São Paulo – O desenvolvimento de mercados de crédito de carbono é “crucial” para impulsionar as ações de combate ao aquecimento global e para trazer desenvolvimento aos países que preservarem florestas e outros biomas capazes de evitar o aumento da temperatura global, afirmou o presidente Jair Bolsonaro durante uma reunião de chefes de estado convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para discutir as mudanças climáticas.
“Os mercados de carbono são cruciais como fonte de recurso e investimentos para impulsionar a ação climática, tanto na área florestal como em outros setores relevantes da economia”, disse Bolsonaro, acrescentando que é necessária “a justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta.”
Bolsonaro disse que o Brasil “está na vanguarda” do enfrentamento ao aquecimento global e apontou que as mudanças climáticas são decorrentes de um aumento nas emissões de gases causadores do efeito estufa nos últimos dois séculos – declaração que, assim como a de outros líderes de países emergentes, enquadra as economias mais industrializadas entre as principais responsáveis pelo problema.
“Não podemos esquecer a causa maior do problema: a queima de combustíveis fósseis ao longo dos últimos dois séculos. O Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo. No presente, responde por menos de 3% das emissões globais anuais”, disse Bolsonaro.
O presidente ressaltou que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo – amplamente voltada à geração de eletricidade via usinas hidrelétricas – e que há anos usa combustíveis renováveis para abastecer o transporte local.
As declarações de Bolsonaro tentam mitigar as críticas voltadas ao governo federal pelo aumento dos incêndios florestais ao longo dos últimos dois anos, que colocaram o Brasil no centro das atenções de alguns parceiros do G-20 (grupo que reúne economias mais industrializadas e países emergentes) – em particular a França, que está usando os grandes incêndios recentes no Pantanal e na Amazônia como argumento para acusar o Brasil de não preservar o meio ambiente e para barrar um acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul.
Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que o menor nível de desmatamento na Amazônia foi atingido em 2012, quando foram desmatados 4,1 mil quilômetros quadrados na região.
Este número aumentou gradualmente para perto de 7 mil quilômetros quadrados anuais em 2018, mas em 2019 – primeiro ano do governo Bolsonaro – cresceu 53%, para 10,7 mil quilômetros quadrados. Os dados mais recentes, atualizados até o início de dezembro do ano passado, mostram que em 2020 o desmatamento caiu 8,4% em relação ao ano anterior, para 9,8 mil quilômetros quadrados – o segundo maior nível dos últimos doze anos.
O presidente Jair Bolsonaro abordou esta questão em seu discurso, afirmando que o Brasil assume o compromisso de “eliminar o desmatamento ilegal até 2030 com a aplicação do Código Florestal”, e que isso ajudará a reduzir as emissões brasileiras de gases causadores do efeito estufa pela metade.
Gustavo Nicoletta / Agência CMA (g.nicoletta@cma.com.br)