São Paulo – O Ibovespa fechou em queda em um dia no qual as ações da Petrobras ficaram na berlinda tanto por causa do recuo do preço do barril no mercado futuro quanto pelas sinalizações emitidas pelo presidente Jair Bolsonaro a respeito dos preços dos combustíveis. As ações da empresa sofreram depreciação acentuada e arrastaram o Ibovespa para o território negativo.
O índice chegou a esboçar alguma reação no início da tarde com uma recuperação dos papéis da Vale e do setor financeiro, mas o movimento foi logo interrompido, servindo apenas para afastá-lo das mínimas do pregão.
Com isso, a bolsa brasileira registra mais uma semana de queda acumulada, encontrando nos 120 mil pontos um persistente nível de resistência. O principal índice da B3 caiu 0,64% no mercado à vista, para 118.430,53 pontos. Já o indicador futuro do Ibovespa, com vencimento em abril, recuou para 118.535 pontos. No acumulado da semana, o Ibovespa cedeu 0,83%.
Ontem, depois de a companhia petrolífera estatal ter anunciado nova rodada de aumento nos preços da gasolina e do óleo diesel nas refinarias, o presidente Jair Bolsonaro qualificou o reajuste como “excessivo” e “fora da curva” e disse que “alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias”.
Bolsonaro também citou comentários do presidente da Petrobras. Roberto Castello Branco disse que a empresa “não tem nada a ver com caminhoneiros”. Em sua live semanal, Bolsonaro insinuou que a fala do CEO “terá consequência”.
Além dos ataques desferidos à Petrobras e a seu principal executivo por causa do aumento do preço dos combustíveis, Bolsonaro também anunciou a renúncia dos impostos federais sobre o gás de cozinha e a suspensão por dois meses da tributação sobre o diesel. O presidente não deu detalhes sobre a renúncia fiscal, mas a fala suscitou críticas entre analistas de mercado.
Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora, o anúncio de Bolsonaro soa como populismo fiscal. Perfeito também pontua que o presidente fez uma ameaça direta à Petrobras. Segundo o economista, esta combinação de fatores forçaria os investidores para alguma cautela.
“O presidente se viu pressionado para fazer alguma coisa e fez qualquer coisa”, comentou Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos. Na avaliação de Sanchez, Bolsonaro anuncia uma renúncia em um momento no qual o Brasil passa por “apuro fiscal”. Para ele, a medida de Bolsonaro também é populista e seu impacto sobre a inflação, praticamente nulo.
“O peso direto do diesel no IPCA é baixíssimo e para se observar impacto indireto (grande potencial) é necessário um movimento mais perene. Fora isso, a representatividade dos impostos federais no gás de cozinha é baixíssima”, acrescentou o economista.
Sanchez considera ainda que a ação do presidente eleva a insegurança econômica no país e seu anúncio sobre algo que “vai acontecer nos próximos dias” na Petrobras piora muito as perspectivas para a companhia.
O dólar comercial fechou em queda de 1,08% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3840 para venda, em sessão volátil, com investidores calibrando as declarações do presidente Jair Bolsonaro sobre a política de preços da Petrobras, apostas de alta da taxa básica de juros (Selic) em março, fluxo local e o movimento no exterior. Na semana, mais curta em razão do feriado prolongado de carnaval, a moeda subiu 0,19%, interrompendo a sequência de três semanas seguidas de sinal negativo.
O diretor superintendente de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, destaca a volatilidade da moeda na abertura dos negócios, com o dólar indo a R$ 5,47, maior valor intraday desde o início do mês, refletindo as críticas do presidente Bolsonaro à política de preços da Petrobras, declarando que “alguma coisa vai acontecer na estatal nos próximos dias”.
“A moeda inverteu sinal e passou a cair reagindo às ofertas de exportadores, ingressos de investidores estrangeiros e de uma entrada expressiva de capital de uma grande empresa, o que levou a moeda às mínimas de R$ 5,36”, reforça, acrescentando que o real chegou a ter o melhor desempenho em uma cesta com as 34 moedas globais mais líquidas.
Já o chefe da mesa de operações de uma corretora estrangeira ressalta que a divisa local sustentou queda diante das apostas de que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) deverá subir a taxa Selic em março. “Dado que o juro baixo contribui para o enfraquecimento da moeda brasileira, o desempenho do real tem melhorado à medida que a perspectiva de alta da taxa se aproxima”, diz.
Na próxima semana, a última do mês, a agenda de indicadores estará carregada com destaque para a prévia da inflação doméstica em fevereiro, dados de atividade dos Estados Unidos e da Europa, além de falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell. Para a equipe econômica do Bradesco, o IPCA-15 deste mês deve trazer “algum alívio” dos preços dos alimentos, com os núcleos demandando maior atenção.
Enquanto lá fora, os dados da economia norte-americana continuarão tendo destaque. “Após a surpresa positiva com o resultado das vendas do varejo em janeiro, espera-se um crescimento dos gastos pessoais no período. Adicionalmente, as sondagens de fevereiro devem reforçar a percepção de aceleração da atividade dos Estados Unidos”, acrescentam os analistas do banco.
Segundo os analistas da corretora Mirae Asset, o câmbio continuará volátil, sendo influenciado por notícias em relação à covid-19 ao redor do mundo e ao quadro político local. Além de notícias sobre as negociações do pacote estímulo fiscal norte-americano e aqui, com investidores atentos às tratativas no Congresso de mais uma rodada do auxílio emergencial.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória vista desde a abertura do pregão, em meio ao desconforto dos investidores com o cenário político brasileiro diante das indefinições sobre o auxílio emergencial e das declarações populistas do presidente Jair Bolsonaro em tradicional transmissão ao vivo (live) semanal. A falta de compromisso do governo com o fiscal eleva a desconfiança em relação ao “teto dos gastos” e calibra as perspectivas sobre o rumo da Selic.
Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,435%, de 3,40% no ajuste da véspera; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 5,145%, de 5,06% após o ajuste anterior; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 6,72%, de 6,63% ontem; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,36%, de 7,27%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a sessão sem uma direção comum, com Dow Jones deixando o S&P 500 e o Nasdaq para trás nos ganhos acumulados na semana.
Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: estável em 31.949,32 pontos
Nasdaq Composto: +0,07%, 13.874,50 pontos
S&P 500: -0,18%, 3.906,71 pontos