São Paulo – As ações da Petrobras recuam mais de 2% e estão entre as maiores quedas do Ibovespa depois que a companhia confirmou que, em junho de 2020, decidiu alterar de trimestral para anual o período no qual compara os preços internacionais do petróleo com o preço local, para fazer reajustes nos preços de combustíveis.
Algumas casas como o Bradesco BBI e a XP Investimentos reduziram a recomendação para as ações da Petrobras de compra para neutro em meio aos ruídos sobre a política de preços de combustíveis da estatal, vendo defasagem nos preços praticados e um ambiente desfavorável para reajustes.
A estatal só comunicou a mudança no período de aferição de preços após uma notícia da agência “Reuters” sobre a questão na última sexta-feira (5), o que levantou também dúvidas no mercado sobre a transparência da companhia sobre sua política de preços de combustíveis, sobre a eficiência da metodologia atual e sobre interferências do governo.
Às 13h47 (horário de Brasília), as ações preferenciais (PETR3) tinham queda de 2,79%, a R$ 28,84, enquanto as preferenciais (PETR4) recuavam 2,03%, a R$ 28,43, na contramão dos preços do petróleo, que operavam em alta hoje.
Segundo operadores do mercado, o Bradesco BBI, além de reduzir a recomendação, alterou o preço-alvo de R$ 37,00 para R$ 34,00.
“Embora a Petrobras controle o ‘timing’ de seus ajustes de preço do diesel, a situação com os motoristas de caminhão nos faz acreditar que esse ‘timing’ poderia não estar de acordo com as expectativas dos acionistas”, afirmaram os analistas do banco, em relatório. No dia 1 de fevereiro, parte dos caminhoneiros entraram em greve entre outros motivos pelo preço do diesel, o que o fez o presidente Jair Bolsonaro afirmar que o governo não interfere em preços da estatal, embora tenha tentado evitar paralisações.
Já a XP Investimentos reduziu o preço-alvo de R$ 35,00 para R$ 32,00 ao afirmar que existem riscos “cada vez mais elevados de que a política de preços de combustíveis da Petrobras não obedeça a referências internacionais de preços de combustíveis”.
Os analistas avaliam que a defasagem entre os preços dos combustíveis da Petrobras e as referências internacionais continua a aumentar, e os ajustes de preços necessários poderiam anular de cara os efeitos de reduções de impostos sobre combustíveis, o que é estudado pelo governo.
“Notamos que já estava se tornando complexo implementar reajustes de preços no ambiente atual, dada a insatisfação expressa pela categoria dos caminhoneiros (embora a greve proposta em 1º de fevereiro não tenha obtido uma
grande adesão), bem como o cenário de maior inflação”, explicaram os analistas Gabriel Francisco e Maira Maldonado, em relatório.
Para eles, a mudança no cronograma para implementar a paridade também é negativa uma vez que coloca a empresa em uma situação difícil em um momento de depreciação do real e preços do petróleo mais altos. Porém, acreditam que as mudanças na política não são um sinal de interferência do Governo Federal na companhia, mas uma decisão equivocada que pode trazer desequilíbrios.
Além disso, a alteração do preço-alvo incorpora a expectativa de margens de refino menores no futuro, não apenas devido às menores margens sobre os combustíveis produzidos nas refinarias, mas também devido às importações de derivados com prejuízo para cobrir a demanda interna.
“Como resultado, esperamos resultados mais baixos e menor geração de caixa no futuro, o que implica em uma menor visão de valor das ações”, reiteraram os analistas.
A VISÃO DA EMPRESA
A Petrobras alega que houve uma distorção de notícias pela imprensa e que a mudança não se trata de uma alteração da política de preços de combustíveis, que segue acompanhando a precificação no exterior.
Além disso, a companhia afirmou que, em junho e agosto de 2019, informou os reajustes não seguiriam mais uma periodicidade pré-definida.