São Paulo – As ações da Eletrobras estão entre as maiores quedas do Ibovespa hoje em meio a uma piora do clima no Congresso para a votação da medida provisória (MP) que trata da privatização da companhia, prevista para ser votada amanhã no Senado. Às 13h26 (horário de Brasília), as ações ordinárias da estatal (ELET3) tinham queda de 4,01%, enquanto as preferenciais (ELET6) caíam 2,40%, a R$ 43,50.
A avaliação é que alguns pontos do texto da MP podem ser alvo de resistência e mudanças por parte de senadores, além disso, a crise hídrica vivida pelo País elevou preocupações com a privatização da estatal. No entanto, senadores e deputados governistas costuram um acordo para que a aprovação ocorra a tempo.
“Na Casa [Senado], o clima não é positivo para a aprovação do projeto e pode sofrer alterações pontuais e voltar para a Câmara dos Deputados ou até mesmo ser rejeitada”, afirmou a economista da CM Capital, Ariane Benedito, em nota nesta manhã.
A MP precisa ser aprovada até a próxima terça-feira (22) no Congresso para que não perca a validade e o governo corre para conseguir os votos necessários no Senado. O texto foi pautado para ser votado amanhã no Senado e, caso seja alterado, ainda tem que voltar para a Câmara dos Deputados.
Segundo reportagem do jornal “O Estado de S.Paulo”, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) tem manifestado incômodo com a intenção do governo de restringir o reservatório da hidrelétrica de Furnas, em Minas Gerais, e priorizar o uso da água para energia. A região também é um conhecido ponto turístico.
O jornal ainda diz que, na avaliação da Consultoria Legislativa do Senado, a MP é inconstitucional, já que a Constituição exige a realização de licitação para a venda de estatais e usinas.
VOTOS
De acordo com uma pesquisa da BMJ Consultores Associados, o governo pode não estar com apoio suficiente para a aprovação da privatização, já que identificou 32 senadores contrários e 32 favoráveis à proposta. O posicionamento de 17 permanece indefinido. Além do mapa de votação, o levantamento também analisou as redes
sociais dos parlamentares sobre o tema. O material foi atualizado hoje (15).
Porém, o relator da matéria no Senado, Marcos Rogério (DEM-RO), disse, há pouco, que o relatório da MP será apresentado amanhã (16) e que o governo busca entendimento para alterações e aprovação no Senado.
Apesar do pouco tempo e de pontos polêmicos no texto, que encontra resistência de alguns parlamentares, Marcos Rogério reiterou que há condições de se chegar a um consenso e que o que não tiver convergência será votado como destaque no plenário.
Ao lado de Rogério em coletiva de imprensa, o relator da MP na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (DEM-BA), disse que já está conversando com o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), para que a MP seja votada pela Casa já na quinta-feira, logo após a possível alteração e aprovação pelo Senado amanhã.
CRISE HIDRICA
Os políticos não adiantaram quais seriam as possíveis alterações do texto, mas destacaram que o objetivo principal é restaurar a capacidade de investimentos da Eletrobras sem elevar a conta para consumidores, levando em consideração ainda o contexto de crise hídrica.
O estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas, afirmou, por sua vez, que o tema é complexo, mas há percepção de que a crise hídrica “poderia atrasar a privatização da Eletrobras”, trazendo volatilidade para ações da Eletrobras.
Na sua avaliação, em seu “morning call”, a falta de chuvas, que já está levando o Ministério da Minas e Energia a buscar medidas para evitar um racionamento de energia, também devem levar investidores a fazerem uma rotação entre ações do setor, buscando empresas que tenham mais fontes alternativas de energia.
Danielle Fonseca, Cynara Escobar e Soraia Budaibes / Agência CMA