Bolsa cai e dólar sobe por suspeita de corrupção no governo

549

São Paulo – No fechamento do último pregão do primeiro semestre, o Ibovespa encerrou em queda com os investidores monitorando o cenário político conturbado com as novas denúncias de corrupção no governo do presidente Jair Bolsonaro com compras de vacinas; reforma tributária e crise hídrica também preocupam o mercado. O principal índice da B3 fechou em baixa de 0,41%, aos 126.801,66 pontos. Mas, no semestre a Bolsa acumulou ganho de 6,54%.

O Ibovespa futuro com vencimento em agosto recuou 0,47%, aos 127.165 pontos. O giro financeiro foi de R$ 31,4 bilhões. De acordo com uma fonte do mercado financeiro, foram negociados no call de fechamento 15% a mais que no pregão inteiro. “Os investidores deixam para o final do pregão para zerar posição”.

Para Flávio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos, a notícia de que o representante da empresa Davati Medical Supply, Luis Paulo Dominguetti Pereira, tenha recebido propina do governo para vender a vacina da AstraZeneca impacta negativamente no mercado financeiro. “Os principais gatilhos para a queda é o cenário político e o andamento da crise hídrica”. Ele completa que o aumento na bandeira vermelha patamar 2 “pode impactar diretamente na inflação, embora o racionamento não ser cogitado”.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, comenta que a política faz com que os investidores tenham aversão aos ativos de risco. “O cenário político tende a fazer barulho nas próximas semanas e até nos próximos meses, não que traga uma situação de impeachament, mas pode ser utilizado contra o atual governo”.

Outro ponto de atenção é a proposta da reforma tributária e as ações que mais sofrem pressão são as dos bancos. A economista-chefe da Veedha Investimentos enfatiza que “existe uma certa cautela setor financeiro por conta da reforma tributária e nem mesmo a alta nas ações ligadas ao petróleo são suficientes para conter as perdas”.

Pela manhã, foram divulgados os dados do setor privado em relação à abertura de vagas de trabalhos nos Estados Unidos, que subiram para 692 mil em junho. Os analistas previam a criação de 550 mil vagas. O dado é uma prévia para o relatório de emprego (payrol, sigla em inglês), que será divulgado na sexta-feira.

O estrategista da Genial Investimentos, Filipe Villegas comenta que “qualquer dado muito positivo sinaliza e representa para o mercado uma possibilidade cada vez mais próxima de uma retirada de estímulos pelo banco central americano”.

O dólar comercial fechou o último pregão do primeiro semestre em alta de 0,60% no mercado à vista, cotado a R$ 4,9720 para venda, na sétima sessão seguida abaixo do nível de R$ 5,00. Além do exterior negativo para a maioria das moedas de países emergentes, o ambiente de cautela prevaleceu no mercado doméstico em meio às denúncias de corrupção do governo de Jair Bolsonaro na compra de vacinas contra a covid-19, enquanto na primeira parte dos negócios, prevaleceu a disputa técnica pela formação de preço da taxa Ptax de fim de mês, o que ajudou a levar o dólar a R$ 5,02.

Com isso, a moeda encerrou junho com recuo de 4,81%, engatando o terceiro mês de queda. Foi o primeiro mês desde fevereiro de 2020 que a divisa norte-americana encerrou abaixo do patamar de R$ 5,00. Já no trimestre, o dólar registrou perdas de 11,67%, na maior queda percentual trimestral desde 2009, enquanto no semestre, a desvalorização foi de 4,18%.

O gerente da mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek, destaca que a tradicional “briga” pela taxa Ptax – média das cotações apuradas pelo Banco Central (BC) – de fim de mês na primeira parte dos negócios, no qual os investidores “comprados” mostraram melhor desempenho, levou a moeda a bater as máximas da sessão, voltando aos níveis de R$ 5,02.

“O real chegou a ser a moeda mais desvalorizada em uma cesta de 16 divisas. À tarde, passando a briga pela Ptax, o dólar voltou a acompanhar o exterior, ainda trabalhando no terreno positivo, mas de forma mais amena”, ressalta.

O chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, reforça que o cenário externo corroborou com a piora local ao longo da sessão, com os ruídos políticos que respingam no presidente Jair Bolsonaro também pesando no pregão. “O cenário doméstico é tenso com bastante notícia ruim. As notícias relacionadas ao governo pegam, podendo minar a gestão de Bolsonaro. Enquanto lá fora, há uma preocupação com as variantes da covid-19”, comenta.

Segundo matéria do jornal “Folha de São Paulo” publicada ontem à noite, o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, Roberto Dias – exonerado do cargo ontem – cobrou propina de um representante da Davati, fabricante de vacina contra a covid-19. A propina seria paga a um grupo que operava dentro da pasta.  A denúncia foi feita por um representante da Davati.

Hoje, um grupo composto por partidos políticos, parlamentares, movimentos sociais e entidades da sociedade civil protocolaram na Câmara dos Deputados o chamado “superpedido” de impeachment do presidente Bolsonaro no qual aponta pelo menos 21 crimes de responsabilidade.

Para Nagem, o pedido pode começar a “fazer fumaça” contra o governo Bolsonaro e levar o dólar para acima de R$ 5,00 novamente. “Esse assunto, junto com a crise hídrica e energética, o cenário de inflação, o andamento da agenda de reformas e tudo relacionado a covid-19 devem dar o tom dos negócios no segundo semestre”, diz. O analista da Toro Investimentos, Lucas Carvalho, acrescenta que a volatilidade deverá prevalecer nos próximos meses.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para os dados de atividade dos Estados Unidos, com o resultado da atividade industrial, em junho, além da leitura revisada do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor industrial neste mês, mesmo dado que sairá na Europa.

As taxas dos contratos futuros de Depósito Interfinanceiro (DI) encerraram a sessão em alta. O dia foi de subida para o mercado desde sua abertura, após o surgimento, ontem, de uma denúncia de corrupção na compra de vacinas por parte do governo federal. Junto a isso, ainda está acontecendo a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da pandemia e os investidores ainda digerem a proposta apresentada para a reforma tributária.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 apresentava taxa de 5,675%, de 5,60% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,07%, de 6,94%; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,07%, de 7,95% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 8,49%, de 8,42%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com exceção do Nasdaq, consolidando fortes ganhos trimestrais e semestrais impulsionados pela recuperação econômica. Esse ambiente de retomada ajudou o S&P 500 a encerrar mais um dia em recorde e consolidar o quarto ganho trimestral seguido – a maior sequência desde 2017.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,61%, 34.502,51 pontos

Nasdaq Composto: -0,17%, 14.504,00 pontos

S&P 500: +0,13%, 4.297,50 pontos