São Paulo – O consumo doméstico de carnes e industrializados deve ser impactado por novos “lockdowns” que estão acontecendo em diversas regiões do Brasil para conter o avanço do coronavírus, avaliou o presidente da Marfrig, Miguel Gularte, embora afirme que
é difícil estimar o tamanho do impacto dessa fase da pandemia no País.
Segundo o executivo, em teleconferência com jornalistas, depois de uma recuperação ao longo de 2020, já houve queda no consumo do atacado em um momento de menor oferta de gado, o que impacta preços.
No entanto, a expectativa é que a situação possa se normalizar com a continuação da vacinação e conta ainda com o possível impulso ao consumo que pode ser trazido pelo auxílio emergencial, caso o governo aprove novamente o pagamento.
“Estamos escutando a notícia de hoje de que o pagamento do auxílio pode ser retomado ainda em março e esperamos que ele ocorra, mas não temos como precisar como isso vai impactar o consumo”, disse.
Parte da produção que seria destinada ao mercado interno já está sendo redirecionada mercados no exterior, aproveitando o dólar forte, que favorece exportações, e a recuperação da demanda externa, com países em melhores situações, como a China.
No ano passado, Gularte explicou que depois de uma queda forte do consumo do segmento de food service em março, as compras foram aos poucos retomadas conforme as empresas estruturaram deliverys, além de parte da alimentação fora de casa ter sido revertida em aumento do consumo em supermercados.
“O consumo de restaurante virou consumo doméstico e o auxílio emergencial também teve impacto muito forte, teve aumento de 7% do consumo em grande supermercados e teve também pulverização do consumo para o pequeno varejo”, disse, sem querer cravar previsões de que esse cenário pode se repetir agora ou não.
TESTAGEM
Já sobre o impacto da pandemia entre os funcionários que trabalham nas 11 fábricas que a Marfrig tem no Brasil, o presidente da empresa afirmou que continuam com um protocolo de higienização implantado já no passado, além de realizarem um grande número de testes contra a covid-19.
Segundo o executivo, 100% dos funcionários de quatro a cinco fábricas foram testados nos últimos dois meses, já que a companhia aproveita a volta de férias coletivas para fazer testagens mais amplas. Além disso, explica que toda semana uma porcentagem dos funcionários é testada de forma randômica.
Caso percebem um aumento do nível de contaminação, afirma que o aumento das testagens pode ser feito. “Se a gente ver risco de crescimento de contágio, tomamos duas medidas prévias: aumentamos a frequência e percentual de testes e revisamos o protocolo. Isso é constantemente monitorado”, disse.
INVESTIMENTOS
Após reduzir fortemente seu endividamento, que está na sua mínima histórica, a Marfrig deve seguir priorizando os investimentos orgânicos em processados e industrializados, sem ver oportunidades de aquisições no momento. Segundo os executivos da empresa,
os investimentos na área ajudam a aumentar margens e também a mitigar as altas de preços da arroba do boi.
“O nosso foco hoje é em crescimento orgânico em processados, damos prioridades a investimentos com retorno entre três e quatro anos, sendo que, no geral, as empresas em processados são caras, com múltiplos altos. A gente sempre olha, mas não tem nada atrativo no momento, nada em negociação”, disse o presidente do conselho de administração da Marfrig, Marcos Antonio M. dos Santos, em teleconferência com analistas.
Dentro do segmento de processados, o presidente do conselho disse que o maior interesse é na linha de derivados de bovinos, mas que a empresa também está crescendo na área de pets, subprodutos e carne vegetal.
A empresa também pretende continuar reduzindo custos e seu endividamento, discutindo a possibilidade de aumentar a distribuição de dividendos caso reduza a alavancagem para menos de 2 vezes o seu ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). A Marfrig ainda anunciou hoje um programa de recompra de ações, já que na visão Santos, as ações da companhia ainda estão baratas.
Os investimentos em processados e ações de redução de custos, como ajustes na área de logística e embalagens já feitas, ainda são uma forma de a empresa fazer frente ao aumento de preços.
Segundo o presidente da companhia, Miguel Gularte, um dos motivos do aumento de preços do boi é a redução de oferta, já que houve uma redução no número de abates, o que considera natural para uma reorganização de produtores.
“A redução da oferta obedece a uma circunstância natural, é uma retenção para reorganizar e, no caso do Brasil, nós tivemos um atraso na parte hídrica, choveu menos em 2020, o que afeta o gado a pasto, faz com que ocorra uma retenção natural e toda essa retenção vai retornar ao mercado, é virtuoso”, avalia. O executivo explica que parte dessa redução do abate se deu principalmente nas fêmeas, que foram colocadas para procriar.