Bolsa cai e dólar sobe com intervenção do governo na Petrobras

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São Paulo – O Ibovespa fechou em forte queda em um dia no qual a troca de comando proposta pelo governo na Petrobras ganhou o reforço do sinal negativo na maioria dos mercados de ações pelo mundo. O índice recuou pela terceira sessão seguida e registrou a maior baixa desde 24 de abril do ano passado, caindo 4,86%, para 112.667,70 pontos – o menor nível de fechamento desde o início de dezembro. O Ibovespa futuro com vencimento em abril caiu cerca de 5%, também recuando da faixa dos 118 mil pontos para a dos 112 mil.

Depois de um prolongado leilão ainda na abertura dos negócios, os papéis da Petrobras iniciaram o dia em queda livre, arrastando consigo o principal índice de ações da B3. O movimento aprofundou-se com o avanço do pregão e a queda tanto da PETR3 quanto da PETR4 chegou a superar os 20%.

Além disso, a depreciação nos papéis da companhia petrolífera contaminou as ações de outras estatais listadas na B3 em meio a temores de que a ingerência na Petrobras seja apenas o início de um movimento de intervenção maior do governo em empresas de capital aberto nas quais possui participação majoritária.

No campo positivo, as ações da B2W e das Lojas Americanas figuraram entre as poucas altas no Ibovespa em reação à possível combinação operacional entre as duas varejistas.

O anúncio da mudança de direção na Petrobras levou a corretora XP a alterar sua recomendação para os papéis da empresa de “neutra” para “venda” e a reduzir o preço-alvo de R$ 32 para R$ 24 por ação.

O movimento de hoje na Petrobras foi motivado pela indicação do general da reserva Joaquim Silva e Luna para a presidência de Petrobras, em substituição a Roberto Castello Branco. “Vemos esse anúncio como uma sinalização negativa, tanto de uma perspectiva de governança, dados os riscos para a independência de gestão da Petrobras, como também por implicar riscos de que a companhia continue a praticar uma política de preços de combustíveis em linha com referências internacionais de preços, ou seja, que reflitam as variações dos preços de petróleo e câmbio”, informa a corretora em relatório.

Ao mesmo tempo, “muitos se perguntam quais são as outras mudanças que o presidente Jair Bolsonaro disse que fará em breve”, observa André Perfeito, economista-chefe da Necton Corretora. “Há quem especule que haverá mudanças em outras estatais e que isto pode ‘dar saída’ para o ministro Paulo Guedes”, prossegue ele.

E enquanto a pandemia dá sinais de retração no exterior, o lento avanço da vacinação no Brasil mantém os temores de que a recuperação econômica virá bem mais tarde do que em outros países.

Lá fora, diante dos temores de uma escalada inflacionária com a retomada da atividade econômica, os investidores saem das ações e migram seus investimentos para as commodities enquanto as taxas de retorno dos títulos da dívida norte-americana seguem em alta no mercado secundário, com consequente queda nos preços.

O dólar comercial fechou em alta de 1,30% no mercado à vista, cotado a R$ 5,4540 para venda, em dia de forte estresse no mercado doméstico e no exterior, com o real tendo um dos piores desempenhos entre as moedas globais em meio ao receio quanto à Petrobras, após o presidente Jair Bolsonaro anunciar a troca de comando da companhia e elevar os riscos políticos. Lá fora, as taxas dos títulos de dívidas do governo norte-americano avançaram e o vencimento de 10 anos se aproximou de 1,40%, maior patamar em 12 meses, corroborando para as perdas das divisas de países emergentes.

O mercado doméstico reagiu à decisão do governo federal anunciada na sexta-feira, após o fechamento do mercado, com o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciando a indicação de Joaquim Silva e Luna como conselheiro e presidente da Petrobras, após encerramento do ciclo, superior a dois anos, do atual presidente Roberto Castello Branco. Antes, Bolsonaro havia feito críticas à política de preços de combustíveis da companhia e disse que “alguma coisa” iria “acontecer na Petrobras nos próximos dias”.

“Sem surpresas, o dólar operou descolado do exterior, em dia de perdas expressivas dos ativos locais como reflexo da cautela em decorrência da interferência de Bolsonaro na Petrobras”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes, acrescentando que outra declaração do presidente da República, de que vai “meter o dedo na energia elétrica”, também preocupa o mercado. “O temor é que esses ruídos possam depreciar ainda mais as empresas estatais e atrasar o andamento das reformas no Congresso”, reforça.

Logo após a abertura do pregão, o dólar chegou a disparar ao redor de 2,8%, acima de R$ 5,53, reagindo à ingerência na petrolífera, além de acompanhar as perdas superiores a 1% das principais moedas emergentes como o peso mexicano ante o dólar. Com isso, o Banco Central (BC) realizou um leilão de swap cambial tradicional – equivalente à venda de dólar no mercado futuro – que colocou no mercado toda a oferta de US$ 1,0 bilhão.

Antes, uma operação programada de leilão de linha e comum no fim de mês colocou no mercado US$ 1,6 bilhão. “O mercado respeitou a intervenção do BC com o dólar acima de R$ 5,50”, diz o analista da Toro Investimentos, João Vitor Freitas.

No meio da tarde, declarações do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, de que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial será levada ao plenário da Câmara para votação em março, como também o Orçamento de 2021, e com a promessa de que a tramitação da reforma administrativa começa no próximo mês, a moeda norte-americana renovou mínimas sucessivas a R$ 5,43, em sessão de forte amplitude da divisa.

Para Freitas, amanhã, o mercado deve seguir “com mau humor”, em meio à agenda de indicadores esvaziada e com as promessas do presidente Bolsonaro de intervir em outras estatais, como a Eletrobras e o Banco do Brasil. “O Guedes [Paulo, ministro da Economia] anda sumido. Então, o mercado espera por um posicionamento dele, se traz alguma novidade do aspecto econômico”, diz, acrescentando que a agenda política, após as “promessas de Lira”, segue no radar.

“Mas deve perder um pouco de força nesta semana, já que o foco está em estatais. De qualquer forma, deverão ser dias de mercado bastante volátil”, ressalta.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em forte alta, mantendo um ritmo acelerado de colocação de prêmios desde a abertura do pregão, em um dia de forte aversão ao risco no mercado local. Os investidores reagiram à decisão do presidente Jair Bolsonaro de trocar o comando da Petrobras, resgatando o mal-estar com o cenário político e elevando as incertezas no front econômico, o que calibrou as expectativas sobre a Selic.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 3,530%, de 3,435% no ajuste da última sexta-feira; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 5,352%, de 5,145% após o ajuste ao final da semana passada; o DI para janeiro de 2025 estava em 6,92%, de 6,72%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 7,57%, de 7,37%, na mesma comparação.

As ações ligadas à tecnologia afundaram, arrastando o Nasdaq para perdas superiores a 2,0% e pesando sobre o S&P 500, enquanto o Dow Jones foi o único dos três índices de Nova York a terminar o dia em alta.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,09%, 31.521,69 pontos

Nasdaq Composto: -2,46%, 13.533,00 pontos

S&P 500: -0,77%, 3.876,50 pontos