São Paulo – O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, evitou responder se é favorável ao uso da cloroquina no tratamento de pessoas contaminadas com covid-19. Durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que apura erros e omissões do governo no combate à pandemia, ele disse também que não recebeu nenhuma orientação do presidente Jair Bolsonaro neste sentido.
Segundo Queiroga, a questão do tratamento da covid-19 com cloroquina ou outros medicamentos será alvo de análise pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (SUS), o Conitec, e somente depois disso haverá manifestação do Ministério da Saúde.
“Essa é uma questão técnica que tem que ser enfrentada pela Conitec. Segundo o decreto lei que regulamenta a Conitec, eu sou instância final decisória, então posso ter que dar posicionamento acerca deste protocolo. Gostaria de manter posicionamento final acerca do mérito do protocolo quando ele for elaborado”, afirmou Queiroga.
Parte dos senadores presentes na CPI protestou contra a resposta evasiva de Queiroga, inclusive o presidente da comissão, o senador Omar Aziz (PSD-AM). O ministro, então, disse que há estudos comprovando a ineficácia da cloroquina no tratamento da covid-19.
“Esta medicação, como outras, foi suscitada no tratamento da covid-19 desde o começo. Uso compassivo foi feito em diversas instituições do país e já existem estudos controlados que mostram que nos pacientes mais graves este medicamento não tem efeito, nos pacientes com covid intermediária esse medicamento não tem efeito”, afirmou.
Ele disse em seguida que o protocolo clínico para o tratamento da covid-19 ainda não existe e que “a diretriz terapêutica será definido pela Conitec”. Disse também que, por não haver protocolo definido, também não se preocupou em revogar a “recomendação” do Ministério da Saúde para o uso da cloroquina no tratamento da covid-19, herdada de gestões anteriores. “[Não revoguei porque] não é tão simples assim”, disse ele.
ASSESSORIA PARALELA
Queiroga disse desconhecer a existência de um conselho paralelo que assessoraria o presidente Jair Bolsonaro em relação a como conduzir a crise da pandemia de covid-19.
O relator Renan Calheiros (MDB-AL), relembrou que o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta mencionou na terça-feira ter a impressão de que havia um aconselhamento paralelo de Bolsonaro sobre como lidar com a pandemia. Em seguida, questionou Queiroga se ele tinha conhecimento deste aconselhamento.
“Não tenho conhecimento de aconselhamento paralelo”, disse Queiroga. O ex-ministro Nelson Teich, que falou ontem à CPI, também negou ter conhecimento sobre a existência de uma assessoria extraoficial ao presidente Jair Bolsonaro a respeito da pandemia.
DECRETO CONTRA LOCKDOWN
Queiroga disse também que o governo federal deve adotar medidas para evitar o fechamento de cidades em decorrência da pandemia de covid-19, mas que nenhuma destas medidas passou pelo Ministério da Saúde.
“O que vamos adotar são medidas para evitar estas situações extremas onde haja fechamento de cidades, etc., porque na questão de fechamentos nacionais não há consenso acerca deste tema”, afirmou Queiroga à CPI.
Ele disse que não foi consultado pelo presidente Jair Bolsonaro sobre estas medidas, que supostamente viriam na forma de um decreto, mas disse que houve uma conversa superficial sobre o tema. “O que o presidente falou comigo acerca deste tema era que ele queria assegurar a liberdade das pessoas. Assegurar a liberdade das pessoas eu concordo”, afirmou.
Queiroga acrescentou: “não fui consultado. Não estou participando da elaboração deste decreto e não fui consultado sobre o tema.”
Assista a CPI abaixo: