Bolsa cai e dólar sobe com preocupação por Bolsa Família

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São Paulo – A Bolsa fechou em forte queda de 3,08%, aos 121.800,79 pontos, na última sessão do mês marcada por “muito estresse” por parte dos investidores com o temor do governo estourar o teto de gastos com o Bolsa família, ruídos políticos e cenário internacional desfavorável. O Ibovespa não atingia os 121 mil pontos desde 10 de maio.

No exterior, a forte queda do minério puxou a Vale para baixo, uma das ações de maior peso no índice. Somado a isso, as questões da política regulatória na China também impactaram no mercado.

As ações consideradas de maior peso no índice tiveram forte queda. Os papéis da Vale (VALE 3) perderam 5,07%; Petrobras (PETR3 e PETR4) caíram 2,23%e 3,12%; Bradesco (BBDC3 e BBDC4) baixaram 1,79% e 1,41% e Itaú (ITUB) recuavam 1,33%.

Para Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, a cautela no mercado local levando a Bolsa a cair quase 3% e perdendo os 123 mil pontos é “acentuado pelo agravamento dos riscos políticos, ameaça do rompimento do teto de gastos e pressão inflacionária”. Ele explicou que no âmbito fiscal, a acomodação com o Bolsa Família deixa o teto de gastos para 2022 mais apertado. “Ainda que a arrecadação tenha melhorado no curto prazo, isso é temporário”.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou hoje que o Bolsa Família tem margem orçamentária para manter o teto fiscal.

O head de renda variável da Valor Investimentos comentou também que no front político “as tensões entre o Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF) se acentuam em relação à modalidade de voto para as eleições de 2022”.

Na visão de Flávio Oliveira, head de renda variável da Zahl, o que causa a forte queda na Bolsa é a questão do aumento de gastos com o Bolsa família colocando em xeque o teto. “Levando em conta nossa fragilidade fiscal, o mercado acaba não vendo isso com muito bons olhos”. Ele acrescentou que o mau humor do mercado externo também impactou negativamente por aqui. “As intervenções feitas pelo governo chinês em alguns setores  e a queda forte do minério de ferro puxando as cotações da Vale impactaram no mercado”.

O analista João Guilherme Silva, da Aware Investimentos, afirmou que o mercado brasileiro apresenta forte queda  impactado pelo mau humor no exterior pelo “desgosto cada vez mais claro e evidente do bloqueio regulatório por parte da China perante o setor privado” e queda das commodities, principalmente o minério de ferro.

Ele salientou também que o noticiário de Brasília afeta o mercado com “os flertes ao desrespeito do teto de gastos”. Existe uma ala do governo que pretende custear o Bolsa família em 2022 com verbas fora do limite de despesas.

Após dias em queda, o dólar fechou a sexta-feira cotado a R$ 5,2090 parra venda, subindo 2,55%. A expressiva alta se deve ao temor do mercado no aumento do programa Bolsa Família, visto como uma medida visando as eleições de 2022 e que inevitavelmente iria estourar o teto orçamentário. Mesmo em uma semana turbulenta, os fatores externos pouco contribuíram no sólido crescimento que a moeda norte-americana obteve hoje.

Cristiano Fernandes, sócio da Euroinvest, alerta que “o que afetou o mercado foram os problemas fiscais internos. O mercado ficou com o pé atrás com a possibilidade do estouro orçamentário”. “Em uma semana que já não teve muitas notícias boas, como os resultados dos Estados Unidos, isso foi a cereja do bolo”, complementa.

Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, “as bolsas europeias e americana estão tendo um dia generalizado de risk-off (com os grandes investidores poucos dispostos a tomar riscos), puxando as moedas emergentes para baixo”.

O economista também considera que manobras que visam a eleição de 2022 também são vistas de modo negativo pelo mercado. “A possibilidade de ampliar o Bolsa Família seria uma maquiagem fiscal, algo acima do teto. Isso é um fator que pressiona a taxa de câmbio”, contextualiza Alejandro.

“No mercado internacional de câmbio, o dólar ganha levemente de seus pares, index de 0,09% de valorização e também trabalha fortalecido da maioria das divisas emergentes e ligadas às commodities”, analisa Jefferson Rugik, da Correparti, em boletim matinal.

A valorização do dólar por aqui é limitada pela expectativa de que na próxima quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) possa anunciar um aumento maior que o previsto na Selic (taxa básica de juros).

Rugik acrescentou que o dólar pode ter uma sessão volátil nesta sexta-feira por causa do encerramento do mês. “Para o restante da primeira sessão, quem deve comandar o jogo cambial é a tradicional briga pela taxa ptax, que deve ter os vendidos mais bem preparados para a disputa”, afirmou.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam nas máximas do dia, registrando alta acentuada depois de acompanharem a forte apreciação do dólar em relação ao real em um dia no qual os riscos fiscais e a aversão ao risco observada nos mercados financeiros internacionais.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 fechou com taxa de 6,320%, de 6,195% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,81%, de 7,60; o DI para janeiro de 2025 ia a 8,70%, de 8,38% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,04%, de 8,74%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado norte-americano fecharam o dia em queda, mas conseguiram garantir fortes ganhos no mês graças ao desempenho das ações de algumas empresas que superaram a volatilidade de Wall Street nas últimas semanas. A preocupação com o ritmo de recuperação da economia dos Estados Unidos, somada às decisões de negócios na China, pesou negativamente sobre os negócios hoje.

Confira a variação e a pontuação dos índices nos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,42%, 34.935,47 pontos

Nasdaq Composto: -0,71%, 14.672,70 pontos

S&P 500: -0,54%, 4.395,26 pontos