Bolsa e dólar sobem em dia de incertezas na política

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São Paulo – A Bolsa fechou com avanço de 0,86%, aos 123.576,56 pontos, em um dia de muita volatilidade entre altas e baixas. Na segunda metade do pregão, a Bolsa melhorou o desempenho e passou a subir puxada pelas ações da Vale, bancos e Petrobras e comentário do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) indicando que o teto de gastos não seria rompido. A forte queda da manhã foi atribuída à preocupação dos investidores com os riscos fiscal e político.

Para Viviane Vieira, operadora de renda variável da B.Side Investimentos, o comportamento do mercado hoje com volatilidade entre altas e baixas “é normal devido ao risco político”. Mas acredita que “a melhora foi por conta das falas de Arthur Lira [presidente da Câmara dos Deputados], que apontou a possibilidade de não romper com o teto de gastos”.

Outro fator que contribuiu para a alta da Bolsa foi o desempenho favorável do setor financeiro. “Os bancos voltaram a subir forte , principalmente o Itaú junto com a  Vale”.

Viviane comentou que “a principal preocupação é o teto de gastos e seria um risco muito grande se extrapolar o teto”. Ela questionou  como será o comportamento do ministro da Economia, Paulo Guedes,  em relação ao assunto com as falas para o mercado.

Embora a Bolsa apresentado recuperação, ela acredita que a pauta do teto de gastos “deve continuar e manter a volatilidade do mercado”.

Os papéis de forte peso no índice fecharam em alta. Petrobras (PETR3 e PETR4) subiram 1,68% e 1,66%, respectivamente. As ações da (VALE 3) avançaram 3,40% e bancos, como Bradesco (BBDC3 e BBDC4) e Itaú (ITUB 4) valorizaram 0,67% e 0,57% e 0,98%, nessa ordem.

Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide sobre a taxa básica de juros do País (Selic). Viviane aposta em um aumento de 1 ponto porcentual na Selic. “É o mais esperado pelo mercado e o mais prudente tendo em vista a inflação mais alta”, comentou.

Para Flavio de Oliveira, head de renda variável da Zahl Investimentos, na sessão de hoje é de volatilidade e “o assunto que domina o mercado é a questão fiscal”. Ele explicou que o benefício médio do Bolsa família atualmente é de R$ 250 e existe a possibilidade de um aumentou para R$ 400. “Essa mudança aumentaria bastante as despesas do governo em um momento que o quadro fiscal está muito fragilizado”. Outro ponto destacado por Oliveira são os precatórios. “Postergar as dívidas federais nunca não é bem vista pelo mercado”.

Segundo Flavio Conde, head de renda variável da Levante Ideias de Investimentos,  a queda forte no Ibovespa é atribuída ao ambiente político e fiscal. “O fato do governo não pagar os gastos e os rumores do aumento do Bolsa Família, além do fundo que o governo quer criar para pagar os precatórios preocupam o mercado”, afirmou .

Conde comentou que a Bolsa era para subir mais de 1%, mas a parte fiscal atrapalha. “Justamente agora deveríamos estar comemorando a reabertura da economia, os resultados positivos das empresas o minério subindo, mas estamos focados no governo federal”.

O head de renda variável da Levante Ideias enfatizou que “a agenda do governo passou a ser para encontrar verba para beneficiar o Bolsa Família e se preocupar com a reeleição para 2022”. Ele afirmou também que a fala de Christopher Walter, membro do Fed, dizendo que a redução de estímulos pode começar em outubro  também impactou negativamente nos mercados. “Acredito nessa redução só em 2022”, ressaltou Conde.

Em dia marcado por um quente noticiário interno, o dólar comercial fechou em alta de 0,52%, cotado a R$ 5,1920 para venda. Durante a terça-feira, esse valor chegou a R$ 5,2590. Com o mercado externo em calmaria, o que puxou a moeda norte-americana para cima foram as incertezas nos cenários político e fiscal brasileiros, sendo caracterizado por uma tensão entre o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o possível estouro do teto, ocasionado pelo aumento do programa Bolsa Família.

Para o chefe da mesa de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem, “existe uma interrogação muito grande com o Bolsonaro falando em Bolsa Família de R$ 400, além da ameaça de não haver eleições caso não seja adotado o voto impresso. Mesmo sabendo que isso não deve resultar em nada, vai minando o governo”.

Nagem disse que em uma véspera de reunião de Comitê de Política Monetária (Copom), a situação deveria ser outra: “Com a expectativa de aumento entre 0,75 e 1% na Selic, o dólar era para estar sob controle”. A ausência de mais notícias negativas internas, assim como a calmaria no mercado internacional, também contribuiu nesta desaceleração na escalada do dólar.

Para a economista-chefe da Reag Investimentos, Simone Pasianotto, “os ruídos políticos e fiscais têm contribuído com a alta do dólar, enquanto os juros futuros aumentam. A CPI da Covid, além da ofensiva mais populista de Bolsonaro, incitam este cenário”.

Esta “ofensiva populista”, capitaneada pela expansão do programa Bolsa Família, é vista como algo negativo, porque um programa mais amplo de renda mínima pode prejudicar a trajetória de ajuste fiscal. “O Brasil tem andado, nas últimas três semanas, na contramão do mercado de externo. Isso é gerado pelas incertezas do cenário político nacional”, disse Pasianotto.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em alta, acompanhando em grande parte a apreciação do dólar em relação ao real ao mesmo tempo em que reagiram aos persistentes riscos políticos e fiscais, mas longe das máximas da sessão.

Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,34%, de 6,30% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 7,885%, de 7,850; o DI para janeiro de 2025 mantinha-se estável a 8,79%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,11%, de 9,12%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta – com o S&P 500 renovando recorde no fechamento – após uma manhã de perdas provocadas pelas preocupações sobre a desaceleração do crescimento econômico em meio à disseminação da variante Delta.

Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: +0,80%, 35.116,40 pontos

Nasdaq Composto: +0,55%, 14.761,30 pontos

S&P 500: +0,82%, 4.423,15 pontos