Demanda por petróleo em 2021 será menor que em 2019 mesmo com vacina

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São Paulo – A perspectiva de que a pandemia de covid-19 deixará de ser um problema a partir de meados de 2021, graças à introdução de vacinas com alta eficácia na imunização da população, é um elemento positivo para a demanda por petróleo, mas continuará sendo insuficiente para colocá-la nos níveis observados antes do surgimento do novo coronavírus.

Recentemente, o banco suíço UBS divulgou uma análise prevendo que, com a recuperação da atividade econômica, a retomada das viagens aéreas e da mobilidade em geral, a demanda mundial por petróleo aumentará em 6,3 milhões de barris por dia (bpd) no ano que vem. “A vacina, em particular, é fundamental para a recuperação das viagens aéreas. O primeiro trimestre do novo ano ainda pode mostrar sinais de depressão, mas os estoques nos países da OCDE devem atingir as médias de cinco anos anteriores à pandemia em meados ou no fim de 2021”, afirmou.

Outras organizações do setor também esperam recuperações semelhantes. No início de novembro, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirmou que em 2021 a procura global por petróleo cresceu em 6,2 milhões de bpd, para 96,3 milhões de bpd, enquanto a Agência Internacional de Energia (AIE) estimou em 5,8 milhões de bpd o crescimento da demanda no ano que vem, a 97,1 milhões de bpd.

Em ambos os casos, porém, a demanda diária por petróleo ficaria aquém do que se viu em 2019 – 99,8 milhões de bpd, nas contas da Opep, e 100,1 milhões de bpd, na estimativa da AIE. Isso ocorre primeiro em função da queda no consumo de petróleo este ano – um resultado direto das restrições de locomoção impostas pela pandemia – e depois por causa dos prejuízos que a covid-19 trouxe à economia, que limitam o grau imediato de recuperação da demanda.

“Deve ter um aumento de demanda, mas sem chegar nos níveis de 2019”, disse o analista Walter Vitto, da Tendências Consultoria. “As condições de demanda começarão a melhorar a partir do ano que vem, principalmente nos segmentos mais afetados como aviação. Com uma boa parcela da população vacinada, as pessoas voltarão a usar o avião com mais frequência. Com a vacina, a expectativa é de que se tenha uma demanda voltando forte”, afirmou.

As previsões mais otimistas apontam que a vacinação contra a covid-19 começará no final deste ano em algumas economias avançadas, o que não deve gerar um aumento imediato na circulação de pessoas e no uso de serviços de transporte. A imunização da população requer um número mínimo de pessoas vacinadas, e a retomada do transporte aéreo e coletivo requer confiança dos consumidores.

As petrolíferas acreditam que a demanda vai se fortalecer nos próximos meses, mas também fazem ajustes para garantir que continuarão lucrativas caso este cenário não se concretize e os preços do petróleo voltem a cair – nos últimos 12 meses, por exemplo, o valor do barril do petróleo tipo Brent, usado como referência no mercado internacional chegou a operar perto de US$ 20.

A Petrobras, por exemplo, apresentou recentemente seu plano de negócios para os próximos anos e, embora preveja um leve aumento na produção, também pretende investir essencialmente nos campos capazes de se sustentar financeiramente com o petróleo a US$ 35 o barril ou mais. Hoje, os preços da commodity estão na faixa dos US$ 45 a US$ 50.

Vitto explica que o Brasil sofreu uma queda na demanda por combustíveis com a pandemia, mas que ela não aconteceu como em outros países. Além disso, ele ressalta que o Brasil exporta para países que não estão mal financeiramente, como a China “É um cliente importante e é um dos poucos países que deve mostrar crescimento neste ano. E o Brasil tem alguns mercados que têm garantido essas exportações”, afirmou.

A Shell observou uma recuperação na demanda por combustíveis neste ano, especialmente em áreas onde as pessoas não se têm por hábito muito de depender do transporte público. O CEO da companhia, Ben van Beurden, admitiu que acredita que ainda é cedo para afirmar como ficará o mercado de agora em diante, embora não acredite em uma recuperação em formato de V.

Na avaliação da empresa, “a demanda por energia e a demanda por mobilidade serão enormes mesmo depois que a pandemia passar”.

Bruno Soares / Agência CMA