São Paulo – Na sessão desta sexta-feira, a Bolsa se recuperou das perdas dos últimos dois dias e fechou em alta de 0,96%, aos 122.810,36 pontos, puxada principalmente pelas ações do setor financeiro. Os ganhos da Vale e siderúrgicas também contribuíram para o bom desempenho do índice, após a queda da véspera. Os ruídos políticos e fiscais foram amenizados, mas permaneceram no radar dos investidores.
Desde a primeira metade do pregão, o Ibovespa operou em terreno positivo quando foi divulgado o relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll, sigla em inglês) que mostrou a criação de 943 mil postos de trabalho em julho e a estimativa era de 875,5 mil vagas. A taxa de desemprego caiu para 5,4% em julho, contra 5,9% junho e ficou abaixo das previsões dos analistas, de 5,6%.
Para Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos, a Bolsa se recupera das perdas da véspera e o setor financeiro e Vale puxam o índice para cima. “A tendência de Selic [taxa de juros básica do país] mais alta contribui para a elevação dos papéis dos bancos; na véspera não mantiveram os ganhos devido aos ruídos políticos”.
O head de renda variável da Valor Investimentos comentou que “apesar da alta de hoje, o foco do mercado continua sendo o risco fiscal e como o governo e Congresso vão lidar com o tema”.
Ele destacou que as empresas têm divulgado “resultados acima do esperado, mesmo com as incertezas políticas”.
Segundo uma fonte que não quis se identificar, os bancos e Vale estão puxando o índice, mas com o volume baixo “qualquer compra mas forte sobe a Bolsa e uma venda mais acentuada levaria à queda”.
As ações do Bradesco (BBDC 3 BBDC4) subiram 2,11% e 2,19% e Itaú (ITUB4) avançaram 2,80%. Os papéis da Vale (VALE3) fecharam com ganho de 0,56%.
Para o Bruno Komura, estrategista de renda variável da Ouro Preto Investimentos, a Bolsa está refletindo o resultado do payroll e explicou que o relatório de emprego pode ser visto de duas formas. “Os investidores esperavam para ver o impacto da variante delta na retomada da economia, como as restrições foram menores, foi positivo para o mercado”. Mas observou que, por outro lado, a boa velocidade da recuperação econômica preocupa o mercado com pressão na inflação e pode levar o Fed [banco central norte-americano] a tomar alguma medida. “O principal temor é o adiantamento do fim dos estímulos, reduzindo a compra de ativos, que deve acontecer no final do ano ou começo de 2022, e posteriormente dar início ao ciclo de alta de juros”.
Komura comentou que por aqui a tensão entre os poderes continua e existe também a preocupação com o risco fiscal, mas sem notícias novas, “o mercado está corrigindo o que aconteceu durante a semana”. E acrescentou que “é necessário observar o que será feito com a reforma tributária e os precatórios para não furar o teto de gastos”.
O economista-chefe Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, comentou que a criação de vagas surpreendeu positivamente o mercado e destacou a revisão dos últimos dois meses de abertura de quase 120 mil vagas. “Questiono se de fato a redução dos estímulos será forte para algo ao redor de dos atuais 120/mês ou será apenas a metade; o peso do Jackson Hole dobrou”, enfatizou.
A sexta-feira foi marcada pela instabilidade desde o início da sessão, com o dólar comercial encerrando a R$ 5,2360, subindo 0,36%. Isso se deve ao anúncio de empregos criados nos Estados Unidos, que foi acima da expectativa, além dos já recorrentes problemas políticos e fiscais internos que preocupam o mercado.
Para o economista-chefe da Infinity Asset, Jason Vieira, “a questão fiscal preocupa mais do que a política, já que é cheia de incertezas”. Ele também ressalta quer a mudança de postura do ministro da Economia, Paulo Guedes, que passou a zelar menos pela austeridade fiscal, também preocupa o mercado.
“O aumento da taxa básica de juros (Selic) era para ter valorizado o real, mas os números do payroll, nos Estados Unidos, vieram muito fortes”, explica Vieira.
“Os dados de mercado nos Estados Unidos foram extremamente fortes, tendo um efeito global”, analisa o economista-chefe da Quantitas, Ivo Chermont. Além disso, rumores internos também contribuíram: “Começaram a surgir highlights, dizendo que a equipe econômica está pressionando temas como o Refis e Precatórios. Isso ajudou o real a performar na última hora perante seus pares emergentes como o peso mexicano e rublo (Rússia)”, contextualiza.
Já o economista da Messem Investimentos, Gustavo Bertotti, classifica o mercado desta sexta como “errático”: “A tensão política tem sido muito grande, principalmente com o teto dos gastos e a briga entre os Poderes. Se o cenário interno diminuir a pressão, temos condições de valorizar o real”, pontua.
A economia dos Estados Unidos criou 943 mil postos de trabalho em julho e a taxa de desemprego caiu para 5,4%, de 5,9% em junho. O número de vagas criadas ficou acima da projeção dos analistas, que esperavam abertura de 875,5 mil vagas. A taxa de desemprego veio abaixo da previsão, de 5,6%. Os dados foram divulgados pelo Departamento do Trabalho do país e as estimativas foram levantadas com analistas pela Agência CMA.
No âmbito político, o presidente do STF cancelou a reunião que pretendia fazer com o presidente Jair Bolsonaro e com os chefes do Legislativo, alegando que os ataques do presidente da República a integrantes da corte anulam o espaço para diálogo entre os Poderes.
Segundo o analista da Aware Investments, Aldo Filho, “qualquer ruído político é ruim para a imagem do País, e acaba tendo um impacto generalizado. Esse embate atrapalha a recuperação brasileira, fazendo com que a gente continue patinando”. Ele acrescentou que o dólar pode apresentar volatilidade durante o pregão.
As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) fecharam em leve queda depois de apresentarem volatilidade ao longo de todo o pregão. Depois de terem aberto em alta, as taxas passaram a oscilar entre os territórios positivo e negativo até se firmarem em queda na parte da tarde, com os investidores promovendo ajustes em suas posições depois da acentuada inclinação da curva a termo observada no decorrer das últimas semanas.
Com isso, o DI para janeiro de 2022 encerrou com taxa de 6,475%, de 6,485% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 8,155%, de 8,210; o DI para janeiro de 2025 ia a 9,05%, de 9,14% antes; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 9,40%, de 9,45%, na mesma comparação.
Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram o dia em alta, com o Dow Jones e o S&P 500 sendo catapultados para recordes pelo relatório de emprego de julho, que deu aos investidores uma medida do ritmo da recuperação econômica em um momento no qual existem preocupações com a variante Delta do coronavírus. A exceção foi o Nasdaq, que operou em baixa desde a abertura dos negócios.
Confira a variação e a pontuação dos índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:
Dow Jones: +0,41%, 35.208,51 pontos
Nasdaq Composto: -0,40%, 14.835,80 pontos
S&P 500: +0,16%, 4.436,52 pontos