China contraria tendência de grandes BCs e prepara estímulo via compulsório

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São Paulo – A sinalização pelo governo chinês de que a taxa de compulsório bancário para pequenas e médias empresas pode ser cortada surpreendeu os mercados, em um momento em que bancos centrais falam em reduzir estímulos, e sugere uma desaceleração da economia da China, de acordo com analistas consultados pela Agência CMA.

Após uma reunião regular do Conselho de Estado, o governo chinês disse ontem que usará ferramentas de política monetária, incluindo cortes em sua taxa de depósito compulsório (RRR, na sigla em inglês) para apoiar a economia real, especialmente as pequenas e médias empresas.

O Banco do Povo da China (Pboc, o banco central do país) cortou a RRR pela última vez em abril de 2020, liberando cerca de US$ 56 bilhões para reforçar a economia do país atingida pela pandemia do novo coronavírus.

“Isso pode ser uma surpresa para os mercados em um momento em que outros grandes bancos centrais estão falando sobre aumentos das taxas e cronograma de redução de estímulos”, de acordo com a economista-chefe para a China do ING, Iris Pang. “Acreditamos que tal corte virá em breve”, disse.

A sinalização do corte pelo governo chinês vem enquanto o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) considera planos de reduzir gradualmente suas compras de ativos, realizadas mensalmente no valor de US$ 120 bilhões.

“No geral, a taxa de sobrevivência das pequenas e médias empresas pode aumentar moderadamente, e isso pode ajudar a estabilizar empregos e o crescimento econômico”, disse Pang, acrescentado que a política pode ser temporária e vir junto com um prazo ou condições.

Segundo ela, as pressões de custo das pequenas e médias empresas na China vêm principalmente dos altos preços das commodities, embora o governo chinês já tenha agido para reduzir os preços das commodities usando medidas baseadas no mercado e administrativas.

Já as analistas do Societé Génerale Wei Yao e Michelle Lam afirmaram que o Pboc frequentemente, mas nem sempre, vai aonde o Conselho de Estado aponta. “Então devemos estar preparados para um corte iminente da RRR, especialmente se os dados de crescimento continuarem decepcionando”.

Elas esperam que “os dados de atividade de junho da próxima semana mostrem uma queda adicional no impulso de crescimento, devido em parte ao surto local em Guangdong” de casos de covid-19, mas que um afrouxamento monetário de base ampla ainda não parece necessário.

As analistas afirmaram ainda que a menção de cortes de RRR veio no contexto de apoio ao financiamento de pequenas e médias empresas em meio a preços elevados de commodities a montante. “Portanto, um corte de RRR direcionado em pequena escala parece muito mais provável”.

Para o estrategista do Rabobank, Michael Every, cortes na RRR não ajudarão se o problema for falta de confiança e muita dívida. “Reduzir diretamente o custo dos empréstimos para as pequenas e médias empresas vai ajudar, mas os bancos são avessos ao risco e o financiamento das pequenas e médias empresas é um problema em todo o lado”, disse.

Every ressaltou que o Conselho de Estado também está propondo instrumentos de política monetária para apoiar as metas de redução de emissões de carbono na forma de novas cotas com taxas preferenciais emitidas para instituições financeiras qualificadas para encorajar o financiamento de empréstimos verdes.

“Em outras palavras, empréstimos verdes subsidiados; o que é ótimo para o meio ambiente e para as empresas chinesas prestes a serem atingidas pelos Mecanismos de Ajuste de Fronteira de Carbono [tarifas verdes] dos Estados Unidos e da União Europeia [UE]”, concluiu.