São Paulo, 26 de janeiro de 2021 – Ao discutir os riscos em torno do cenário básico para a inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) observou que o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista, cujo impacto está relacionado ao grau apropriado de estímulo. Por isso, alguns membros questionaram se ainda seria adequado manter o nível “extraordinariamente elevado” desses estímulos, frente à recente normalização da economia doméstica.
Segundo a ata da reunião de janeiro, divulgada hoje, esses membros julgam que o Copom deveria considerar o início de um processo de normalização parcial, reduzindo o grau “extraordinário” dos estímulos monetários, que passou a ser adotado desde o encontro do Comitê em maio de 2020. Por um lado, o nível de ociosidade tende a manter a inflação abaixo do esperado, ainda mais se a reversão dos efeitos da pandemia seguir lenta. Por outro, uma extensão das políticas fiscais e a frustração com as reformas pesam.
O documento lembra que, de lá para cá, observou-se a inversão do choque desinflacionário ocorrido no início do ano passado, a reversão da trajetória de queda das expectativas de inflação e a redução da ociosidade econômica, aproximando a projeção do cenário básico da meta de inflação no horizonte relevante.
Em contrapartida, o Copom pondera que os riscos fiscais geram um viés de alta nessas projeções para a inflação, o que potencialmente justificaria a trajetória de elevação dos juros. Nesse sentido, os membros do Comitê discutiram a respeito do nível de ociosidade na economia e consideram que a pandemia continua produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores econômicos.
Conforme o documento do Banco Central, os programas governamentais de recomposição de renda ajudaram a reduzir a ociosidade, sendo que os dados do mercado de trabalho sugerem que esse nível de desocupação da atividade econômica tem se reduzido mais rapidamente que o previsto. “A maioria dos membros, entretanto, considerou que outros dados do mercado de trabalho não avalizam essa conclusão”, pondera a ata.
Além disso, o Copom avalia que, apesar da redução parcial do auxílio emergencial, os dados disponíveis relativos ao final do ano passado “têm surpreendido positivamente”. Contudo, o Comitê ressalta que esses indicadores não capturaram os efeitos do recente aumento no número de casos da covid-19. Para o colegiado, os riscos associados à evolução da pandemia e ao fim do benefício fiscal podem resultar em uma retomada econômica mais gradual ou até em uma reversão temporária da atividade.
EXTERIOR
Em relação ao ambiente internacional, o Copom avaliou que, por um lado, o surgimento de novas variantes do vírus e a recente discussão sobre “reflação” nos Estados Unidos são, respectivamente, novas fontes de risco para a atividade econômica e para os preços de ativos de países emergentes. A informação consta na ata da reunião de janeiro, divulgada hoje.
Por outro lado, os programas de imunização contra a covid-19 e os estímulos fiscais e monetários atuam em direção oposta. Assim, o Comitê concluiu que, por ora, a resultante desse conjunto de fatores é um ambiente favorável às economias emergentes.