recursos da Bolsa brasileira este ano voltaram a alocar recursos por aqui em novembro, o que é sentido principalmente em ações de peso para o índice, como as da Petrobras (PETR3 5,33%; PETR4 4,46%) e da Vale (VALE3 4,92%). O dia ainda foi de alta dos preços do petróleo, com alguns contratos subindo mais de 4% e com o WTI atingindo os US$ 45,00 o barril pela primeira vez desde 5 de março.
Além da Petrobras e Vale, ficaram entre as maiores altas do Ibovespa as ações da Multiplan (MULT3 7,15%), da BrMalls (BRML3 7,07%) e da Usiminas (USIM5 6,12%), que estavam descontadas em função da pandemia.
O mercado ainda reagiu bem à informação de que o presidente eleito dos Estados Unidos planeja indicar Janet Yellen, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), para o Tesouro, já que seu histórico aponta que é favorável a estímulos econômicos. Biden também fez outras indicações para a sua equipe nesta tarde. As Bolsas norte-americanas fecharam em alta, com o Dow Jones ultrapassando a marca de 30 mil pontos pela primeira vez na história.
“As indicações de Biden mostram um governo americano mais alinhado com a globalização, o que pode reduzir as tensões internacionais e aumentar o apetite pelos riscos, beneficiando economias emergentes como o Brasil”, avaliou o estrategista da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, em relatório.
Amanhã, investidores devem ficar atentos principalmente a agenda cheia de indicadores nos Estados Unidos, já que na quinta-feira haverá o feriado de Dia de Ação de Graças no país, o que manterá os mercados fechados por lá e pode reduzir a liquidez por aqui. Entre os dados previstos estão os pedidos de seguro-desemprego, a segunda leitura do PIB, dados de rendas e gastos, entre outros.
O dólar comercial fechou em queda de 1,08% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3770 para venda, refletindo o forte otimismo que prevaleceu no exterior com investidores diluindo as incertezas em relação à política dos Estados Unidos após as equipes do presidente Donald Trump e do presidente eleito, Joe Biden, iniciarem a transição de governo. O movimento técnico local corroborou para a busca por risco.
O gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, ressalta que os sinais de uma transição pacífica do governo nos Estados Unidos e a possibilidade de a ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Janet Yellen, assumir o cargo de secretária do Tesouro na gestão de Biden refletiu em bom humor e na busca por risco.
“A ex-presidente do Fed é uma adepta de políticas expansionistas, o que contribui para as perspectivas de aumento dos estímulos na economia norte-americana”, avalia a equipe econômica da Nova Futura Investimentos.
Esquelbek, da Correparti, acrescenta que o viés de baixa da divisa orte-americana, desde a abertura dos negócios, também foi influenciado pelo leilão de venda de dólar com compromisso de recompra, conhecido como leilão de linha, realizado pelo Banco Central (BC) pela manhã. Foram tomados US$ 1,2 bilhão, total ofertado na operação. “O leilão ajudou a tirar a pressão compradora da moeda”, comenta.
“O Banco Central está fazendo um trabalho para atender as demandas sazonais de fim de ano e tirar a pressão do dólar à vista, o que justificou o movimento de hoje, junto à entrada de recursos estrangeiros na bolsa”, avalia a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.
Amanhã, com a agenda de indicadores norte-americana pesada à véspera do feriado de ação de graças no país, a economista diz que a sessão será de atenção ao movimento dos investidores estrangeiros e aos resultados divulgados.
Sairá a segunda leitura do Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos no terceiro trimestre, o resultado de outubro de sobre renda e gastos pessoais, além da ata da última reunião do Fed, no início do mês. “O mercado está muito otimista lá fora, com a transição de governo. Só um resultado muito ruim de algum indicador para amargar esse clima”, comenta.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão sem uma direção única, com os vértices mais curtos ficando próximos aos níveis dos ajustes, enquanto os vencimentos mais longos caíram. Os investidores reagiram à oferta menor de NTN-B e ao resultado “salgado” da prévia deste mês da inflação oficial ao consumidor brasileiro (IPCA-15), mas sem tirar o foco na questão fiscal do país.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,41%, de 3,42% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,23%, de 5,24% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 7,00%, de 7,06%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,76%, de 7,83%, na mesma comparação.
O Dow Jones fechou pela primeira vez acima dos 30 mil pontos no mais recente rali pós-eleição presidencial, turbinado por resultados promissores de três vacinas contra o novo coronavírus. A redução de incertezas políticas também ajudou os principais índices de Wall Street, que terminaram o dia com ganho superior a 1%.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados
Unidos no fechamento:
Dow Jones: +1,54%, 30.046,24 pontos
Nasdaq Composto: +1,31%, 12.036,78 pontos
S&P 500: +1,61%, 3.635,41 pontos